Zhuangzi, o louva-deus e o limite da natureza humana
Zhuangzi, o louva-a-deus e o limite da natureza humana
Zhuangzi é um dos mestres mais importantes do Daoísmo
Um dos mestres mais importantes do Daoísmo é Zhuangzi, que viveu no século IV a. C. Para falar sobre o Dào, ZhuangZi em seus escritos utilizava-se de parábolas e de uma fina ironia. Com esse recurso, ele deixava seus leitores curiosos, ávidos por lerem suas estórias. Contudo,
na maioria das vezes, muitos não entendiam o que ele queria expressar. Isso acontecia porque ele escrevia sobre a natureza humana e mostrava seus limites. Além disso, ele discorria sobre a dificuldade do homem de se posicionar diante da natureza celestial.
Em um dos seus contos ele discorre sobre a impossibilidade da natureza humana diante da grande roda do Destino
Zhuang Zi tem um conto muito conhecido que fala sobre a vida de um louva-a-deus pequenino e valente. O tempo todo ele lutava com os outros louva-deus e caçava todos os insetos que por ventura passassem em sua frente. Decerto, ele se considerava onipotente e poderoso. Porém, um belo dia, ele estava na beira da estrada e viu passar uma grande carroça com rodas de madeira, que lhe chamou a atenção.
O louva-a-deus se incomodou com a onipresença e a onipotência da roda
A carroça tinha rodas grandes e pesadas que ao se movimentarem deixavam profundas marcas no chão. Nesse momento, o louva-deus pensou consigo mesmo: “Quem é essa grande roda que se atreve a deixar marcas no chão! Eu, que sou o mais poderoso desse território, vou impedir a passagem dessa roda de agora em diante!”. Outro louva-deus disse-lhe: “deixa isso pra lá, não vai lá, a roda é muito forte”. Em vão, todos os outros bichinhos lhe aconselharam a não fazer isto. Mas o louva-deus estava irredutível: “Não, eu sou todo poderoso! Eu vou parar essa roda de qualquer maneira!”.
Ele resolveu enfrentá-la mas imediatamente foi esmagado pelo seu peso
Assim, o louva-deus se colocou no meio da estrada e lá ficou esperando pela grande roda que passou e, como era de se esperar, ao passar, esmagou o pobre inseto. Entretanto, mesmo após de tê-lo esmagado, a roda da carroça não tomou conhecimento da sua existência, continuando sua trajetória, deixando suas marcas na estrada.
A natureza humana é frágil diante da roda do destino
A roda da carroça que esmagou o louva-deus representa a roda do Destino. A roda do Destino é a grande lei do universo ao passo que a ignorância do homem é simbolizada pelo gesto heróico do gafanhoto de se jogar na frente da roda carroça e ser esmagado, achando que poderia contrariar ou reverter o processo da natureza.
Essa grande roda é formada pelo movimento da energia do Céu e da Terra e expressa o movimento da totalidade. Por isso, não há como o louva-deus (o homem), que é um pequeno membro dessa grande totalidade – e que na verdade está dentro dessa roda – querer impedir o seu movimento. É impossível lutar contra a verdadeira natureza.
O homem está preso a Lei que rege o Céu e a Terra
O Daoísmo diz que os dez mil seres (todos os seres) fazem parte dessa grande roda. O Céu e a Terra formam a Lei que proporciona a ordem de todas as coisas. A tentativa de possuir, de alterar ou interferir nessa Lei é como se fosse uma pessoa com pouquíssima força e ousasse enfrentar a grande roda do destino, a grande roda do universo, que certamente é impossível de ser alterada. Isso representa repetir a atitude do louva-a-deus diante da roda da carroça.
Não há possibilidade de impedir o prosseguimento da roda do Destino
Portanto não existe como alterar ou impedir o prosseguimento da roda do Destino porque simplesmente fazemos parte dela. O que precisamos é ter consciência que a nossa existência está contida nessa grande roda.
Dessa maneira, o Daoísmo diz que o homem deve contemplar e tentar compreender o chamado Caminho do Céu para poder assimilar a lei do universo e assim caminhar na sua vida de acordo com ela. Ele deve agir de acordo com a grande roda do Destino e com grande lei da natureza.
Nesse momento, se o homem continuar contemplando e procurando agir em concordância com o Caminho do Céu, ele irá perceber que esse é um caminho infinito. Ademais, esse caminho celestial tem uma duração maior do que o caminho do homem, que é curto e feito de muitos pensamentos. Como nós sabemos, o homem não vive mais do que cem anos ao passo que o tempo de vida das montanhas e rios pode se prolongar por centenas de anos. Seguir o Caminho do Céu é retornar ao Dào.
Crédito da imagem: Renate Gellings-Reese/Pixabay
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