Sincretismo Religioso
Sincretismo Religioso>> Olá leitores sincretismo é a prática religiosa que provém da fusão de outras. O sincretismo religioso tem suas maiores expressões no Brasil por uma simples questão histórica: a colonização e a formação do povo brasileiro. Um complexo processo histórico repleto de misturas culturais e étnicas que ultrapassam os limites daquilo que foi documentado, do que é oficial.
Ao pisar no Brasil, a primeira ação tomada pelo navegador Pedro Álvares Cabral e seus tripulantes foi organizar uma missa que comemorava a chegada em novas terras. Nesse simples gesto, percebemos que os europeus não tinham somente um projeto de caráter econômico no Brasil. Sendo nação de forte fervor religioso católico, Portugal trouxe membros da Ordem de Jesus que teriam a incumbência de ampliar o número de fiéis no Novo Mundo. Sincretismo Religioso,
O Cristianismo e a Escravidão
A Igreja Católica autorizou e incentivou a escravidão, assim como também traficava escravos para as américas. Nos Estados Unidos a participação das Igrejas protestantes e Calvinistas foi marcante e “grandes” homens de Igrejas do Sul, como o Dr. James Thornwell, presbiteriano, Dr. Richard Furman e Dr. Fuller, batistas, bispo Stephen Elliott, episcopal, e Bishop James O. Andrew, metodista, lideraram a luta a favor da escravidão.
Os clérigos do Sul basearam seu argumento diretamente sobre as Escrituras. Eles apontaram que o Antigo Testamento especificamente defendia a escravidão, tanto em função do pecado e sobre a base das relações com os pagãos. Estes são os textos bíblicos usados:
“E ele disse: Maldito seja Canaã; servo dos servos seja aos seus irmãos.” (Gn 9:25)
“E quanto a teu escravo ou a tua escrava que tiveres, serão das nações que estão ao redor de vós; deles comprareis escravos e escravas.
Também os comprareis dos filhos dos forasteiros que peregrinam entre vós, deles e das suas famílias que estiverem convosco, que tiverem gerado na vossa terra; e vos serão por possessão.
E possuí-los-eis por herança para vossos filhos depois de vós, para herdarem a possessão; perpetuamente os fareis servir; mas sobre vossos irmãos, os filhos de Israel, não vos assenhoreareis com rigor, uns sobre os outros.” Levítico 25:44-46
Assim, eles argumentaram que a Bíblia confirmou a compra, venda e posse de escravos, desde que eles não eram cristãos e de uma raça diferente. Em vão os cristãos do Norte argumentaram que a passagem era aplicada apenas para o povo judeu em sua condição particular. Os sulistas responderam que Jesus NÃO condenou a escravidão em nenhum lugar, nem nunca falou uma palavra contra ela. Paulo chegou ao ponto de enviar um escravo de volta ao seu mestre. Se a escravidão era um mal ou pecado, não teria Jesus ou Paulo condenado a escravidão?
“No Brasil podemos observar inúmeras matrizes religiosas. Judaísmo, Cristianismo Católico, Cristianismo Protestante, Cristianismo Espírita Kardecista, Islamismo, Budismo, Hinduísmo desembarcaram nos milhares de navios que vieram pra cá entre 1500 e 1950”
Os cultos africanos Angolas, Congos, Fons, Malês e Iorubás também desembarcaram nesse contexto. Encontraram aqui os Tupis, os Guaranis, os Tapuias e muitos outros. Ao longo dos anos tudo se misturou em manifestações diversas e complexas.iretismo Religioso,
Sendo a Igreja Católica a religião institucionalmente dominante, pois era unida à administração colonial, ela tentou controlar a difusão de outros cultos assim como impor sua soberania. Porém, como a religião é um fenômeno incontrolável do ponto de vista cultural e social, as crenças se difundiram na mesma proporção das miscigenações. Naturalmente foram surgindo cultos que misturavam os mais diversos tipos de tradições.
Do encontro das tradições religiosas africanas com as religiões cristãs e religiões dos povos tradicionais de matrizes africanas
A ameríndias, foram elaboradas diferentes combinações e criações culturais que resultaram nas distintas religiões afro-brasileiras, dentre elas o candomblé e suas nações, a umbanda, tambor de mina, os xangôs, o terecô, entre outras. Os negros africanos tiveram que conviver com outras culturas e em outra localização geográfica, em virtude do sistema de escravidão a que foram forçados a viver. Esse processo de reterritorialização e da assimilação de diferentes imaginários religiosos originou “novas formas cognitivas, perceptivas e organizacionais”.
