Quem são esses que me habitam?
Quem são esses que me habitam?
Fato raro
Hoje a insônia
fez de mim sua companheira
Aos poucos me dei conta de seu intento
Me fazer conhecer um pouco mais
Deixei que ela se apossasse de mim e seguisse seu curso
Não me irritei, mesmo sabendo do seu preço no dia seguinte
Ela queria conversar e me entreguei a ela…
A pergunta que que ela me fazia era : quem são esses que lhe habitam?
Passeamos juntas pelas diversas fases da minha vida e de como reagi em cada uma delas. Tão incoerentes tantas vezes, tão assimétricas e tão conflitantes.
Passeamos pelo meu mapa astrológico e nada era tão incoerente como de fato parecia.
Todos aqueles que possuem tanto aspectos fluentes quanto de tensão em seus mapas, sabem bem a que me refiro.
Existe um preço a se pagar pelos aspectos desafiadores, pelo excesso de oposições, de quadraturas, mas um potencial enorme de crescimento e de entendimento do outro e de suas idiossincrasias. Também das nossas próprias.
Isso sem falar nos pontos mais importantes do mapa em elementos diversos e desarmoniosos entre si.
A harmonia não nos chega de graça. Antes de chegarmos ao ponto de equilíbrio ou ao meio ponto, ao ideal, é necessário nos deixarmos chacoalhar pelo conflito dos opostos. Eles estarão sempre a nos cobrar alcançarmos esse estado. Por vezes algo demorado demais. Outras vezes mais rápido. Depende de nós.
Jung dá nome à essa busca: processo de individuação.
É necessário enfrentar os diversos monstros que nos habitam, não estabelecer acordo com as fadas, duendes e poções mágicas. Isso não ajudará em nada. É preciso encarar a natureza de cada um deles, suas faces mais brutais e primitivas e entendermos suas exigências.
Só encarando face a face cada um deles e nos permitindo vivenciá-los na nossa própria carne, será possível um dia chegarmos a um acordo com cada um deles e exortá-los a trabalharem em conjunto visando um objetivo comum a todos.
Os deuses que vivem através de nós querem cada um deles o seu quinhão, e não convém dar-lhes as costas. Eles saberão cobrar em algum momento de nossas vidas, e geralmente, nos momentos mais inoportunos.
Qual a força capaz de conter forças tão mais poderosas do que as do nosso frágil ego que apenas se imagina cheio de poder? Nenhuma. O poder a eles pertence, e a cada um deles temos que levantar um altar. Temos que reverenciá-los, e tal qual Inanna, descermos ao submundo e nos entregarmos por um período nas mãos de Ereshkigal. Assim como ela, nos despirmos de nossas vestes, máscaras, adornos, fantasias, e impotentes nos ajoelharmos e nos deixarmos ser empalados e reduzidos a um nada, cônscios da força da natureza em estado bruto.
Não existe chance de pular essa etapa e almejar um encontro verdadeiro com nossa integralidade.
Só após essa jornada para dentro mas sem nos eximirmos de nos entregarmos ao doce ou amargo baile da vida, poderemos encontrar a paz e afrouxarmos as tensões.
A partir daí sim, usufruirmos de nossos trígonos e sextis. Os aspectos mais brandos e harmônicos que antes disso nos eram inacessíveis.
Não sem motivo, Urano, Netuno e Plutão são chamados de deuses da mudança. E essa mudança está ao nosso alcance. Basta entendê-los e não deixar que se transformem nos deuses das doenças. E se esses podem ser os deuses das doenças, também podem ser os deuses da cura, especialmente da cura da alma.
Jung já usava a máxima de que é o veneno o que cura nossa doença.
Basta querermos e fazermos um esforço nessa direção, libertos das amarras do ego. Nossos deuses interiores saberão retribuir.
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