Netuno, a submersão no dilúvio

Netuno, a submersão no dilúvio

“Quando contemplares como estagnação e estéril deserto tua falta de fantasia, de inspiração e de vivacidade interior, e impregnares com o interesse que em ti desperta o alarme por perceberes tua morte interior, então algo pode acontecer contigo, já que teu vazio interior oculta uma plenitude tão grande quanto ele mesmo, contanto que permitas que ela penetre em ti. Se te mostrares receptivo a esse “clamor do deserto”, então o anseio por plenitude dará vida ao ermo estéril de tua alma, como a chuva revive a terra árida” C. G.Jung

Cabe ao ego a tentativa de manter a todo custo uma identidade, e essa manutenção é quase uma questão de sobrevivência.

Fogem a esse anseio quase cego os mapas predominantemente de água. Isso se dá certamente, por de alguma maneira já terem se acostumado ao processo de identificação com conteúdos que pertencem muito mais ao outro do que a si mesmos.

Como consequência, portanto, eles são efetivamente mais elásticos em seus posicionamentos, sofrem mais interferências e se mantém em maior grau permeáveis ao contato com o outro.

Excluindo-se entretanto, os signos de água, acostumados de um modo geral a esse processo, uma das experiências mais
aterradoras para o ego é o trânsito de Netuno.

Vale atentar para o fato de que a raiz da palavra Netuno é a mesma de névoa.

Não é sem razão, com efeito, que nosso deus dos mares, no mito, costumava muitas vezes jogar uma névoa no mar que encobria os navegantes. Como resultado, levava-lhes a um total estado de desorientação.

Decerto, muitos eram os que se despedaçavam contra os rochedos.

Também o mito das sereias se reporta ao tema.

Seres das águas, metade mulher, metade peixe, inumanas. Assim sendo, da cintura para baixo, de sangue frio.
Como consequência, eram incapazes da entrega, estando apenas a serviço da sedução.

Elas analogamente, levavam os homens pelos mesmos caminhos de Netuno, ocasionando muitas vezes, que seduzidos por seu canto, se atirassem contra os rochedos em alto mar.

Examinemos agora, qual a função de Netuno em trânsito, pois evidentemente, Netuno como qualquer outro planeta ao transitar, possui um papel, um destino, uma razão.

Estamos acostumados a escutar sobre a desorientação netuniana como se ele servisse tão somente para nos tornar
idiotas.

Ou então, em um sentido mais elevado, nos levar à uma espécie de êxtase místico.

Entretanto, nem só de místicos ou de idiotas é composta a humanidade, e, Netuno ao transitar, toca os mapas em geral, devendo, portanto, possuir uma função psicológica definida.

Sua principal função: a de solvente

Ele como que dissolve as estruturas de ego construídas anteriormente, tirando os referenciais em que essas mesmas estruturas se sustentavam.

Nesse processo de dissolução, como que abre espaço para um novo estado de ser ou de identidade.

Seu papel é quebrar as velhas estruturas, permitindo que o contato com o inconsciente seja acessado, e agora, não de forma intelectual, mas um contato emocional mesmo, onde a inundação pelo inconsciente descortina cenários que a rigidez do ego não permitiu o acesso em outras épocas.

O inconsciente, associado simbolicamente ao útero, serve então de continente para engendrar uma nova vida, uma outra espécie de perspectiva para fatores velhos e circunstâncias de vida já não mais suportadas pelo ego em seu padrão de resposta convencional.

Durante esse trânsito, o que pode ocorrer é o desaparecimento da velha forma e o conseqüente surgimento de uma nova forma regenerada.

Está claro que para as estruturas de ego mais rígidas, essa não é uma situação confortável; os referenciais em que nossa anterior identidade se sustentava são abalados.

Os limites de nosso ego expandidos, como que permeabilizados.

Na realidade, sofremos uma espécie de invasão pela água e acabamos com dificuldades para nos entender ou aos novos
anseios que surgem.

Começa a ficar difícil seguir como antes, ou ao menos, seguir com as certezas que tínhamos anteriormente.

Aparece a famosa névoa que jogava os navegantes contra os rochedos, e caminhamos sem direção certa.

Contudo, isso se dá se tentarmos buscar orientação através dos mesmos instrumentos antigos. Esses já não nos servem.

Na alquimia, esse processo é denominado de solutio, a operação alquímica onde o agente é a água. Nessa operação o
sólido é transformado em líquido.

A imagem de que a alquimia se utiliza é a do afogamento do rei, que é uma representação de nosso ego.