Podemos organizar os principais tipos de sincretismos surgidos no Brasil a partir de sua origem étnica e sua posterior união. Assim teríamos a fusão, cristão-indígena, africano-cristã, indígena-africana, indígena-cristão-africana. Sem ordem, local, cronologia ou lógica, essas três matrizes étnico-religiosas deram origem às centenas de cultos, festejos populares, folguedos, lendas, personagens, superstições, ritos e práticas sociais.
Os primeiros missionários Jesuítas que chegaram ao Brasil deram aos ameríndios a crença em Jesus Cristo, assim como já haviam feito nas terras de Angola e Congo de onde vieram muitos escravos. Ao mesmo tempo, receberam o domínio sobre plantas, raízes, bebidas diversas que foram incorporadas pelos padres e reproduzidas. Nessa fusão indígena-cristãrezas católicas com ervas indígenas deram origem ao curandeirismo mestiço, com benzedeiros e benzedeiras, rezadeiras e rezadores, parteiras e outros ainda típicos em zonas rurais e lugares distantes da medicina convencional.
A chegada dos africanos e o processo de conversão desses, promovem um processo semelhante ao ocorrido com os indígenas. Contudo há uma maior resistência de preservação da tradição em muitos lugares. Os negros recebem o braço opressor da Igreja Católica com muito mais intensidade. São incentivados castigos e torturas para africanos que insistissem com seus cultos. Torna-se expressamente proibido cantar e rezar na língua de origem. É nesse contexto que começa a acontecer o sincretismo que dará origem a Umbanda Sagrada. Os africanos que passaram pelo processo de conversão, mas não aceitavam de coração tal conversão, começaram a utilizar o conhecimento adquirido com os padres a associando santos católicos aos Orixás de acordo as regências e características de cada entidade. Assim São Jorge, um santo guerreiro foi associado à Ogum, um Orixá guerreiro. São Sebastião, santo morto por flechas, foi associado à Odé, o Orixá caçador cujo principal instrumento é a flecha. Nessa mesma lógica todos os Orixás são associados a santos católicos para fantasiar, esconder o verdadeiro culto que era direcionado aos Orixás. Tais associações serão tão naturais que não seguirão uma ordem homogênea. Na Bahia, no Rio de Janeiro, em Pernambuco essas associações mudam. Nem sempre Ogum é São Jorge. Ele é também Santo Expedito, ou Santo Antônio.
Durante o período da Escravatura no Brasil, nas senzalas, para poderem cultuar os seus Orixás, Inkices e Voduns, os negros foram obrigados a usar como camuflagem altares com as imagens de santos católicos, cujas características melhor correspondiam às suas Divindades Africanas, e por baixo desses altares escondiam os assentamentos dos Orixás, dando assim origem ao chamado Sincretismo. Mesmo usando imagens e crucifixos, os seus cultos e rituais inspiravam perseguições por parte das autoridades e pela Igreja, que viam o Candomblé como paganismo e bruxaria.
O surgimento dos Quilombos deu origem a outro tipo de sincretismo. Índios e africanos passaram a trocar tradições. Incorporou-se o culto aos Caboclos. Os chefes indígenas, Morubixabas, que eram à base da organização social das tribos, eram também cultuados como ancestrais poderosos, semelhante ao culto dos Orixás africanos. O domínio das plantas da terra que os índios tinham foi ensinado aos Africanos. Rituais africanos como a gira, ou xirê, foram incorporados pelos índios. Os congos e angolas, foram os que mais se fundiram com os índios brasileiros, por uma questão temporal e espacial, pois além se serem os primeiros a chegarem foram também os que formaram os quilombos. Entre os candomblés de nação, a nação de angola pratica um culto mais forte aos caboclos brasileiros, o que dá origem ao conhecido candomblé de caboclo. Muitas outras formas de culto e cultura, ao mesmo tempo, surgem pelo Brasil afora como fruto de um complexo sincretismo, como a Pajelança, Cachimbada, Jurema Sagrada, Quimbanda, Catimbó, Tambor de Mina, Congado, Tambor de Crioula, e outros.
No culto aos chamados catiços, ou seja, os exus, caboclos, baianos, boiadeiros, ciganas, Zé Pilintra, malandros e outros, prevalecem a mesma lógica do culto aos Orixás. À medida que são considerados espíritos que têm a missão e função de orientar, ajudar, proteger, iluminar são também considerados “orixás”, ou seja, espíritos de mente forte, iluminados. E, esse culto que é típico da Umbanda, também aparece no Candomblé como umas das manifestações de sincretismo aqui abordadas.
