OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES SOB O ENFOQUE DA PSICOLOGIA ANALÍTICA

OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES>> Do ponto de vista psicológico, os distúrbios alimentares, seja a obesidade, como a anorexia ou a bulimia, representam uma tentativa de solução ou disfarce ou solução de conflitos internos.
Além de não ter os conflitos resolvidos, acaba-se por criar mais problemas relativos ao aumento ou perda excessiva de peso: tanto o efeito “sanfona”, quanto aumento da auto-imagem negativa, e assim por diante.

O alimento está associado a carinho, a cessação de um desconforto desde a primeira mamada de um bebê

Por isso, os distúrbios alimentares apresentam bases psicológicas que denotam conflitos afetivos associados à busca por alguma coisa.
Por exemplo: por um afeto inatingível, pelo preenchimento de um “vazio” interior, de um “buraco”, por segurança, por autoconfiança, aspectos que levam às sensações primárias de contato com a figura da mãe, na verdade da mãe boa, aquela que alimenta, que nutre, que acolhe e protege.
Assim sendo, as gratificações são deslocadas para o alimento.

OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES

Outras vezes, o alimento está associado aos sentimentos e emoções carregadas de conteúdos negativos.
Tais como culpa, remorso, raivas, ódios, frustrações e depressões.
Assim sendo, nesses estados a pessoa usa o alimento para compensar tais desafetos, isto por não se sentir à vontade em expressá-los, e, acaba usando seu corpo como instrumento de sua própria vingança.

Mas observa-se na prática clínica, o quanto os distúrbios alimentares podem estar associados a negação da sexualidade

Portanto, nas mulheres isso sugere até um desejo em se parecer homem – tanto a obesidade como a magreza suprimem as formas mais femininas – assim afastando, é claro que apenas ilusoriamente, a possível abordagem de um homem.

Levantando-se uma muralha adiposa parece levar a mulher a reforçar-se externamente, que pode indicar uma forte necessidade de poder e controle

Parece valer a ideia de que ser grande é ser forte.

OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES

Um aspecto muito observado nos distúrbios alimentares é a repetição constante do padrão engorda-emagrece, ou não comer-comer ou o comer-vomitar.
Esta repetição constante sugere que a aparente solução de um problema (solução para o distúrbio alimentar) traz em si o surgimento de outros conflitos que estavam encobertos, e, como são mais profundos e difíceis de “digerir” levam de volta aos velhos padrões de problema com os alimentos.
As pessoas portadoras de distúrbios alimentares costumam utilizar alguns estereótipos muito comuns, tais como: “não sou amada (ou não tenho amigos, ou não consigo emprego, ou não saio, e assim por diante) porque sou gorda (ou magra)”.

Isto caracteriza, claramente, que os distúrbios alimentares simbolizam uma intensa dificuldade no viver a vida

Há, portanto, uma negação da vida, como uma grande dificuldade em crescer, em ultrapassar a divisa entre ao ser criança e o adolescer.

OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES

Como se sabe, a psicologia junguiana utiliza-se de mitos e contos de fada para abordar a problemática psicológica pois os mitos e contos apresentam modelos arquetípicos de conflitos humanos e, muitas vezes, enfocam suas soluções.
Um mesmo mito ou conto de fadas pode ser utilizado para demonstrar conflitos e soluções diferentes, dependendo da ótica utilizada.
Um analista experiente saberá fazer uso de um mesmo mito para queixas diferenciadas.

Na mitologia grega encontra-se a história de Dafne para ilustrar o distúrbio da obesidade

Dafne era uma ninfa que foi objeto de intenso interesse por parte de Apolo.
Quando ele tentou aproximar-se dela, ela continuou caminhando como se nada estivesse acontecendo, nem ao menos lhe dirigiu um olhar.
Ele tenta falar com ela, mas ela não lhe dá ouvidos e decide fugir, correndo sem parar.
Quando chega perto do rio Peneu (que é seu pai) lhe implora que retire dela toda beleza.
Então, ele a transforma num loureiro.
Apolo, então a arranca do chão e a coloca em seu jardim e transforma suas folhas em sua coroa.

OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES

Observa-se nessa transformação numa forma não humana da qual é retirada a sexualidade e, consequentemente, ela poderá evitar a transformação de menina à mulher.
A transformação em árvore simboliza a armadura, a defesa que uma jovem mulher constrói para não entrar em contato com a sua feminilidade, sexualidade e afetividade, ou seja, aspectos profundos de sua psique.
Dafne, portanto, não é uma heroína, ou seja, não consegue fazer uma escolha consciente, visto que ela dá as costas a Apolo (que representa o animus, a consciência solar, a discriminação) e assim se mantém indiferenciada e eternamente cativa daquele que rejeitou.

Este mito retrata que a ferida no feminino foi causada por uma conturbada relação mãe-filha pois Dafne busca ajuda do pai.

Têm-se mitos que falam da ferida causada pelo pai

OS DISTÚRBIOS ALIMENTARES

Já o mito da Medusa pode ser utilizado nos casos de anorexia.
Medusa após um confronto com Atená por questões de beleza perdeu e foi transformada numa Górgona.
Quem olhasse para ela era transformado em pedra.
Perseu, instruído por Atená, foi quem a matou depois, usando seu escudo como espelho.
Ela se transformou em pedra.
Uma forma não humana que não necessita de alimento.
É a recusa máxima do viver, do relacionar-se, afugentando a todos que se aproximam.

Este é um pequeno trabalho, uma semente e portanto não esgota o assunto e pode, quem sabe, incitar novas associações a outros mitos.

Referencia Bibliográfica:

BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Vol. I e II. Petrópolis, Vozes, 1997.

ANYARA MENEZES LASHERAS



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