Peixes, o fim de um ciclo

Peixes, o fim de um ciclo

…Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou…

Fernando Pessoa em Não sei quantas almas tenho

Sol em Peixes, último signo do Zodíaco, nos inspira a tecermos algumas considerações.

Como último signo da mandala astrológica, é nele que o Sol emite seus últimos raios antes que um novo ciclo comece ou renasça.

O verbo renascer nos remete imediatamente à ideia de morte e do eterno ciclo de mortes e renascimentos.

Decerto, para que algo renasça é necessário que algo morra; e é em Peixes que a morte de um ciclo se efetiva.

Pessoalmente, considero que todos os signos regidos por planetas transpessoais, dois deles de água (Escorpião e Peixes) e outro de ar (Aquário) são signos difíceis. Tanto para a vida mundana quanto para a pessoal.

Como se eles não servissem exatamente para esse fim.

Portanto, é nesse aspecto que os nativos desses signos encontram suas maiores dificuldades.

Sempre me fica a impressão de que a missão que cabe a esses nativos vai além do corriqueiro dia a dia.

Assim sendo, ela é mais voltada para situações que transcendem à vida cotidiana, só que aí vivemos um dilema.

Dilema esse porque assim como os demais signos, e tenhamos nascido em qualquer um dos 12 signos, de maneira idêntica, somos seres mortais.

Por exemplo, como todos os demais, temos nossas lutas e anseios semelhantes.

Em Peixes, especialmente, acho que a coisa se complica um pouco mais.

Encerrando um ciclo é nesse signo que algo precisa efetivamente morrer para que o renascimento se processe.

O condenado nesse caso é nada mais nada menos que o próprio ego, algo tão valorizado pelo ser humano, e tão difícil de se abrir mão.

O mundo real aprisiona e impõe limites, e por isso, se transforma num grande desafio para os nativos desse signo cujo destino é a solvência.

Além do fato de que a tarefa final é a morte e a dissolução.

Netuno, seu planeta regente é um solvente que na alquimia está relacionado à operação da solutio.

Essa operação é representada nas figuras alquímicas pela morte por afogamento do rei e da rainha.

Ambos são retratados azulados, inchados pelas águas das emoções que lhes engolfaram.

Essa morte por afogamento é mais do que necessária para que possam renascer ao fim do processo, não mais misturados, desidentificados, mas como personalidades autônomas.

Na operação alquímica da solutio, a prima matéria é colocada dentro de um alambique repleto de água até se dissolver. Nada mais pisciano do que isso.

Nesse alambique ela perde a definição e o limite de suas formas tornando-se fluida.

Isso nos remete ao fato de que a perda das referências do ego é um pressuposto básico para que ela se processe de forma satisfatória.

É necessário uma espécie de redenção para que possa renascer.

O ego racional precisa ser dissolvido para que se integre ao TODO.

A identidade inicial dissolvida, se deixando inundar pelo mar do inconsciente coletivo diante do qual só resta a entrega e a rendição.

A separação entre o eu e o todo é mesmo desafiadora para Peixes pois lhe é bem mais confortável a vida nessa espécie de torpor e não diferenciação para não ter que enfrentar os desafios que o mundo nos impõe.

A tentativa de precipitar-se nessa integração com o todo acaba sendo sua rota de fuga.

Dentre as pessoas com ênfase no signo ou no seu planeta regente, encontramos muitos viciados em drogas ou em álcool, assim como fanáticos místicos que buscam exatamente essa eterna solutio capaz de remeter-lhes à matrix, às suas origens, ao mar uterino, onde a identidade morre e permanece aprisionada no útero até sua posterior expulsão.

Só que quando falamos em expulsão do útero, já não estamos mais falando de Peixes, mas de Áries.

Áries é o início do próximo ciclo.

O signo que dá adeus ao Paraíso e se apressa a entrar em contato com o mundo que se encontra à sua frente para que seja desbravado.

Não há mais tempo a perder, nem útero materno para lhe acolher.

É o fim da ouroboros para que o novo ciclo possa ser restabelecido e a roda da vida gire uma vez mais.




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Claudia Araujo

Aquário com Gêmeos, sou muitas e uma só. Por amar criar com as mãos, sou designer de biojóias e mantenho o site terrabrasillis.com, assim como pinto aquarelas e outras ¨manualidades¨. Por não me entender sem a busca do mundo interno do outro, sou astróloga com 4 anos e meio de formação em psicologia analítica sob a supervisão de José Raimundo Gomes no CBPJ – ISER e já mantive por anos o site Meio do Céu. Nessa nova etapa mantenho o site grupomeiodoceu.com. Dou consultas astrológicas e promovo grupos de estudo de Jung e Astrologia, presenciais e online. São várias vidas vividas numa única existência, mas minha verdadeira história começa aos 36 anos, e o que vivi antes ou minha formação acadêmica anterior, já nem lembro, foi de outra Claudia que se encerrou em 1988. Só sei que uso cotidianamente aquilo em que me tornei, e busco sempre não passar de raspão pelo mapa astrológico do outro. Mergulhar é preciso, e ajudar o outro a se transformar, algo imprescindível. Só o verdadeiro autoconhecimento pode gerar transformação. Não existe mágica, e essa autotransformação não ocorre via profissional, mas apenas através do real interesse do cliente em buscar reconhecer como se manifesta em sua vida cotidiana e qual seu potencial para a transformação. Todos somos mais do que aquilo que vivenciamos. A busca deve passar sempre pelo reconhecimento daquele eu desconhecido que em nós mesmos habita. A Astrologia é um facilitador nessa busca porque nela estão contidos tanto nossos aspectos luz quanto sombra. Ela resolve nossos problemas? A resposta é não. Ela apenas orienta no sentido do reconhecimento de nossa totalidade. A busca é do cliente. A leitura é do astrólogo, mas só o cliente poderá encontrar o caminho de sua totalidade e crescimento responsável. websites : www.terrabrasillis.com e www.grupomeiodoceu.com Fale com Claudia direto no Whatsapp

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