O hóspede da Caverna
O hóspede da Caverna
(Excerto)
“A verdadeira liberdade é como tocar a terra.
Quando fazes isso em plena consciência podes sentir a solidez desta matéria, do pó e das pedras, das folhas mortas e seres decompostos que, muito tempo após suas mortes, tornaram-se eles mesmos partes do substrato terrestre.
Toque a terra, segure um punhado dela em sua mão e veja:
Aqui estão homens, mulheres e crianças, cavalos e águias, árvores e frutos.
Isso não é um lugar-comum, uma frase de efeito, minha doce ouvinte.
Isto é um fato, um fato completo e determinante.
E que precisa ser praticado através da plena meditação e correta paciência:
o pó da terra é feito de nossos pais, filhos e mestres, dos seres vivos antigos e atuais, de tudo o que existe sem exceção ou diferenças.
Eis a primeira pista de como podemos atingir a felicidade:
Toque a terra e sinta que todas as coisas estão ligadas.
Justamente porque todas as coisas se desfazem em pó, e reúnem-se ao solo fértil do ciclo da existência.”
“Então, basta saber que um dia irei deixar de existir para assim perceber a liberdade?”
“O que eu te ensino é um reconhecimento, uma experiência vital.
Não falo de mortes, minha querida ouvinte, por mais que assim pareça.
Eu falo da prática de integração com o movimento eterno do Tao”.
“Mas, venerável, vós falastes de pó e decomposição, de matéria e do fim!”
“Eu falei para teus sentidos, e não para tua razão;
Falei de encadeamento e união, de uma realidade cotidiana.
Compreendes como é sutil o caminho da prática?
Quando falamos de integralidade, tudo o que a mente escuta é sobre morte e dissolução.
Eis o motivo da agonia dos homens:
O conflito surge em suas mentes anuviadas.
Que ao enxergar os fatos da vida sempre os interpretam separando-os, dissecando-os, e jamais procuram praticar o mérito da união e das semelhanças.”
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