Essenismo e Gnosticismo

Essenismo e Gnosticismo

I – A dispersão do judeus em diversos grupos:

Entre os séculos I antes de Cristo e os primeiros séculos posteriores ao seu nascimento. Inegavelmente diversos agrupamentos surgiram oriundos das massas populares no Oriente. E dentre esses os zelotes, sicários, nazarenos, batistas, levitas e outros que nasciam por força de suas aspirações religiosas. Os essênios eram um desses grupos.

Eles se constituíam em pequenos grupos de judeus que abandonaram as cidades e foram viver às margens do Mar Morto. Mas cujas colônias se estendiam até o Vale do Nilo.

Segundo Hoeller, os essênios se constituíam em um judaísmo pré-cristão de caráter gnóstico. Estavam no Egito-Alexandria, em toda a Judéia, atingindo Roma e a Ásia menor. Esse grupo conservava a tradição dos profetas e o segredo de sua Pura Doutrina. Eram um povo pacífico dedicado aos estudos espiritualistas, assim como à contemplação e à caridade. Sua máxima de vida era tudo suportar desde que não violassem os preceitos religiosos. Era um povo aberto e receptivo aos necessitados e desamparados, viviam em comunidade e partilhavam seus bens.

Assim, ninguém possuía uma casa que não fosse em comum, bem como vestes e alimentos. Não aceitavam o trabalho escravo pois entendiam que todos os homens eram iguais perante o Uno. A comunidade era constituída então por homens livres que trabalhavam, vivendo do que produziam.

II – Os conhecimentos essênios:

Eles também conheciam o segredo das ervas, exerciam a astrologia e a medicina ocultista. Todos trabalhavam na própria comunidade, tanto para si como nas tarefas comuns. E decerto sempre desempenhando atividades profissionais que não envolvessem a destruição ou a violência.

Trabalhavam sem a preocupação de acúmulo de bens. O objetivo era trabalhar para garantir a subsistência e ajudar ao próximo. Para ser um essênio o pretendente era preparado desde jovem na vida da comunidade.

Dividiam-se em dois tipos: os que levavam vida monástica e que viviam junto ao Mar Morto, e os que viviam dispersos por toda a Palestina, Ásia e Alexandria, em grupos.

Contudo, o saber mais profundo tanto de um grupo como de outro, era vedado a maioria das pessoas. Em sua tarefa assistencial, foram os fundadores do que foi denominado de Beth-saida e que antecipava em séculos os hospitais. Ali, eles tinham a tarefa de cuidar dos doentes e dos desabrigados em épocas de epidemia e de fome.

III – Simplicidade, caridade e o Messias:

Cuidavam também dos velhos e dos doentes como se fossem seus filhos e pais na terra. Outros, nas artes ou nessas tarefas assistenciais, desprezavam a lógica e as palavras complicadas. E das ciências, apenas se interessavam pela física e pela astronomia porque essas ensinavam sobre a existência de Deus e do Universo. Ademais, seus conhecimentos eram passados através de exemplos e vivências, jamais embasados em produções intelectuais.

Preferiam conquanto viver afastados das cidades, por entenderem que nelas não havia suficiente respeito pelos semelhantes.

Preparavam a vinda do Messias, mas foram pouco conhecidos até o encontro dos documentos de
QUNRAM, no Mar Morto. As ruínas de cinco mosteiros no deserto da Judéia são o marco de sua existência no passado distante. Além de outros mosteiros dispersos por diversas regiões na Samaria e Galiléia. Fílon de Alexandria dizia que os Essênios eram como santos que habitam as muitas aldeias e vilas da Palestina.

Não se uniam por clã familiar ou por raça, mas sim por meio de associações voluntárias. E estas formadas com intuito de melhor praticar a virtude e o amor entre as criaturas humanas. Os que entrassem para a comunidade se comprometiam a não prejudicar ninguém.

Embora descendentes dos hebreus, desligaram-se das festas tradicionais do judaísmo, como a da Páscoa, dos tabernáculos e outras mais. Pois transformaram a sua vida em vivência litúrgica e não se detinham em inutilidades.

