Os dois Papas – O Filme e uma visão junguiana
Os dois Papas – O Filme e uma visão junguiana
Assisti o filme por três vezes. Os diálogos me chamaram a atenção, e consequentemente, me prenderam a atenção.
Li várias críticas tanto positivas quanto negativas com relação ao fantástico filme do Fernando Meirelles.
Essas críticas me pareciam muito aquém do conteúdo do filme.
A sensação é de que estavam todos presos ao pano de fundo do filme: o Papado assim como a Instituição Vaticano.
Não me convenci de que essa seria a razão do filme. Outrossim, um pano de fundo para que determinados processos humanos fossem questionados.
O mesmo se deu quando assisti à Trilogia das Cores de Kielowski: Bleu, Blanc, Rouge.
Os críticos insistiam na homenagem à Revolução Francesa. Contudo, era apenas um pano de fundo. Muito pouco em relação ao que era proposto.
Sou seduzida pela genialidade de diretores que usam panos de fundo palatáveis para tratarem de temas mais profundos.
Os temas principais nos tomam de assalto via inconsciente, quer tenhamos consciência disso ou não.
Pois bem, o filme em foco não é a Trilogia das Cores de Kielowski, ela entra apenas como exemplo. O foco portanto, é no filme magistral de Fernando Meirelles: Os Dois Papas.
Ambos representando dois aspectos da natureza humana e o embate com suas próprias sombras.
Bento XVI tal como nos contos de fadas, representando a decadência do rei, e a necessidade de substituição por seu herdeiro para uma oxigenação no Reino.
O futuro Papa Francisco, como a projeção dessa renovação.
O embate entre o Velho e o Novo, assim como entre o conservadorismo e a necessária adaptação às transformações no mundo atual.
O encontro entre ambos seria inevitável para a compreensão dessa necessidade de mudança. A tomada de consciência de ambos também.
No início do filme ambos antagônicos como luz e sombra, porém ao largo dele vão se humanizando e aparecem os pontos em comum e complementares. Suas próprias sombras rejeitadas e que lhes atormentam.
É esse confronto entre a aceitação da sombra do outro que promove o acolhimento e integração de suas próprias sombras. O início do processo de individuação é detonado.
Segundo Jung, não existe individuação sem o confronto com a sombra e sua integração. Ela é portanto, a matéria vil do alquimista que pode levar ao Ouro alquímico.
O Cardeal Ratzinger completamente identificado com sua persona, jogou sua sombra e sua conexão com o divino interior para baixo do tapete. O Cardeal Bergoglio também atravessa a noite escura da alma por seus atos passados e mal compreendidos que seguem lhe atormentando. Durante esse período, sente que perdeu sua conexão com sua divindade interior.
O encontro, assim como o embate entre ambos, proporciona essa reconexão perdida. Um passo adiante em direção ao SELF.
O que havia em comum entre esses dois homens? seguramente, a não aceitação de ¨seus pecados¨. Ambos padeciam do mesmo mal.
Alguns diálogos são tão marcantes quanto reveladores.
A confissão e a absolvição de ambos. Um ao outro
Ponto alto desse filme magistral. Decerto, é via essa confissão que aos poucos, ambos vão se transformando, se abençoando e trabalhando o perdão e a compaixão. Pelo outro e por si próprio.
É através dessa transformação e dessa aceitação que o amor prevalece.
O que antes eram pontos aparentemente divergentes, já que um não aceitava ao outro, acabam se revelando. Eram ambos atormentados pela sombra da culpa que carregavam consigo.
Como bem ressaltava Jung, a sombra só é projetada no outro quando nele existe um cabide aonde possa ser pendurada.
Esse cabide existia em ambos. Só com o reconhecimento da sombra puderam assimilá-la, se transformarem em cúmplices, amigos e parceiros. Caminharem em direção à individuação e ao SELF.
Deus já conseguia se comunicar com ambos. Encontraram a frequência correta para essa comunicação com seu Divino Interior.
Vale a pena assistir ao filme, mas assistam tanto com a alma quanto com o coração.
E nem vou falar dos dois atores gigantes. Ambos mereciam um Oscar.
Filme disponível na Netflix
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