Um Despertar Possível

Um Despertar Possível

“Omnium rerum principia parva sunt” (Todas as coisas começam pequenas)
Marcus Tullius Cicero – “De Finibus Bonorum et Malorum” Book V, Chapter 58

Todo começo é pequeno. Pequenas coisas, irrelevantes na maior parte do tempo, podem crescer a tal ponto que se tornam inescapáveis para nossa admiração. Vivemos pouco atentos a isso.

Esperamos, planejamos, ambicionamos coisas grandes, imensuráveis. Não é de espantar que a maioria imagina a experiência do Despertar, o fundamento da prática contemplativa budista, como algo além da própria vida.

Uma experiência mística incomparável, algo tão grande que transcende até mesmo – e principalmente – as incertezas e falibilidades que assombram a natureza humana.

Não possuo todas as respostas. Certamente, não tenho méritos para saber de tudo. Neste momento, sofro tanto com minha falibilidade humana que a dor é quase insuportável.

Nunca pretendi fingir uma perfeição que não tenho. Mas tenho uma vida de experiências, sejam sofridas ou maravilhosas.

Uma vida dedicada ao caminho contemplativo, dedicada a compreender melhor a mim mesmo, apesar de meus erros.

Guardo na memória os gestos generosos de amigos e mestres, ações abnegadas feitas por simples amizade. E posso dizer isso: o Despertar começa pequeno, e jamais será maior do que a plena felicidade de uma mente livre e em paz.

Afinal, o que é ser desperto? Se esta condição tão maravilhosa é assim tão simples, por que tantos sofrem com a angústia de uma mente insatisfeita? Eis uma grande sabedoria: a mente egoísta não pensa pequeno. O superlativo é uma característica básica da mente insatisfeita.

A sensibilidade necessária para que possamos perceber as lições valiosas nos detalhes cotidianos habita apenas os corações suaves.

Assim, acordamos todos os dias planejando um mosaico ansioso de sucessos, alegrias, cujas partes somente podem ser agrupadas em um cenário de grandes realizações. Falta na grande maioria da humanidade a leitura poética da vida.

E assim, sofremos. Ideologias retumbantes são criadas, místicas deslumbrantes imaginadas, prazeres eternos sonhados, fama imortal desejada. E em meio a tantas paixões, o Despertar permanece distante.

A clareza das verdades universais ilumina o orvalho em uma manhã suave, o gesto de carinho, o sorriso sincero. O Nirvana habita a simplicidade bela de uma lágrima de tristeza ou alegria.

O despertar de sua consciência é muito mais possível do que você imagina.

Foto de Claudio Quevedo (Cores e Formas)




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Monge Komio

Mestre em Ciência das Artes, Artista Plástico, Escritor, Monge Zen Budista (Templo Daissen-ji / SC). https://www.facebook.com/zenniteroi/

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