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Ao longo das décadas e séculos, o sincretismo perdeu seu caráter de fuga e passou a ser concebido como crença. Assim sendo os santos católicos deixaram de ser representações dos Orixás e passaram a serem considerados os próprios Orixás, e vice-versa. Naturalmente, o que era um recurso de disfarce se tornou uma crença real.
O sincretismo não se limita à mistura e incorporações de símbolos e ritos. Existe a questão ética, e é nesse ponto que surgem contradições. A lógica do pensamento cristão é muito diferente daquela proferida e reproduzida nas tradições africanas. Assim sendo, a Umbanda apresenta um caráter um tanto quanto confuso, quando buscamos estabelecer uma ética específica para tal religião. O Umbandista apresenta uma concepção de moral e ética mais próxima do cristianismo do que do culto aos Orixás. A ideia de bem e mal, céu e inferno, pecado, e o próprio Jesus Cristo como expressão do bem e do Satanás como expressão do mal estão presentes no pensamento Umbandista. Antes que o leitor tome uma conclusão precipitada, não cabe aqui o julgamento do que é melhor, certo ou errado. O objetivo é a definição das diferenças. Confunde-se a Umbanda como algo muito próximo do Candomblé, mas há questões que devem ser claras. Os símbolos e ritos são mais parecidos com o culto aos Orixás. Pratica-se o xirê, ou gira. Pratica-se a incorporação da entidade. Praticam-se oferendas.
Ao mesmo tempo, a ética e moral distanciam-se do culto aos Orixás pois, acredita-se que Exú mora no inferno. E que Oxalá é Jesus. Acredita-se no castigo. Acredita-se no pecado. Cumprem-se preceitos de quaresma. Acredita-se em Deus, como imagem e semelhança do homem. Sincretismo Religioso,
Para completar a complexidade, o Espiritismo kardecista também incorpora práticas de outras religiões espiritualistas, mas representativas…
Novos tempos e as praticas se renovam
A diminuição do número de católicos tem sido explicada por efeito do alto grau de institucionalização da Igreja, o que não lhe daria a agilidade necessária para se adaptar com rapidez às novas situações sociais, culturais e econômicas do país. Ela permaneceu dominante no Brasil, durante séculos, mas sua reorientação, desde uma referência elitista para uma “opção preferencial pelos pobres”, após o Concílio Vaticano II, afastou-a, paradoxalmente, das classes populares. Isso porque o “Catolicismo socialmente engajado”, baseado na Teologia da Libertação, que disputou com os comunistas, nos anos 1960, a direção política dos movimentos sociais, pela ação das comunidades eclesiais de base, enfraqueceu os elementos místicos da experiência religiosa, justamente quando cresceu a procura por eles.
A mudança no perfil religioso da população está estreitamente ligada aos grandes movimentos migratórios ocorridos no país nos últimos 50 anos, seja no sentido inter-regional seja no sentido rural/urbano. Tanto nas regiões de expansão da fronteira rural quanto nas periferias das cidades, notadamente nas regiões metropolitanas, as populações migrantes ali estabelecidas, além de se desprenderem das relações de solidariedade nos locais de origem, deparam-se com uma fraca presença dos órgãos estatais instalados nos locais de destino, bem como carecem de políticas de desenvolvimento social. Vivendo, em sua grande maioria, em condições muito precárias, beirando quase sempre a miséria, e desenraizadas culturalmente, tais populações desenvolvem novas disposições sociais e novas tentativas de construção de suas identidades culturais, no que a religião ocupa lugar de relevo.
São as Igrejas Evangélicas, especialmente as Pentecostais, que têm apresentado alternativas religiosas significativas para os mais pobres, justamente aqueles onde se dá o maior crescimento populacional. Daí que o crescimento do Pentecostalismo é maior nas regiões economicamente mais dinâmicas, o que inclui as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Nas regiões mais pobres e menos expostas à mudança social, o Catolicismo permanece estável.
O campo agora é outro…
Mas, a Igreja Católica tem desenvolvido estratégias de retomada de sua posição, hoje ameaçada pelas Igrejas Evangélicas, inclusive mediante a incorporação de suas práticas, como, por exemplo, o emprego dos meios de comunicação de massa, com destaque para a televisão. Ao mesmo tempo em que o “Catolicismo socialmente engajado” foi contido, após o fim da ditadura militar, para o que a pressão do Vaticano foi decisiva, irrompeu um novo movimento, a Renovação Carismática Católica, proveniente dos Estados Unidos, de forte inspiração pentecostal. Em contraposição àquele, predomina entre os carismáticos uma religiosidade de caráter intimista e pietista.
