A Soberana de Nemi consumação do Hierosgamos
A Soberana de Nemi>> Diana, a irmã gêmea de Apolo, o deus sol, era uma deusa da lua, chamada pelos gregos de Ártemis.
Segundo a mitologia grega, era filha de Zeus e Leto e nascera na ilha de Delos, enquanto Leto fugia da fúria da esposa de Zeus, Hera.
Dizem os gregos ainda, e isso atesta Junito Brandão em seu Mitologia Grega vol I, que diante do sofrimento de sua mãe para fazer nascerem seus filhos, ela jurou permanecer para sempre virgem e jamais conceber.
Diana teria ainda, auxiliado o trabalho de parto de Leto quando Apolo nasceu.
No entanto, se formos remontar às suas origens, encontramos a deusa vinculada ao culto da Grande Mãe.
O próprio Junito cita que na Ilíada ela era denominada pôtnia therôn, o que quer significar a senhora das feras.
Portanto, lhe atesta o caráter de uma Grande Mãe asiática e sublinha sua afinidade com a natureza e com o mundo animal.
A Soberana de Nemi
Podemos entender então, a existência de 3 Dianas-Ártemis ou três faces de Diana:
Primeiro: a deusa asiática, cruel, bárbara, de cujo culto constavam os sacrifícios de sangue. Uma deusa bem dentro dos padrões de uma Grande-Mãe oriental.
Segundo: a deusa cretense, ocidental, que presidia a fertilidade de homens e solo. Ainda aqui, conhecida e temida por sua ira.
Terceiro: que se constitui no aspecto que vamos tecer considerações mais tarde, a Senhora do Bosque de Nemi. A Diana caçadora, ou a Diana dos Bosques, ou ainda, a Diana do Lácio.
A Soberana de Nemi – Em primeiro lugar, acho que vale refletirmos sobre o termo virgem
Virgem em grego era “parthenoe”, uma palavra que queria significar virgem, mas muito mais do que no sentido físico, uma virgindade psicológica.
Era uma prerrogativa das mulheres solteiras, que não pertenciam especificamente a ninguém, não tinham marido.
Nesse sentido, também todas as Grandes-Mães eram consideradas como sendo Virgens.
Ademais, Ártemis para os antigos, era a personificação da vida selvagem, da própria natureza.
Seu culto na Itália estava voltado para a perda da virgindade e para o nascimento dos filhos.
Portanto, uma divindade da fecundidade, das mulheres e da terra, algo muito mais instintual do que se fosse uma divindade do casamento.
A Soberana de Nemi
Ártemis-Diana, foi fartamente cultuada na Itália numa região originalmente chamada de Arício, dentro do Bosque de Nemi.
Existem relatos de que seu culto foi instituído em Nemi por Orestes, aquele que depois de matar o rei Toante, fugiu para a Itália com sua irmã, Efigênia.
Orestes levava consigo uma imagem da Diana Táurica. Entretanto, podemos ler em Frazer ( O Ramo de Ouro), que existe um outro relato de que Diana teria ido parar em Nemi por causa de Hipólito.
A Soberana de Nemi – Para aqueles que não conhecem Hipólito, vale contar a sua história
Hipólito era filho de Teseu, aquele que matou o Minotauro ajudado pelo célebre novelo de linha de Ariadne, com Hipólita, a rainha das Amazonas.
Teseu era casado com Fedra e vivia em companhia de seu filho, um jovem belo que aprendera a caçar com Quíron e passava seus dias caçando animais na floresta.
Sua única companheira nessas caçadas era Ártemis, o que lhe tornava orgulhoso desse relacionamento.
Assim, Hipólito acabou por desprezar o amor pelas outras mulheres, já lhe bastava essa associação Divina.
Consta que, a Deusa Afrodite, inconformada e também injuriada pelo menosprezo de Hipólito por sua beleza, coloca em Fedra um desejo amoroso pelo enteado.
Fedra insta na conquista de Hipólito e, ao ser sistematicamente rejeitada por ele, se mata.
Antes desse suicídio, deixa um bilhete suicida para o marido, no qual acusa o enteado de tê-la estuprado. Consequentemente, matou-se por não ter sido capaz de conviver com sua vergonha.
Teseu então, busca em Posseidon auxílio para a punição do filho. Numa tarde em que Hipólito passeava na floresta em sua carruagem, Posseidon faz sair um monstruoso touro do mar que assusta os cavalos da carruagem do rapaz.
Os cavalos se tornam bravios pelo susto e pisoteiam-no até a morte
Ao saber do incidente, Diana desespera-se e pede ajuda ao médico Esculápio para que lhe fosse devolvida a vida.
Depois disso então, Diana teria levado Hipólito para o bosque de Nemi, onde viveu e morreu como o rei do bosque, uma encarnação dos deuses amantes, usando o nome romano de Vírbio.
Em seu santuário de Nemi, Ártemis tinha por companhia duas divindades menores, uma delas, Egéria, a ninfa das águas cristalinas, para quem as mulheres grávidas ofereciam sacrifícios pedindo um bom parto. A outra, o jovem Vírbio.
Dessa maneira, Vírbio ficou ligado ao nome de Diana, assim como Átis à Cibele, Tammuz à Inanna, ou Adônis à Vênus. Era o jovem amante da Grande-Deusa.
A Soberana de Nemi
Essa associação nos traz de volta mais uma vez à origem de seu culto , o culto da deusa alada do Oriente Médio que segura leões.
A Ártemis que é retratada com asas na cintura, tendo um leão com a pata pousado em seu ombro.
Mesmo na Grécia, o belo Hipólito, amado de Ártemis, desaparecido na juventude, é chorado anualmente pelas donzelas, lembrando os mesmos rituais que já são por todos nós conhecidos, como o são o pranto por Adônis.
Rituais esses, bastante divulgada a existência na religião antiga, quando da morte do amante mortal da Deusa.
No bosque de Nemi, a sua soberana, governa com seus atributos originais.
Retoma seu culto, vivenciando a possibilidade da consumação do hierosgamos, o casamento sagrado, com Vírbio/Hipólito.
Deixa-se então reverenciar, presidindo a fertilidade do bosque e de jovens.
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- kilili Mushriti