Os doze trabalhos de Héracles – uma visão astrológica IV
Os doze trabalhos de Héracles – uma visão astrológica IV
Héracles, nascido Alcides, havia cometido um crime horrível após ser arrebatado por Lyssa, a Raiva e matado sua esposa Mégara e seus três filhos.
O Oráculo de Delfos vaticina que ele deveria se colocar à disposição de seu primo Euristeu, rei de Micenas, por doze anos.
Neste período ele executa o que ficou conhecido como os doze trabalhos de Héracles para que pudesse se redimir de sua falha grave.
Vamos agora prosseguir em minha visão sobre a correspondência entre os trabalhos e os signos do Zodíaco, discorrendo sobre os próximos três signos.
7. Libra – O cinturão de Hipólita
Conquistou o Cinturão de Hipólita, rainha das Amazonas, que era desejado por Admetes, filha de Euristeu. O cinturão havia sido dado a Hipólita pelo deus Ares como prova de poder temporal que ela exercia sobre seu povo.
As Amazonas eram temíveis guerreiras que tinham este nome porque extirpavam um dos seios para melhor manejar o arco, tanto que a palavra amazona significa “sem seio”. Nenhum homem podia viver na comunidade amazona, mas uma vez por ano elas visitavam tribos vizinhas a fim de ter relações sexuais e engravidar.
As crianças do sexo masculino que nasciam destas relações enviadas de volta para os seus pais, enquanto s crianças do sexo feminino eram mantidas e criadas por suas mães, treinadas na caça e nas artes da guerra.
Héracles reuniu alguns guerreiros, entre os quais Teseu, e partiu para Temiscira, terra das Amazonas. Depois de mais uma longa jornada, quando seu navio chegou à foz do rio Thermodon o grupo desembarcou e a princípio as relações foram amistosas, deixando-os surpresos com a recepção calorosa das Amazonas.
Até mesmo Hipólita parecia estar encantada com os heróis. Hércules contou à rainha a razão daquela expedição e Hipólita ofereceu o cinturão como presente.
Porém, Hera, disfarçada de uma amazona, semeou a discórdia, dizendo que Héracles iria raptar Hipólita. Seguiu-se uma batalha que culminou com o herói matando a rainha, pois imaginou que ela o havia traído e assim acabou obtendo seu cinturão.
Em que pese o fato de as amazonas serem mulheres independentes e assumirem todo os papeis masculinos em suas vidas, o verdadeiro motivo da expedição é a conquista do cinturão de Hipólita.

Como peça que envolve a cintura, o cinto, separava o corpo em duas partes, a inferior, onde se alojam os órgãos genitais, sede dos instintos, da superior, onde se aloja o coração, sede das emoções.
O simbolismo do cinturão é muito rico. No momento do nascimento o cinto atado na altura do umbigo religa o indivíduo ao todo, assim como liga a pessoa a si mesma, em uma analogia com o cordão umbilical.
Os cinturões dão uma ideia de união, de poder, assim como de submissão, de dependência. Atados na altura dos rins, órgão relativo ao signo de Libra, eles podem trazer o medo, função de Saturno, ou a coragem, porque ali ficam as glândulas supra renais, a fonte da força e do entusiasmo, função de Marte.
Não custa lembrar que a regência de Libra está a cargo de Vênus, a deusa do Amor e da beleza, e o cinturão é um adereço. Saturno está em exaltação neste signo, sua máxima força enquanto Marte está em queda, onde ele se expressa mais debilmente.
Enquanto estava com Hipolita o cinturão tinha o poder castrador, pois através dele ela exercia seu poder. Entegue a Admeta, que se tornou uma sacerdotiza de Hera, o cinturão assume um papel de continencia, de repressão dos instintos, porque ela tinha que se manter casta.
8. Escorpião – A Hidra de Lerna
Matou a Hidra de Lerna, filha de Tiphon e Equidna, que vivia em um pântano próximo a fonte Amimone. Era uma serpente com corpo de dragão, que possuía nove cabeças, sendo a do meio imortal, que se regeneravam mal eram cortadas, e exalavam um vapor que matava quem estivesse por perto.
Héracles combateu-a atracando-se com ela e a arrastando para fora do pântano, que era coberto por uma densa neblina. Perdendo o contato com a água e exposta à luz, o monstro foi perdendo suas forças.
Então ele matou-a cortando suas cabeças enquanto seu sobrinho Iolau impedia sua reprodução queimando suas feridas com archotes. Quanto a cabeça imortal, Héracles cortou-a e a enterrou, colocando um enorme rochedo sobre ela.
Durante a luta, a deusa Hera enviou um enorme caranguejo para ajudar a serpente, mas Héracles matou-o com um pisão, então Zeus converteu-o na constelação de Câncer. Por fim, o herói banhou suas flechas com o sangue da serpente, que era extremamente venenoso.

