Brasileiro bonzinho, seu mito e sua sombra I

Brasileiro bonzinho, seu mito e sua sombra I

Desde que me entendo por gente, o que sempre escutei era o quanto somos um povo tanto pacífico quanto receptivo e amistoso. Enfim, um povo de braços abertos para os demais povos, assim como respeitoso com suas fronteiras.

Na realidade, esse discurso que pode ser facilmente desmontado, colou. Acabamos por acreditar nele.

Nos últimos tempos podemos ver com clareza de que isso não passava de uma máscara, a persona do povo brasileiro.

Me senti motivada a escrever sobre o tema pelos fatos mais recentes, por tudo que li ontem e pelos comentários dos¨brasileiros bonzinhos¨

Refleti muito sobre em que momento mudamos, assim como em que momento nossas máscaras começaram efetivamente a cair e ficamos com a cara exposta. A conclusão é de que de fato não mudamos, outrossim, caíram nossas máscaras.

Decerto isso não será tema para apenas um artigo, mas o início de uma série deles.

Não respeitando a cronologia dos fatos, decidi começar pelo dia de ontem.

Uma situação me tocou profundamente. Num grupo de bairros aonde morei num deles por muitos anos, uma colocação me chamou a atenção sobre as demais.

Trata-se de um grupo aonde dentre outros temas, as pessoas oferecem seus serviços. Normal, eles sempre são oferecidos. Grupo de bairros da Zona Sul do Rio de Janeiro, geralmente frequentado por pessoas de classe média média e média alta.

Geralmente, esses oferecem suas atividades fora do padrão a que estão acostumados, em função da enorme crise porque passa nosso país.

Existe tranquilidade nessas ofertas, todos se sentindo validados pelos privilégios que usufruíram desde o berço. Esse não era o caso da postagem de ontem de uma moça no grupo.

Constrangida, com erros de português que denotavam seu não pertencimento ao grupo que usualmente publica seus pedidos, assim como oferece seus serviços, ela começou com um pedido de desculpas.

Esse pedido de desculpas me calou fundo na alma.

Desde quando um pedido de trabalho honesto na luta pela sobrevivência é motivo de um pedido de desculpas? E mais: de fazer com que a pessoa em foco se sinta incomodando aos demais?

Sem dúvidas, é exatamente sua sensação de não pertencimento ao privilegiado povo que usualmente faz uso do grupo.

Sua postagem ignorada pela maioria, já que apenas 3 de nós mostramos empatia e solidariedade, eu colo abaixo:

¨Boa noite desculpa está encomendando alguém precisando de uma diarista faxineira faço todos tipos de limpeza janelas vidros armário ventilador azulejos fogão o que determina eu faço tenho referências estou disponível 24 horas vou a qualquer hora local e dia que precisa desde já agradeço a atenção que Deus os abençoe poderosamente ficam com Deus estou cobrando faxina 150 já incluindo a passagem passo roupa 100 mas passagem qualquer dúvida o meu telefone é ZAP e 996353125¨

Propositadamente deixei o número de contato dela no sentido de quem sabe…ajudá-la

Seu nome não é Maria, tampouco Raimunda ou Severina, mas seu caso representa a situação das inúmeras Marias, Raimundas e Severinas desse país.

Querer trabalhar virou vergonha. Optar pela dignidade virou motivo de vergonha, de constrangimento, e de sofrimento.

Nessa escassez de empregos formais e com a ¨deforma trabalhista¨, os brios de um povo vêm sendo roubados sistematicamente.

A perseguição de governos que não abrem campo de trabalho para esses desvalidos, e um povo que assiste indiferente às perseguições sofridas por ambulantes por serem adeptos da meritocracia por terem nascido em berços de ouro, obviamente constroem situações análogas a essa.

Senti vergonha não pelo pedido dela, mas pelas oportunidades que a vida me ofereceu antes de vir ao mundo.

Oportunidades involuntárias e não meritocratas. Elas me foram entregues na bandeja. Talvez essa moça tivesse sabido tirar melhor proveito delas, mas não as teve.

continua no próximo artigo…




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Claudia Araujo

Aquário com Gêmeos, sou muitas e uma só. Por amar criar com as mãos, sou designer de biojóias e mantenho o site terrabrasillis.com, assim como pinto aquarelas e outras ¨manualidades¨. Por não me entender sem a busca do mundo interno do outro, sou astróloga com 4 anos e meio de formação em psicologia analítica sob a supervisão de José Raimundo Gomes no CBPJ – ISER e já mantive por anos o site Meio do Céu. Nessa nova etapa mantenho o site grupomeiodoceu.com. Dou consultas astrológicas e promovo grupos de estudo de Jung e Astrologia, presenciais e online. São várias vidas vividas numa única existência, mas minha verdadeira história começa aos 36 anos, e o que vivi antes ou minha formação acadêmica anterior, já nem lembro, foi de outra Claudia que se encerrou em 1988. Só sei que uso cotidianamente aquilo em que me tornei, e busco sempre não passar de raspão pelo mapa astrológico do outro. Mergulhar é preciso, e ajudar o outro a se transformar, algo imprescindível. Só o verdadeiro autoconhecimento pode gerar transformação. Não existe mágica, e essa autotransformação não ocorre via profissional, mas apenas através do real interesse do cliente em buscar reconhecer como se manifesta em sua vida cotidiana e qual seu potencial para a transformação. Todos somos mais do que aquilo que vivenciamos. A busca deve passar sempre pelo reconhecimento daquele eu desconhecido que em nós mesmos habita. A Astrologia é um facilitador nessa busca porque nela estão contidos tanto nossos aspectos luz quanto sombra. Ela resolve nossos problemas? A resposta é não. Ela apenas orienta no sentido do reconhecimento de nossa totalidade. A busca é do cliente. A leitura é do astrólogo, mas só o cliente poderá encontrar o caminho de sua totalidade e crescimento responsável. websites : www.terrabrasillis.com e www.grupomeiodoceu.com Fale com Claudia direto no Whatsapp

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