Jung inclusive cita essa imagem em Mysterium Coniunctionis, da seguinte maneira:

“o rei personifica a hipertrofia do ego, que pede compensação.. Sua sede decorre de sua concupiscência e do seu egoísmo irrefreados. Mas, ao beber, é dominado pela água – isto é, pelo inconsciente”

Nessas imagens, o que assistimos é um rei exaurido, entregue, inerte, já azulado, cansado de lutar por sua autonomia.

Ele morre por afogamento e já é incapaz de permanecer como antes, o processo seguinte, é seu afogamento.

Num nível mais baixo, os trânsitos de Netuno, nos fazem efetivamente cometer enganos, somos inundados pelos
sentimentos que outras pessoas ou outras circunstâncias nos evocam, e perdemos pouco a pouco nossa identidade nos fundindo com ela, a personalidade mais forte.

É comum durante esse processo, sermos acometidos por sonhos de inundação, de perigo eminente de afogamento, quando o inconsciente nos alerta para o risco que nosso ego corre de perder sua autonomia.

Entretanto, num nível mais elevado, esse mesmo trânsito, poderá ser o agente de nossa transformação em algo muito melhor.

Saímos de nosso mundo egóico de nossas resistências pessoais, para tal qual o rei que Jung cita, deixarmos de lado
nosso egoísmo e nos conectarmos com valores mais amplos, mais transcendentes.

Essa a função de Netuno, ele mesmo um transpessoal, e aí, nesse caso, o setor do mapa tocado pelo trânsito, abre novas perspectivas de vida, em níveis mais elevados e menos pessoais.

Mesmo que percamos por um tempo nossa orientação, a bússola usada já não nos sirva mais, poderemos encontrar em nosso interior, os instrumentos necessários para atravessar a névoa e chegar não a um porto seguro, mas a um porto mais verdadeiro.

Em todos os mitos, em todos os tempos, lemos as histórias do dilúvio, quando a humanidade, cega em seu egoísmo e
aprisionada por seus sentimentos mais mesquinhos, recebe o dilúvio como um castigo dos céus.

Entretanto, vale agora considerar, que é após esse evento, que a humanidade renasce e a própria natureza se revigora, livre das impurezas anteriores, e pronta para uma nova vida, um novo tempo.

Link para autor de imagem destacada https://www.facebook.com/Christian-Schloe-360744577329965/




Outros artigos interessantes deste mesmo autor:

Deixe seu like e siga nossa Rede Social:
0

Claudia Araujo

Aquário com Gêmeos, sou muitas e uma só. Por amar criar com as mãos, sou designer de biojóias e mantenho o site terrabrasillis.com, assim como pinto aquarelas e outras ¨manualidades¨. Por não me entender sem a busca do mundo interno do outro, sou astróloga com 4 anos e meio de formação em psicologia analítica sob a supervisão de José Raimundo Gomes no CBPJ – ISER e já mantive por anos o site Meio do Céu. Nessa nova etapa mantenho o site grupomeiodoceu.com. Dou consultas astrológicas e promovo grupos de estudo de Jung e Astrologia, presenciais e online. São várias vidas vividas numa única existência, mas minha verdadeira história começa aos 36 anos, e o que vivi antes ou minha formação acadêmica anterior, já nem lembro, foi de outra Claudia que se encerrou em 1988. Só sei que uso cotidianamente aquilo em que me tornei, e busco sempre não passar de raspão pelo mapa astrológico do outro. Mergulhar é preciso, e ajudar o outro a se transformar, algo imprescindível. Só o verdadeiro autoconhecimento pode gerar transformação. Não existe mágica, e essa autotransformação não ocorre via profissional, mas apenas através do real interesse do cliente em buscar reconhecer como se manifesta em sua vida cotidiana e qual seu potencial para a transformação. Todos somos mais do que aquilo que vivenciamos. A busca deve passar sempre pelo reconhecimento daquele eu desconhecido que em nós mesmos habita. A Astrologia é um facilitador nessa busca porque nela estão contidos tanto nossos aspectos luz quanto sombra. Ela resolve nossos problemas? A resposta é não. Ela apenas orienta no sentido do reconhecimento de nossa totalidade. A busca é do cliente. A leitura é do astrólogo, mas só o cliente poderá encontrar o caminho de sua totalidade e crescimento responsável. websites : www.terrabrasillis.com e www.grupomeiodoceu.com Fale com Claudia direto no Whatsapp

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *