Ọ̀SÁNYÌN, O INTROVERTIDO
Ọ̀SÁNYÌN, O INTROVERTIDO
Dos vegetais fazemos tanto roupas para vestir, quanto comidas para alimentar, remédios curar, fogo para aquecer e erguemos casas para abrigar.
As folhas tanto embelezam a vida, como emprestam sombra, e oferecem ar puro.
Embrenhado na floresta mora Ọ̀sányìn.
Com as folhas convive e com elas se mistura.
Já não se sabe mais se Ọ̀sányìn é a folha, ou a folha que é ele. Ọ̀sányìn tem uma perna só, assim como o tronco das árvores.
Sobretudo frágil, mas forte; simples, mas poderoso; introvertido, mas reconhecido.
Na descrição milenar: “Tem o fígado mais frágil que o de uma mosca, mas é mais forte que uma barra de ferro”. Ọ̀sányìn é dual.
Dono de todas as folhas, portanto, sabe todas as suas manhas.
Domina toda a sua arte. Conhece seus elementos, sabe seu sexo.
Decerto as reconhece tanto pelo odor, quanto pela cor, textura, paladar.
Sabe a lua para colher, assim como o lado certo para pegar e a hora em que estão disponíveis.
Ọ̀sányìn as chama pelo nome e elas atendem.
Para conhecer Ọ̀sányìn, é preciso olhar a folha e conseguir enxergá-la. É preciso tocar a folha e conseguir sentí-la.
Ọ̀sányìn não gosta de visitas. O mateiro que adentra a floresta; antes, deve lhe pedir licença. Quem arranca uma folha; antes, deve lhe pedir licença. Sem a folha nada se faz. Sem Ọ̀sányìn não existe Candomblé: “Kò sí ewé, Kò sí Òrìṣà” (Sem folha, não há Òrìṣà).
No ritual das folhas, o Sàsányìn, Ọ̀sányìn é invocado. Ele encanta as folhas. A folha não é mais folha, é remédio. Ọ̀sányìn não é mais Ọ̀sányìn, é a cura. Ewé, o! (Oh, a Folha!).
Rio, 26/2/16
Márcio de Jagun
(Série “ORIXÁS” – CASA DE OXUMARÊ)
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