A despeito de sua unidade e do forte centralismo, a Igreja Católica permanece, no Brasil, informalmente estruturada segundo uma dupla polarização: os “progressistas”, herdeiros do “Catolicismo socialmente engajado”, anatemizado pelo Vaticano, e o “conservadorismo”, que compreende tanto os resistentes ao aggiornamento social e quanto os carismáticos.
As religiões afro-brasileiras apresentam dificuldades de análise não encontradas nas da tradição cristã. Por seus praticantes terem sido, durante séculos, obrigados ao sincretismo, como estratégia de sobrevivência diante da repressão religiosa e política, ainda hoje muitos deles se declaram católicos. Mesmo se a repressão já não existe, muito pelo contrário, é comum que os adeptos do Candomblé e da Umbanda assumam-se também como católicos. Por isso, o número de praticantes das religiões afro-brasileiras encontra-se muito subestimado nos censos demográficos. Nos últimos anos, as manifestações culturais afro-brasileiras têm recebido forte apoio do Poder Público, como parte das políticas de inclusão social. Um de seus efeitos foi a promulgação da lei no. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que determinou a inserção, no currículo do ensino fundamental e médio, da “História e Cultura Afro-Brasileira”, que dificilmente deixará de incluir a dimensão religiosa.
Os setores sociais onde o Pentecostalismo cresce são, em geral, os mesmos nos quais há maior número de praticantes das religiões afro-brasileiras, isto é, entre os mais . Como o Candomblé e a Umbanda são religiões desprovidas de organizações articuladoras das comunidades de culto, sem clero organizado, que não recorre ao proselitismo nem à mídia televisiva, elas ficam particularmente vulneráveis aos ataques de Igrejas Pentecostais, que disputam com elas o mesmo público, pregando uma “guerra espiritual” contra as crenças consideradas demoníacas. Diante dos crescentes ataques Pentecostais, aquelas religiões, dotadas de baixo valor simbólico na sociedade brasileira, perdem adeptos, a despeito do apoio político oferecido pelo Poder Público. Além disso, a retração das religiões afro-brasileiras tem sido facilitada pelo fato das Igrejas Pentecostais, apesar de adotarem o mito da “pureza da fé”, realizarem, de fato, um tipo de sincretismo, que possui afinidades com a religiosidade de origem africana, ainda que, ao contrário desta, projetem uma imagem do mundo polarizado pelo bem e pelo mal. Tais afinidades explicariam a transferência de adeptos entre religiões tão diferentes entre si.
Por fim, um breve comentário sobre os que se declaram “sem religião”. Embora eles não sejam, necessariamente, ateus ou agnósticos, compreendendo os que recusam as instituições e as crenças disponíveis no campo religioso, o aumento de seu número é expressivo. Enquanto que, em 1991, declararam-se “sem religião” 4,8% da população, em 2000 essa proporção chegou a 7,4%. Embora sejam poucos, em números absolutos, a velocidade de crescimento é maior do que a dos adeptos das Igrejas Evangélicas.
Quanto aos conflitos do campo educacional, eles estão explícitos nas telas de televisão. Não só nas emissoras de propriedade de sociedades religiosas, Católicas e Evangélicas, que disputam os crentes em suas próprias residências, como, também, entre algumas dessas emissoras e outras, não necessariamente religiosas, por causa dos índices de audiência. No momento, é ostensiva a adesão da TVs à Igreja Católica, em busca de apoio à luta contra a outras TVs, na busca da hegemonia do reino da prosperidade, que já ameaça a liderança que aquela emissora teve durante décadas. O efeito econômico e político dessa mudança é previsível, em especial pela proximidade da TV Pentecostal com o Partido Republicano Brasileiro.
Um afro abraço.
Claudia Vitalino
Historiadora-pesquisadora
CEVENB RJ – Comissão estadual da verdade da escravidão negra
UNEGRO -União de Negras e Negros Pela Igualdade
Fonte de pesquisa: fernando Fonseca de Queiroz «Brasil: Estado laico e a inconstitucionalidade da existência de símbolos religiosos em prédios públicos». Jus Navigandi. Consultado em 30 de novembro de 2009.
Ir para:a b «Brazil». U.S. Department of State. 8 de novembro de 2005. Consultado em 8 de junho de 2008.
Ir para cima↑ «Religião Predominante no Brasil, Católica Religião Predominante no Brasil». Portal São Francisco Ir para:a b c d e f g h i j k l m Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ed. (2010). «População residente, por situação do domicílio e sexo, segundo os grupos de religião – Brasil» (PDF). Consultado em 29 de janeiro de 2013.
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