Moçambique o retrato da agonia da África
Moçambique o retrato da agonia da África
A África mantém-se como um continente desconhecido!
Principalmente para a maioria da população brasileira, seja ela docente ou discente.
As escolas, tanto de ensino infantil, quanto fundamental, médio e universitário (para não dizer superior), no geral, não abordam o passado africano.
Muito embora, esse passado esteja tão presente no cotidiano nacional. Seja através das palavras faladas, da cultura, das religiões, das instituições, da economia etc.
As próprias elites do continente, juntamente com o Ocidente e agora a China, continuam a tornar os africanos cada vez mais pobres graças à extração de matérias-primas.
O reinvestimento é desprezível.
Bem como os preços, royalties e impostos pagos são inadequados para compensar a drenagem da riqueza natural da África.
Campanhas ante extração por parte da sociedade (in)civil são a única esperança para uma reversão destas relações neocoloniais.
Embora seja fácil provar, utilizando até o principal estudo do Banco Mundial da economia dos recursos naturais, aparentemente a alegação de saqueio é controversa.
Eu a fiz durante uma entrevista à Canadian Broadcasting Corporation (CBC) na semana passada.
O economista chefe do Banco Mundial para a África, Shanta Devarajan, imediatamente contraditou-me.
Afirmou (duas vezes) que não tenho o domínio dos “factos”.
As nações europeias disputavam territórios em busca da ampliação de sua presença em África.
Contudo, para resolver esta rivalidade uma convenção feita nos anos de 1884 e 1885, a chamada Conferência de Berlim.
Foi nesta conferência que aconteceu, então, a Partilha da África entre as nações europeias.
Entre as mais beneficiadas, que ficaram com a maior parte do território, estão Inglaterra e França.
Eis como foi:
Patrick Bond: A África sofre neocolonialismo e isto significa que a tendência básica de exportar matérias-primas, produtos agrícolas, minerais, petróleo, ficou pior. E isto realmente deixou a África mais pobre por pessoa em grande parte do continente do que no momento da independência. A ideia de que há crescimento firme em África é muito enganosa e representa realmente o abuso de conceitos econômicos por parte de políticos, de economistas, que excluem a sociedade e o ambiente. E é sobretudo um mito, porque, na realidade, com a extração de recursos não renováveis eles nunca estarão disponíveis para gerações futuras. E há muito pouco reinvestimento e muito pouca ampliação da economia para um projeto industrial ou mesmo uma economia de serviços.
Moçambique atualmente um dos países mais pobres e menos desenvolvidos do mundo. O retrato deste saque travestida de descoberta.
Pois te pergunto onde está o desenvolvimento? Ninguém sabe ninguém, viu…
Segundo dados da UNICEF (2010), em 2008/2009, de 21,5 milhões de pessoas em Moçambique, 55% da população vivem abaixo da linha de pobreza com cerca de meio dólar americano por dia.
Segundo dados dos indicadores de desenvolvimento mundiais de 2010, a expectativa de vida ao nascer é de aproximadamente 50 anos.
A mortalidade de menores de cinco anos em Moçambique é a 16ª maior do mundo.
Em Moçambique a malária é a principal causa de problemas de saúde e, por consequência, também a causa de morte.
Constatou-se que 57% das admissões em enfermarias de pediatria se deviam à Malária.
Todavia, o acesso aos cuidados em saúde é muito baixo no país.
Estima-se que cerca de 50% da população vive a mais de vinte quilômetros da unidade de saúde mais próxima.
A escala de perdas econômicas no país em decorrência da malária não está bem definida.
Porém prejudica a saúde e bem-estar de famílias.
Com isso, colocando em risco a sobrevivência de crianças e debilitando a saúde da população.
Além disso, segundo dados da UNICEF (2010), uma em cada duas crianças moçambicanas sofre de desnutrição crônica.
Sendo assim, a doença é responsável por 15% da mortalidade infantil.
Em relação à saúde das crianças, condições que explicam tanto a desnutrição quanto as múltiplas infecções se relacionam ao desmame precoce.
Somente cerca de 30% das crianças recebem aleitamento materno exclusivo até seis meses de idade.
Inegavelmente, o acesso pobre a água potável e condições de saneamento básico, aliadas ao baixo nível de educação materna, contribuem para a pobre saúde e nutrição infantil.
Estima-se existirem 1,8 milhões de órfãos em Moçambique, dos quais 510.000 devido à AIDS.
Apesar dos esforços do Ministério da Saúde de Moçambique, a situação da AIDS no país é extremamente séria.
Cerca de 20% da população é portadora do vírus.
Indicadores Básicos de Saúde em Moçambique:
População negra: 95%
População de 0-14 anos: 36,1%
População de 15-59 anos: 60,3%
População com mais de 60 anos: 3,6%
Acesso à eletricidade: 14% da população (Ministério de Energia, 2010).
Apesar de possuir enormes recursos hídricos, ainda possui baixa cobertura de abastecimento de água potável (43,9%) sendo que a maioria da população rural ainda consome água inadequada.
62,4% sem acesso a serviços de saúde (o país ocupa a posição 183 entre 191 países analisados quanto à densidade de médicos)
Rede de esgoto e fossa séptica: 3,7% (ALBERTO, 2010)
Taxa de alfabetização é de 47,8%
Desemprego: quase um quarto da população está desempregada
O século XIX foi marcado pela colonização europeia e a Inglaterra foi uma das nações que mais explorou os territórios africanos. Somente no século XX o processo de descolonização da África acontece. Das colônias inglesas a primeira a conquistar sua independência é a África do Sul, em 1910 e a última o Zimbábue em 1980.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
Pesquisadora-Historiadora-Comissão estadual da verdade da escravidão negra – CTSPN/UNEGRO/Coordenadora do grupo de pesquisa do Instituto Perola Negra
fonte MACEDO, José Rivair. História da África/
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