As Fadas II
As Fadas II
José Carlos Leal
3. O Reino das Fadas
Tradicionalmente, as fadas vivem em um reino próprio: o reino das fadas.
Sua localização é, naturalmente mítica. Entretanto, houve época em que a possibilidade de localizá-lo geograficamente foi considerada.
Os habitantes do país de Gales, por exemplo, julgavam que ele ficava ao norte de suas terras montanhosas ou nas misteriosas rochas localizadas na parte ocidental de Pembrokeshire.
Mais tarde, deslocou-se o reino da fadas para uma ilha que fica no canal irlandês, fora das costas de Pembrokeshire.
Em muitas lendas, principalmente as dos povos marítimos, o reino das fadas fica localizado em ilhas flutuantes como a de São Brandão.
Muitos marinheiros juram ter visto tais lugares e, nessas ocasiões, descem de seus navios para alcançá-lo; mas elas desaparecem como que por encanto.
Conta-se também que os habitantes do reino das fadas poderiam viver entre nós como pessoas comuns. Muitas pessoas juravam tê-los visto frequentando os mercados da Alughorne e Milford Heven.
é, provavelmente, o mais famoso reino das fadas da literatura ocidental.
É descrito como um lugar maravilhoso onde vivem diversas fadas, dentre elas, destacando-se a figura impar de Morgana.
Morgana sobretudo, era a irmã do não menos lendário rei Arthur.
Avalon parece ser uma ilha situada em qualquer lugar no meio do oceano e, assim, guarda profundas afinidades com a ilha de Ogigia ou com o reino da Circe, citados por Homero na odisséia.
Segundo algumas versões, Avalon possui uma espécie de bruma que a envolve, escondendo-a dos olhos humanos.
Há, porém, outras versões que dizem ser Avalon uma ilha extremamente clara (Avalon a branca) mas que não se revela facilmente aos olhos profanos.
Avalon é muitas vezes confundida com a ilha de vidro ou de ar.
A referência a esses elementos, vidro, ar, etc., dizem respeito à necessidade de proteger esses lugares dos não iniciados.
Há inclusive a ideia de que lugares como esses são cercados por muralhas de fogo. Isso decerto, evita a aproximação daqueles que não são qualificados para entrar em contato com todos os centros de energia.
O nome Avalon, entretanto, pode ser explicado a partir do cimérico afal, palavra que significa maçã.
Assim sendo, Avalon significaria ilha das maçãs.
Essa versão lembra, na mitologia grega, a ilha das Hespérides ( ilha para além do oceano) onde havia um jardim no qual estava plantada uma árvore cujos pomos eram de ouro.
A conquista desses pomos consistiu-se em um dos trabalhos do famoso herói grego Hércules.
Conforme outra versão, a ilha de Avalon (ilha branca) nada mais seria do que a ilha de Apolo. Deus que, na língua dos celtas, é chamado de ablum ou belen.
Em conformidade com esse ponto de vista, Avalon seria uma espécie de terra solar ou reino de Apolo hiperbóreo.
Em uma coisa, contudo, todas as tradições parecem concordar: Avalon é uma terra paradisíaca.
Lá não há nem frios excessivos nem seca prolongada, reina sempre uma eterna primavera.
Nessa ilha tanto não se envelhece, como não se adoece, e nem mesmo se morre.
Todas as plantas crescem naturalmente sem a necessidade de se trabalhar a terra.Enquanto que as árvores exibem frutos maduros e saborosos.
O lugar preferido pelas fadas, entretanto, são os montes. A palavra galesa para fada é sidhe. Que significa povo das montanhas.
À noite, no montes das fadas são vistos, muitas vezes, luzes cintilantes.
Algumas vezes, nota-se sobre os montes uma procissão de fadas que se desloca de uma colina para outra.
Essas coisas acontecem tradicionalmente na noite de sete de agosto.