O pântano é um local onde a água está parada, pútrida e sem vida, multiplicando-se ali vermes e animais peçonhentos. Pode ser considerado um símbolo de nossos vícios, daquilo que não conseguimos nos livrar, aquilo que não é purificado.
Enquanto a vaidade e o egoísmo não forem dominados, os vícios permanecerão. Herácles venceu a Hidra usando a espada e o archote, ou seja, cortando o mal e o purificando pelo fogo. Porém, existe uma cabeça que é imortal e ela está enterrada, recalcada e pode vir a nos afetar a qualquer momento.
O prefixo grego Hidra refere-se à água. O signo do elemento água que tem a modalidade fixa é Escorpião, numa perfeita analogia com o pântano. Quando o Sol o atravessa no Hemisfério Norte fica mais intensa a ação das forças outonais, com a queda das folhas e sua decomposição no solo.
O signo de Escorpião pode ser caracterizado com o signo da morte e do renascimento, assim como o da sexualidade. Sentimentos intensos e profundos são percebidos na estrutura psíquica de seus nativos, sendo que a confiança e a desconfiança também ali ocupam seu lugar.
Estas duas características, água e fixidez, traz aos nativos do signo paixões, ideias fixas, obsessões, recalques, rancores, que vão tomando corpo e o dominando, mobilizando-o na direção da satisfação dos seus desejos, principalmente através da sedução e vampirização da energia daqueles que estão a sua volta.

9. Sagitário – As aves do lago Estinfale
Matou centenas de aves do lago Estinfale, criaturas monstruosas que se alimentavam de carne humana, cujas asas, cabeça e bico eram de ferro. Elas utilizavam as penas das asas como dardos para atingir os transeuntes, além disto, devastavam os campos férteis.
Sua quantidade era espantosa, havia milhares delas, pois haviam se proliferado descontroladamente, tanto que sua revoada obscurecia a luz do Sol. O lago com suas águas plácidas estava se deteriorando devido aos dejetos das terríveis aves.
Para obrigá-las a sair de seus esconderijos na floresta utilizou címbalos de bronze, feitos por Hefestos e dados por Palas Atena, que produziam um ruído infernal. À medida que saiam voando, abateu-as om seu arco e suas flechas envenenadas.
As que ele não conseguiu matar fugiram para uma ilha no mar Negro, dedicada ao deus Ares, que as tinha criado e nunca mais voltaram.

As aves na mitologia grega sempre representam algo espiritual, com exceção das Harpias e das aves do lago Estinfale. As flechas também têm este símbolo devido ao voo que fazem antes de atingir o alvo.
O signo de Sagitário é representado por um ser meio cavalo, meio homem que empunha um arco municiado com uma flecha, simbolizando os três níveis do ser humano, sua parte animal e instintiva, sua parte humana intelectual e sua parte espiritual, aqui representada pela meta a ser atingida pela flecha.
Neste signo encontramos as figuras do guru, do mestre, do ensinamento superior, mental ou espiritual. É o ser humano superando sua parte animal, dando vazão a seus instintos emocionais e querendo superar a normalidade através de uma ligação com o sagrado.

No próximo artigo falaremos dos últimos três signos e suas relações com os desafios enfrentados por nosso herói.
Douglas Marnei
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