Lua e o risco de regressão – Luminares III
Lua
“Luna, como já foi cabalmente mencionada, é o oposto do Sol, por isto é úmida, de luz fraca até a escuridão, feminina, corpórea, passiva….. De acordo com isso, seu papel mais importante, é ser parceira do Sol na conjunção. Como uma divindade feminina de brilho suave, ela é a amante.” C.G.jung, Mysterium Coniunctionis
Para o primitivo, só a Lua tinha a capacidade de gerar
Por analogia, entendiam esses povos, que a mulher é da mesma natureza que a Lua.
Seu ciclo menstrual tem a mesma duração do ciclo lunar.
A Lua era então a responsável pela vida, por gerar homens, animais e plantas.
A personalidade consciente do homem, sendo masculina, está sob a regência do logos – o Sol.
No inconsciente, entretanto, a Lua é rainha.
Portanto, ali rege sua alma, que a humanidade tem considerado como sendo feminina
É o reino da anima, onde a Lua é senhora e todo poderosa.
Como todos sabemos, a Lua em nosso mapa natal simboliza a mãe física, biológica, que nos gerou.
Porém, representa mais.
Como simbólica, representa todo o relacionado com a maternidade.
Representa ainda, a imagem interior que carregamos da mãe e da maternidade. Aquilo que é herdado pela humanidade e que é a imago materna.
Ela é contaminada pelas expectativas da totalidade do arquétipo no inconsciente coletivo.
Portanto, a Lua é o princípio de eros, o princípio feminino, que funciona tanto no homem como na mulher.
Contudo, na mulher, a sua personalidade consciente é que está sob a regência desse princípio
Com relação ao homem, não é seu consciente que está subordinado a ele, mas seu inconsciente.
No inconsciente do homem quem rege é eros.
O eros é um princípio espiritual ou psicológico, uma divindade.
Na natureza, esse princípio aparece como uma força cega, fecunda e cruel, criativa, acariciadora e destrutiva.
No entanto, também é o poder sombrio do feminino, onde está contido o ódio e o amor.
Esse princípio é simbolizado pela Lua, em contraposição ao princípio masculino, cujo símbolo é o Sol.
O mito da criação no Gênesis, afirma:
“Deus criou duas luzes, a luz maior para reger o dia, e a luz menor para reger a noite”.
Para esses antigos povos, a fase crescente da Lua representava o aspecto produtivo do poder celestial, e a fase minguante, por outro lado, os poderes da destruição e da morte.
Era a época em que as energias invocadas, eram as da destruição, as forças do submundo.
Ela está relacionada, ao contrário da sua fase crescente, ao reino da morte.
Era assim que esses homens que nos antecederam, sentiam-se.
Ainda hoje, inconscientemente, sentimos e agimos como o homem primitivo.
Porquanto estamos conectados inexoravelmente à ela, através do inconsciente.
A Lua é então, como já vimos, uma representação da Mãe, com todas as suas implicações de doadora da vida, e de acolhedora da morte.
Na Astrologia, podemos nos valer dessa analogia para evocarmos Câncer, o signo regido pela Lua em relação a Capricórnio, regido por Saturno, representando aí, a restrição e a interdição.
Casa 4 e casa 10, eixo parental, que na sua base inferior, relaciona-se à regressão, ao mundo lunar pessoal e regressivo. Incestuoso e que aprisiona e obsta o crescimento.
Em seu ápice, a casa 10, liberta das amarras lunares, a mãe passa a ser a cidade, como uma instância da pátria e do mundo, permitindo um acolher restritivo, com limites que são impostos através de normas e regras específicas, que nos aproximam cada vez mais do mundo do pai.
Assim, podemos observar com base no que foi exposto, que o mesmo símbolo que doa a vida, pode representar a regressão, a paralisação e a morte.
A Lua quando não se faz acompanhar do Sol, é apenas a ilusão da vida. Um pálido reflexo do que se poderia ser.
Devemos estar cientes de que um símbolo não é somente um indício ou um emblema, uma imagem escolhida ao acaso, mas algo muito mais significativo.
Assim, a nossa história, a história dos nossos ancestrais, está ligada à Lua.
Por outro lado, o cenário político, as reformas sociais, todo o futuro, está relacionado ao Sol.
A Lua está associada ao devaneio, enquanto que o Sol, com a capacidade de sonhar.
A Lua é interior e descendente: mundo das cavernas, das profundezas, tumbas, do submundo, do mar e da alma.
O Sol é o movimento ascendente, a subida vertical, a escada, o falo, o espírito.
Os valores individuais são prerrogativas solares e fazem parte da conquista do herói, e não do reino obscuro do feminino.
Na consciência matriarcal, não existe o valor da realização pessoal.
Por essa via, não chegamos à casa 10 ou Meio do Céu pois ficamos simplesmente, presos à casa 4 ou Fundo do Céu.
Entretanto, presos às prerrogativas lunares, seremos as eternas crianças, vivenciando a morte do indivíduo que deveríamos ser.
Elas dizem respeito ao aprisionamento da família, da infância, da segurança uterina.
Já Cristo disse: “ aquele que não abandonar mãe e pai, não entrará no Reino dos Céus “.
Por analogia, poderemos ler: “aquele que não for capaz de abandonar o Paraíso da Infância, não se tornará Homem.”
Ao ficarmos retidos no Paraíso lunar, cresceremos num estado de inflação característico da fase em que nascemos.
Essa é uma característica de uma época em que não existia ego ou consciência.
Tudo ainda se encontrava contido no inconsciente.
Entretanto, esse era um estado de harmonia, perfeição e unidade ilusórias que não nos transformava em indivíduos.
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