Suicídio III

Suicídio III

Quero agradecer ao Frei Walter o generoso convite para realizar a homilia de domingo, 08.09.2019. Foi uma inestimável surpresa.

Preparei o texto abaixo para ler diante da assembléia.

No que eu só posso considerar como uma ação livre do Espírito Santo. Minhas considerações preliminares ganharam intensidade tão espontânea que deixei de lado o texto escrito.

Permiti, no entanto, que a Palavra fluísse, segundo a beleza da Graça.

De qualquer modo, achei que deveria publicar o texto escrito.

SUICÍDIO: QUANDO A DOR PODE NOS MATAR

5.Semana passada eu estava numa loja. Um rapaz de 23 anos me atendia.

Ele parecia triste e de pronto perguntei se estava tudo bem.

Ao ouvir minha pergunta, seus olhos minaram de lágrimas imediatamente.

Contudo, ele tentou disfarçar e abaixou a cabeça para esconder a sua emoção.

Então, Ele me disse:

-eu perdi a minha filha. Ela tinha apenas um mês de vida e se foi.

6.Percebi como ele estava destruído por aquela dor. Por aquela perda.

Em seguida, com a voz embargada disse que queria morrer também. Que a vida dele não tinha mais nenhum sentido.

QUE ele passava o dia sobretudo, pensando num modo de se suicidar.

7.Eu o ouvi em silêncio reverencial. Ficamos parados ali, um diante do outro, sem nada fazer.

Me senti totalmente impotente. Como se consola alguém que perdeu um filho amado?

Olhei então para minha compra sobre o balcão.

Ela nada mais significava para mim.

Me coloquei na pele daquele rapaz.

E se tivesse acontecido comigo?

Então, eu senti que eu também poderia odiar a vida se a vida me ferisse daquela forma tão cruel como feriu aquele menino.

No passado essa injustiça teria alimentado o meu ódio contra Deus e de seu prazer em nos destruir lentamente.

Não raramente pensei que as boas vindas que dispensamos a seu filho quando veio à terra fora merecida!

Conheceria agora a dor de ser humano, de ter uma pele, carne, vísceras e… um coração.

Mas esse tempo passou e portanto, não notei nenhuma revolta se levantar de dentro de mim.

E então eu Pude lhe fazer um pouco de companhia no interior de sua dor. “Doleo super ti frater me”, como estou dolorido por você meu irmão.

8.Rompi o silêncio e perguntei qual era o nome da sua filhinha? Ele puxou a manga da camisa e me mostrou uma tatuagem com o nome dela impressa no seu braço.

9.Eu disse a ele que tinha feito muito bem em tatuar no seu corpo o nome de sua filha querida. Ela se manteria viva em seu coração pela força de seu amor por ela.

Mas eu senti que deveria ir mais além mesmo que isso aumentasse momentaneamente o seu sofrimento.

Então me enchi de coragem e lhe disse que teria que aceitar a dolorosa realidade pois sua filhinha estava morta e não havia nada que ele pudesse fazer para trazê-la de volta.

Disse a ele que ou aceitaria a realidade da perda ou a realidade da perda o destruiria, empurrando-o para depressão e o suicídio.

Por fim decidi inocular em seu coração um pouco de culpa afirmando que se ele se deixasse morrer a sua menina querida não ficaria feliz com ele.

Duas vezes por semana nos falamos por WhatsApp. Nada demais…

Um bom dia…

um tudo bem…

e é assim que descobrimos que palavras simples salvam vidas.

E descobrimos mais do que isso:

descobrimos que palavras simples, vindas do coração, salvam também as nossas vidas porque nenhum remédio é mais curativo para as dores da alma do que o Amor.



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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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