Saturno tem seu preço!

Saturno tem seu preço!

A noção de eu individualizado é uma demanda existencial que emerge no Renascimento entre os séculos XIV e XVII.

Contudo, vai ganhando maior expressividade nos séculos seguintes. Especialmente com o Iluminismo (séc. XVIII – XIX) e chegando aos nossos dias (séc. XX – XXI) com grande impacto social.

As necessidades dos governos e toda organização tanto estatal quanto privada,  se alimentam das individualidades que no conjunto formam as massas.

Assim, o nascimento, a aprendizagem, a segurança pública, o sistema de saúde, transporte, alimentação, e etc, são ocupações de grandes corporações, ora públicas, ora privadas.

O sociólogo Norbert Elias pontua a antítese entre a individualidade e o social.

Dessa maneira, falando do abismo que separa um do outro, apesar de serem os mesmos elementos, ambos são pessoas, singular e plural.

Entretanto, a diferença é a ordem dos agrupamentos e os interesses.

Como resultado, ele lembra dos conceitos da Gestalt que diz que as partes que compõe um todo não podem ser isoladas e analisadas à parte, pois isso incorre numa fissura, desvios, sendo que as partes só interessam em relação ao todo.

Essas colocações, decerto, dialogam com o Holismo, e o Tao, que buscam a integração, união.

Em Astrologia o mapa natal conta um enredo individual.

De fato, com cores dramáticas, versos humorados, tendências perigosas, caminhos de sucessos, rotas de amor, entre tantos outros cruzamentos e pontes.

E se configura um equívoco analisá-lo por partes sem levar em consideração o todo.

Para uma melhor compreensão não basta saber se minha Vênus é retrógrada, ou se meu Sol em Áries em trígono com Marte em Leão me alavancará ou me arrastará pelos caminhos que mostram o mapa.

Ao estarmos familiarizados com as configurações astrológicas, perceberemos que o que parece uma “queda”, um “maléfico”, “detrimento” ou qualquer outra propriedade que requeira maior atenção, que carrega tensão em suas energias nos empurram para uma vida mais dinâmica que muitas vezes obriga o ser individual a desvendar em meio à crises de identidade à sua rota de vida.

E ter um mapa com configurações “benéficas”, “domiciliados”, “exaltações” não é garantia de nada.

Muito pelo contrário,  às vezes a sensação de bem aventurança que um mapa positivado carrega pode deixar a personalidade humana preguiçosa, desdenhosa.

Em síntese, as facilidades acomodam e as crises movimentam.

O certo é que apesar de todo o destino escrito nas estrelas, os caminhos dos homens e mulheres é que contam suas histórias.

Com efeito, alguns mais tranquilos, outros em turbulência.

A estrutura da individualidade é representada por Saturno.

Saturno, o senhor dos tempos, também o porta voz do carma, que toma conta de cada falha para na hora certa trazer a conta e exige o acerto.

Por volta dos 28 anos de idade o planeta Saturno faz uma volta completa ao redor do Sol natal de cada pessoa.

Nessa ocasião conhecida popularmente por “crise dos trinta” é que nos vem há primeira conta de Saturno.

Afinal,  já passou boa parte da vida e não vamos ser eternamente jovens com um futuro inteiro pela frente.

Nessa fase as desculpas, defesas, vícios, faltas e qualquer outra artimanha de resistência que o ego tenha construído para si serão postas em xeque.

Decerto deverão ser superadas e feitas as modificações necessárias para uma vida adulta integrada.

Vamos analisar uma suposta situação, a pessoa por volta de seus 21 anos resolve que vai se profissionalizar na mesma linha que um de seus pais, daí lá no Retorno de Saturno, se apercebe insatisfeita e identifica na profissão uma escolha da qual se arrepende, então é hora de mudar e começar do zero ou continuar ou quem sabe ainda mudar parcialmente, fazendo ajustes.

Ambas as escolhas acarretam perdas de um lado e ganhos em outro.

Ser adulto é ter responsabilidades pelas escolhas e se não tiver é por  certo, arcar com a frustração de um Saturno nada satisfeito.

As aflições de Saturno são sentidas nos ossos, nas articulações doloridas e atravancadas pela falta de coragem.

Entretanto, também pelo peso emocional de relações mantidas pela conveniência social, mas em nada desejadas por nossa Vênus ou Lua, é também a ambição avassaladora que não mede esforços para chegar onde quer, deixando nosso Marte raivoso.

Desse modo, a estrutura saturnina reflete em todos os pontos.

Uma vez identificada nossas escolhas que não nos servem mais, logo ocorrerão as mudanças que devemos empreender.

Saturno é a estrutura, enquanto que o Sol é a força motriz.

A Lua por sua vez, é o conteúdo da alma.

Mercúrio por conseguinte,  é a mente racional.

Vênus é o nosso sistema de valores.

Marte é a nossa força de arranque.

Enquanto que Júpiter é a capacidade de expansão do espírito.

Urano é a mente inventiva.

Netuno é nossa oração.

Sobretudo, Plutão é o poder que transforma destruindo e construindo ininterruptamente.

Após o primeiro Retorno de Saturno, nossa vida não será mais a mesma.

Muito dependerá do que faremos para manter, restaurar ou trocar nossas estruturas.

Saturno vem para nos avisar que somos responsáveis por nossa existência e o que ele nos revela em meio à crise de seu retorno é a chave para a maturidade.

Semelhante ao que acontece entre o indivíduo e a sociedade, quando na fragmentação, a individualidade se aliena do social e o social ao ignorar as necessidades íntimas, cria o que Norbert Elias caracterizou como abismos.

Ocorre algo semelhante na Astrologia quando em uma oportunidade como a do Retorno de Saturno a personalidade preferir deixar na sombra da psique o que a crise evoca.

Quando  não se esforçar para fazer o trabalho de reestruturação, deixando ocorrer outro abismo.

Porém, na consciência, essa escolha é mais infeliz, apesar da falsa sensação de segurança que representa quando o ego se agarra ao velho e não quer trazer espaço para o novo.

Saturno é segurança, e a falsa segurança de uma estrutura que não se suporta é a ruína.

Para que não se chegue até ela, o que Saturno nos ensina e exige como prova do aprendizado?

Temos uma vida inteira para descobrir e agir.

De tempos em tempos Saturno vem cobrar seu preço por nós existirmos aqui na Terra.

Um preço justo a pagar é com a responsabilidade e Saturno ama responsabilidade.

Com efeito,  não será nada mal ter o amor de Saturno em nosso destino.

(Texto publicado em 04/06/2017)




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Fabiane Marques

Astróloga e Historiadora, dançarina e poeta, vai entre os encontros da mente e da expressão, extraindo dos símbolos as conexões entre o existir e o sentir. No passo dos dias atendendo aos comandos do coração para fazer da vida a arte, da escrita a profissão, da dança o caminho, e da poesia a ação. Nada mais, nada a menos para Sol, Lua, Mercúrio e Ascendente em Gêmeos e uma Vênus em Touro, para o ar aterrissar. Contato: famarquescxs@hotmail.com Visite: http://trigonosastrais.blogspot.com/ http://fantasiasdoreal.blogspot.com/ Fabiane Marques

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