Viviam numa simplicidade muito rara entre as
pessoas. Antes dos manuscritos do Mar Morto serem encontrados, dizia-se que todo o povo judeu aguardava o Messias. No entanto, após as revelações dos manuscritos, soube-se que foi entre os judeus Essênios que, pela primeira vez, se ouvira falar na sua vinda. Na década de 40, dois beduínos (pastores de cabras) descobriram por acaso a primeira gruta de Qumrân, no deserto localizado à beira do Mar Morto. Foram encontrados fragmentos e rolos de papiro aos quais pouco valor foi dado.

IV – Os manuscritos:

Mas para logo depois se perceber a grandiosidade desta descoberta. A partir de então, outras grutas foram sendo encontradas, contendo muito material em grande parte identificado como sendo do Antigo Testamento. Outros documentos também faziam parte das descobertas, como a Regra da Comunidade que ali viveu.

Quanto às datas dos textos originais, os estudiosos divergem. Alguns não poderiam ser posteriores a 120 ou 150 DC. Pois Irineu, o bispo ortodoxo de Lyon, escrevendo por volta de 180 DC, declarou que “os hereges dizem possuir mais evangelhos do que realmente existem “. E lastima que nessa época esses escritos tivessem atingido grande circulação – da Gália até Roma, e da Grécia até a Ásia Menor.

O pesquisador Quispel e seus colaboradores sugerem que os originais sejam datados por volta do ano 140 DC. Já o prof. Helmut Koester, sugeriu que uma das coletâneas, a do Evangelho de Tomé, talvez inclua algumas tradições ainda mais antigas que os evangelhos do Novo Testamento. Sendo, portanto, contemporâneas ou anteriores a Marcos, Mateus, Lucas e João.

Decerto em 1945-1946, dentre os vários manuscritos encontrados nas proximidades de Nag-Hammadi, surge um volume contendo o Evangelho de Tomé. Não é propriamente um evangelho destinado a apresentar em seqüência natural. Ou seja, a vida e os ensinamentos de Cristo, mas um grupo ou antologia de 114 ditos atribuídos a Jesus.

V – A vida mística de Cristo:

Tanto assim que ficou também conhecido pelo nome de ditos de Jesus&quot. Nesse Evangelho entra-se em contato com a vida mística de Jesus e o aspecto interior de sua passagem pela terra. Um dos mais eminentes pesquisadores foi exatamente o professor Quispel, um historiador da religião que ao examinar a primeira linha de um texto se mostrou incrédulo com o que leu. Essas são as palavras secretas que Jesus, o Vivo, proferiu, e que o seu gêmeo Judas Tomé, anotou. O texto continha o Evangelho Segundo Tomé. Que ao contrário do Novo Testamento, se apresentava como Quispel viu.

De modo que o texto continha muitos ensinamentos presentes também no Novo Testamento. Mas com esses mesmos dizeres colocados em contextos pouco familiares, sugeriam outras dimensões de significados. E  significados esses que não se inseriam no contexto da ortodoxia cristã.

Verificou, ainda, que algumas passagens diferiam totalmente de qualquer tradição cristã conhecida. Jesus disse: Se manifestarem aquilo que têm em si, isso que manifestarem os salvará. Se não manifestarem o que têm em si, isso que não manifestarem os destruirá.

Encadernado no mesmo volume do Evangelho de Tomé estava o Evangelho de Filipe. Essas
extraordinárias descobertas revolucionaram o mundo cristão e fizeram com que os essênios fossem conhecidos dentre nós. Hoje, os escritos originais da comunidade Essênia, contendo as suas leis, cânticos, hábitos e normas de vida, comprovam o que sempre foi posto em dúvida. E que mereceu pouco crédito por parte de cientistas e religiosos: a provável origem essênia de Jesus.

Além do caráter essencialmente interior de seus ensinamentos, cujo teor só poderia ser absorvido corretamente através da prática da gnose.



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material originário do antigo site Meio do Céu - Claudia Araujo, hoje denominado Grupo Meio do Céu - Claudia Araujo e composto por diversos novos colunistas. Essa é uma maneira de preservar o material do antigo site, assim como homenagear aqueles que não mais escrevem no site e/ou não mais estão entre nós nesse plano da existência. Claudia Araujo

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