As Amazonas II

As Amazonas II>> Outro cronista árabe do século XIII reproduz a narrativa de um embaixador mouro junto da corte imperial de Otão o Grande.

É fora de dúvida que esta embaixada foi buscar as suas informações nas mesmas fontes que Ibn Yacub, pois menciona da mesma forma a existência duma cidade de mulheres, embora precisando que esta se encontra situada numa ilha, o que exclui toda a hipótese de confusão com Magdeburgo.

As Amazonas II Kazuini

Com efeito, Kazuini – tal é o nome do cronista – afirma que “a cidade das mulheres é uma urbe muito grande com vasto território em volta e situada numa ilha do mar ocidental.

Os seus habitantes são mulheres que não obedecem a homem algum.

Montam à cavalo e combatem com grande bravura.

Têm também os seus escravos.

Cada um deles apresenta-se sucessivamente à sua arma, para passar a noite com ela.

Todavia, logo ao amanhecer, o escravo levanta-se volta discretamente para onde veio.

Se qualquer delas der à luz um rapaz, este é imediatamente morto; porém se é rapariga, deixam-na viver”.

As Amazonas II e os geógrafos árabes

É curioso verificar que são precisamente os geógrafos árabes da Idade Média que se interessaram pelas pretensas ilhas das amazonas do Norte da Europa.

Além dos dois cronistas já anteriormente mencionados, de certo modo especializados na história da Europa Central e Setentrional, Ibn-al-Bahlul, no século X, o célebre Edrisi, no século XII, e Ibn Said, no XIII, assinalaram igualmente a existência da famosa ilha das amazonas.

Desta forma, vemos as amazonas “européias” ou “quase européias”, essencialmente concentradas em duas regiões:

– no Sudeste, próximo do Ponto Euxino e no mar Egeu,

– e ainda no Norte, na região do Báltico.

Mas existem tradições muito semelhantes fora da Europa, em regiões que ignoram sempre os mitos da antiga Grécia.

Como como por exemplo, no Extremo Oriente, em toda a região ocidental do Pacífico, desde Sumatra até ao Japão.

As Amazonas II – O Livro das Maravilhas

No Livro das Maravilhas, obra árabe do século IX ou princípio do século X, lê-se a seguinte passagem:

“Nos limites do mar da China, existe uma ilha que se diz ser habitada apenas por mulheres.

O vento é que as fecunda e só dão à luz raparigas.

Afirma-se também que ficam igualmente grávidas quando comem os frutos de certa árvore.

Alimentam-se de ouro, que cresce nas hastes ocas de determinadas plantas parecidas com o bambu”
Não se trata aqui de uma narrativa fantasista, saída da imaginação dum cronista árabe, mas de uma autêntica tradição do Extremo Oriente que se espalhou pela China e pela Malásia.

As Amazonas II – Os Malaios

Os Malaios referem-se à uma ilha chamada Engano, situada perto de Sumatra e povoada por amazonas

Sem dúvidas, a mesma que Pigaffeta, companheiro de Fernão de Magalhães evoca nas suas crônicas.

Huui-Sem, budista chinês do princípio da Idade Média, assinala a existência de uma ilha de amazonas situada “a mil lis a leste de Fusang”.

Esta é uma terra do oceano Pacífico, sem duvida uma grande ilha japonesa.

Mil lis equivalem a cerca de quinhentos quilômetros, embora se trate apenas duma distancia aproximada, devendo interpretar-se esta expressão como querendo significar “muito longe a leste”

Por outras palavras, a ilha em questão está situada algures em pleno oceano Pacífico.

Os autores chineses que tiveram conhecimento de literaturas não asiáticas mencionam a existência das amazonas noutras regiões sem ser o Extremo Oriente.

As Amazonas II – Huang-Tsang

Huang-Tsang, um dos maiores viajantes chineses da idade Média, que durante dezesseis anos (629-645) percorreu a Ásia central até aos confins da índia, assinala mesmo uma ilha de amazonas nas águas européias, a sudeste de Bizâncio.

“Numa ilha a sudoestes do reino de Folin (Folin, quer dizer polis, que em grego significa cidade, neste caso a cidade por excelência, ou seja, Bizâncio) estende-se o império das mulheres do Ocidente.

Ali só se encontram mulheres e nem um único homem.

Neste país existem grande número de objetos raros e preciosos, que são vendidos no reino de Folin.

Em contrapartida, o rei de Folin manda-lhes todos os anos certo número de homens com os quais elas têm relações sexuais.

Todavia, se derem à luz crianças do sexo masculino, as leis do seu país proíbem-lhes de as educar.”

É impossível saber, mesmo aproximadamente, a que região alude a narrativa de Huang-Tsang.

Tratar-se-á de pura fábula ou teria o nosso viajante ouvido restos de alguma tradição grega?

As Amazonas II – A Ilha de Lemnos

A sudoeste de Bizâncio, existe de fato a ilha de Lemnos, onde os argonautas viram também as amazonas.

De fato, o problema subsiste, e por isso a narrativa de huang-Tsang constitui pura e simplesmente uma curiosidade.

Fora da Europa e da Ásia Menor, o oceano Índico é também uma região de amazonas.

Assim, algures entre a índia e a costa oriental da África, teria existido uma ilha habitada por amazonas.

O primeiro que a ela se referiu, e com mais pormenores que qualquer outro, foi Marco Polo.
Com efeito, na sua descrição do litoral indiano, o veneziano menciona, embora sem precisar, a existência do reino de Khesmakoran.

As Amazonas II – Sobre esse reino:

“Longe de Khesmakoran, perto de quinhentas milhas mais a sul, em pleno oceano, existem duas ilhas distantes entre si cerca de trinta milhas.

Numa delas apenas habitam homens e nenhuma mulher; chama-se a ilha dos Homens.

Na outra, há apenas mulheres e nenhum homem, tendo por isso o nome de ilha das Mulheres.

Os habitantes desta duas ilhas pertencem à mesma raça e são cristãos.

Os homens vão até à ilha das Mulheres e permanecem ali durante três meses – Março, Abril e Maio -, ficando cada homem com uma mulher numa casa própria.

A seguir regressam à ilha dos Homens, onde vivem o resto do ano sem mulheres.

Estas conservam os filhos até aos doze anos, mandando-os depois para junto dos pais.

Todavia, conservam as raparigas junto delas até à nubilidade, casando-as seguidamente com os homens da outra ilha.”

Frei Jorden, um missionário dominicano do século XIV que evangelizou o litoral indiano, evoca da mesma forma a ilha dos Homens e a das Mulheres.

Flavio Lins -seu novo canal no youtube https://www.youtube.com/marciamattos




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