Todos os Erros do Mundo

Todos os Erros do Mundo

Desculpe, mas vou escrever sobre coisas difíceis. Sobre aquelas questões que preferimos não considerar, e deixamos de lado. Os erros tolos que fazemos, e a autoilusão que criamos para nos proteger do medo de aceitá-los.

As perdas inesperadas que fingimos desconhecer. O estorvo de uma consciência profunda, que obriga nossa identidade pessoal a encarar sua fragilidade, seus medos, e tantas outras angústias. Mas deixamos passar, tudo isso deixamos passar, deixamos de lado, escondemos nos cantos escuros de nossa memória.

Fazemos isso para evitar a dor da falibilidade humana inerente à nossa condição; fazemos isso para inventar uma paz advinda da negação. Fazemos isso para escapar do mau cheiro de memórias tão sofridas. Drummond, grande poeta, estava certo.

Mas para a mente condicionada toda paz será sempre transitória. Ela escapa, essa paz tão desejada; ela escapa das nossas fracas armadilhas de ilusão. Esse pouco de paz momentânea se fará seguir de novos aborrecimentos. Agora um sopro de alegria, mais tarde aquela tristeza que dói no peito. Tais são as ondas revoltas da mente insatisfeita.

Mestre Thich Nhat Hanh diz que o sofrimento é parte da vida, e brilhantemente ensina que precisamos urgentemente compreender as raízes de nosso sofrimento para que possamos aprender a sofrer menos. Meu Karma nesta existência é tentar, apesar de tudo. E, por Buddha, quantas vezes eu tentei e falhei. Talvez isso pareça autopiedoso, mas de fato estou neste momento de minha vida aprendendo plenamente a encarar erros e aprender com eles.

Às vezes sinto que cometi todos os erros do mundo. Mas não — eu apenas perdi o caminho algumas vezes. As consequências destes desvios são inevitáveis, mas o fato é que colhemos consequências de todas as nossas escolhas, certas ou erradas.

Sempre ensinei que tudo aquilo de bom que aprendi veio da superação de meus erros. Mas isso é uma meia-verdade. Meu aprendizado também vem de minha estúpida incapacidade de mudar apesar de meus erros, e me ver condenado a repeti-los várias vezes. Mas o Tempo, ó belo Tempo, me fez melhor. Agora eu vivo todas estas constatações em meus ossos.

Porque a vida não é um palco de sucessos, mas uma arena de desafios na qual devemos ter muita coragem para enfrentar. A você eu ensino esta verdade: a natureza de nossa identidade pessoal é delusão; e a natureza do Samsara é a impermanência.

Cometo erros, tropeço, falta-me palavras às vezes. Repito-me em irrelevâncias. Mas isso não significa que não sou digno do manto monástico, ou de amor e carinho. Somos todos assim, todos. A perfeição, o sucesso, as nossas acalentadas certezas, tudo isso é relativo. E sem aprender as lições que as quedas na vida impõem, jamais seremos completos.

A meta não é ser bem sucedido, mas completar plenamente o círculo belo de nosso tempo, e encontrar ao final de tudo o tesouro de transformação e cura tão necessário para o bem maior de nosso coração, e a claridade de nossa mente.




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Monge Komio

Mestre em Ciência das Artes, Artista Plástico, Escritor, Monge Zen Budista (Templo Daissen-ji / SC). https://www.facebook.com/zenniteroi/

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