No topo dos montes das fadas, existe sempre um castelo, visível apenas aqueles a quem as fadas por razões especiais, permitem a visão.
Quando as fadas desejam ocultar-se, por mais que se olhe nada se verá sobre o monte.
Havia um palácio desses no topo do monte de Glastonbury-tor.
Conforme um antigo relato, esse castelo foi visitado por S. Collen. A visita se deu do seguinte modo:
S. Collen era um ermitão que havia construído o seu eremitério no pé do monte Glastonbury-tor.
Um dia, ele ouviu dois homens conversando sobre o rei das fadas que possuía um palácio ali por perto.
O santo pediu aos homens que continuassem com aquela conversa pois estavam falando sobre demônios.
Os homens ficaram muito amedrontados e o preveniram de que o rei das fadas tomaria as suas palavras por insulto e, em breve, o procuraria para tomar satisfações.
Não demorou muito e um estranho o visitou, pedindo que o acompanhasse até ao castelo do rei das fadas.
Por três vezes, S. Collen recusou o convite até que, em face da insistência do homem, resolveu partir com ele mas levou consigo, sob o hábito, um frasco de água benta.
Ao chegar ao cume do monte, o santo viu um magnífico castelo todo iluminado de onde vinham sons maviosos.
Entrou no castelo e, em seu interior, encontrou um opulento banquete, servido por jovens de rara beleza vestidas de vermelho e azul.
O rei das fadas ofereceu a S. Collen comida e bebida mas o santo eremita replicou: eu não comerei das folhas das árvores.
O rei, então, perguntou se ele não se admirava da cor da roupa de seus serviçais.
O monge, altivamente, respondeu que a cor vermelha lembrava-lhe as chamas eternas e o azul, o gelo pavoroso das regiões infernais.
Imediatamente, S. Collen atirou água benta sobre o rei e seus serviçais. As luzes se apagaram e a música maravilhosa que se ouvia por todo o palácio cessou por completo.
Tudo desapareceu: o rei, seus auxiliares e o próprio castelo.
S. Collen ficou sozinho sobre o monte onde só se ouvia o barulho dos ventos e nada mais.
Nesses montes, as fadas também costumam guardar tesouros.
Homens ambiciosos, escavando os montes onde existem fadas, são frequentemente perturbados por vozes estranhas, sons apavorantes e tempestades inesperadas.
Se essa advertências são ignoradas, a má sorte, a calamidade e até a morte poderão sobrevir contra o violador.
O reverendo F. Warner em sua ata de 1854, conta o caso de alguns homens que, ansiosos para encontrar um tesouro, foram cavar em um local chamado castelo Neroche em Somerset.
Antes que encontrassem uma única moeda, foram tomados por grande pânico e renunciaram a sua empreitada. Estes homens, depois de um mês, tiveram morte violenta, pagando com a vida a sua ousadia.
Não se pode ainda que por descuido, invadir um local eleito pelas fadas para sua moradia. Aquele que, por exemplo, sem o saber, construir sua casa em um terreno habitado por fadas, correrá o grande risco pois esses seres são capazes de mover as casas do lugar, derrubá-las e criar incríveis perturbações aos moradores incautos.
Os convites para se visitar o reino das fadas deve ser encarado com extremo cuidado, principalmente, com respeito à alimentação ali servidas. A comida e a bebida oferecida pelo povo encantado deve ser recusada pelo ser humano (lembremo-nos da recusa de S. Collen) porque aquele que fizer uso do alimento mágico, jamais deixará aquele lugar.
A ideia do alimento mágico aparece no mito grego de Hades e Perséphone.
Hades, o senhor dos mortos, raptou Perséphone, a filha de Deméter, e a levou para o mundo das sombras. Deméter, desesperada, procura a filha por toda a parte, mas inutilmente. Quando, por fim, encontra Perséphone no reino dos mortos, não pode mais resgatá-la pois esta já comeu sete bagos da romã do mundo subterrâneo, e, por isso, não poderá sair dali.
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