Dramaturgia negra

Dramaturgia negra

Dramaturgia é o ofício de elaborar um texto com o objetivo de transportá-lo para os palcos.

Apresentando diante de um público as ideias contidas nesta obra.

A palavra drama vem do grego e significa ação.

Desse modo, o texto dramatúrgico é aquele que é escrito especificamente para representar a ação.

Questões históricas e sociais no processo de construção do termo raça e as consequências de uma ideologia racista no campo dramatúrgico.

Deparamo-nos, então, com um racismo estrutural, que naturaliza a presença hegemônica da produção de saber.

Penso, ainda, que encontramos no espaço epistemológico uma prática colonialista.

Que nos faz repetir uma noção histórica a partir do olhar do colonizador.

Logo, não se trata de um debate a nível pessoal, isto é, quais as preferências temáticas de cada pesquisador/a ou as escolhas de cada currículo.

Mas de perceber as consequências de uma única narrativa sobre a história do teatro ou sobre as teorias teatrais.

A classificação racial produzida, principalmente, por cientistas naturalistas

sustentou uma série de representações paradigmáticas difundidas na cena teatral no decorrer dos séculos XIX e XX.

Com o intuito de fazer provocações sobre a criação da personagem negra no teatro, o texto propõe uma reflexão crítica dos estereótipos.

E, também, questiona a perspectiva teórica teatral hegemônica dos estudos da história do teatro e da dramaturgia.

Questão Racial

É notável o excesso de adjetivos ao europeu em contraponto aos termos pejorativos descritos nas outras raças.

Principalmente ao africano, definido como: preguiçoso e negligente.

Além disso, o que o naturalista chamou de americano pode ser entendido como uma primeira referência ao índio americano.

Assim como, o asiático é apresentado genericamente, indicado pela cor amarela.

Negro Teatro

Nos últimos anos, tenho percebido como pesquisadora uma necessidade de desenvolver uma reflexão sobre raça, racismo e cultura afrobrasileira no campo artístico.

Essa vontade surge, em um primeiro momento, por causa da lacuna epistemológica.

Geralmente, quando indago a amigos/as artistas e acadêmicos/as sobre a ausência desses debates na área teatral, o discurso predominante é que:

Por ser um debate específico e recente, encontramos poucas pesquisas concentradas neste tema.

Em contraponto, tenho participado de eventos, congressos e seminários e, na maioria das vezes, encontro um número expressivo de intelectuais, pesquisadores/as, artistas negros e não-negros que buscam um olhar crítico da estética teatral e trazem em suas trajetórias uma produção relacionada ao teatro negro brasileiro.

Sem dúvida, há várias facetas relacionadas aos negros e à cultura afrodescendente.

Estas, levantam apontamentos que dizem respeito a aspectos fundamentais enfrentados por esses sujeitos.

Dentre os quais destaco:
a questão do negro assediado (física, moral e psicologicamente), alienado, desejado, engajado, homossexual, objeto, pobre, politizado, rejeitado, rico, violentado etc

A população negra do Brasil é uma das maiores do mundo.

E, assim, já ultrapassou a marca dos 54% ou mais de cem milhões de pessoas.

Aos olhos de um estrangeiro significaria que os afrodescendentes ocupam majoritariamente cargos elevados em empresas importantes.

Que são protagonistas nas decisões dos rumos da vida política e seus rostos e cultura estampam capas de jornais e revistas em cada esquina.

Mas, além de confundir a cabeça de que vem de fora, a vida cotidiana no país tropical do século XXI ainda não reflete a imponência dos números.

Para se ter uma ideia, segundo pesquisa feita em parceria entre o Instituto Ethos e o Ibope, os negros ocupam 25,6% dos cargos de supervisão.

Bem como, ocupam 13,2% dos cargos de gerência e 5,3% dos cargos executivos de empresas brasileiras.

É importante ressaltar novamente que, de acordo com o IBGE, os negros e pardos representam 50,7% dos brasileiros.

“Todo o ator é um sentimental. Do contrário não seria ator. A gente tem de ser um doido, um sentimental, um idealista. Se não for assim, não poderá ser um bom ator.”

(Grande Otelo)

Por fim, diante da complexidade política-social, compreendo que cabe ainda, dentro da área teatral, investigações sobre as particularidades estéticas afro-diaspóricas e um processo de visibilidade de teorias teatrais que questionem o saber hegemônico, compreendendo a história e cultura afrobrasileira não como tema transversal, mas como tópico integrante do fazer teatral.

Um afro abraço.
Claudia Vitalino.
Pesquisadora-Historiadora – ativista do movimento negro
Fonte:sesi/ibge/redebrasil




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Claudia vitalino

UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro Comissão Estadual Pequena Africa. Email: claudiamzvittalino@hotmail.com / vitalinoclaudia59@gmail.com

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