Mulheres e Demônios – o erotismo sombrio da mulher

Mulheres e demônios –  Uma leitura psicológica do erotismo sombrio da mulher>> 1) Se quisermos nos provocar a um desagradável exercício de pensar projeções e evacuações de conteúdos psíquicos carregados de perseguições fantasmagóricas, então podemos brincar um pouco e, com a ajuda de Jung, fitá-los a partir de toda sorte de imagens de demônios que nossa impressionante psique foi capaz de produzir ao longo de todas as eras.

2)Que diabos é o Diabo senão perseguição extrema? Sua irresistível sedução pode nos levar para o inferno, costumeiramente entendido como um lugar ruim e onde toda sorte de maldade e tortura pode nos alcançar. Dizem que o inferno é horrível.

3)Por outro lado, quando contemplamos historicamente a evolução do Diabo somos obrigados a reconhecer que este ser sinistro já conheceu tantas metamorfoses ao longo do tempo que não estaríamos longe da verdade se disséssemos que tais metamorfoses coincidem com as transformações de nossa própria psique.

3.a) Uma inquietante pergunta se imiscui em nosso coração: Seriam nossos diabos esses Diabos?

4)Há algo muito estranho no ar pois Para onde quer que viremos o rosto algo de luciferino pode ser encontrado.

4.a)Costumeiramente a nossa projeção é de tal forma distorcida pelo inconsciente que quando efetivamente nos encontramos frente a frente com um desses diabos verdadeiros que atormentam a nossa vida qual não é a nossa surpresa de nos vermos acreditar tratar-se de verdadeiros santos. Coisa do Diabo.

Mulheres e demônios – A demonização generalizada

5)Ao longo de nossa história já demonizamos quase tudo. Nada escapou da nossa projeção de sombra sobre objetos inocentes. Ciganos, leprosos, loucos, judeus, homossexuais, índios, negros, oceanos… Oceanos? Sim, oceanos…Quem não lembra das lições do antigo primário onde aprendíamos que o oceano atlântico era chamado de “mar tenebroso” e que ninguém se aventurava a desbravá-lo exatamente por causa disso?

6)Também a moda e a estética foram vítimas de investimentos daquelas projeções intoleráveis de serem mantidas dentro de nós mesmos. A nossa sombra.

Mulheres e demônios –  A Mulher como estrela desse espetáculo

7)Mas é claro que não poderíamos esquecer da estrela do nosso espetáculo: a Mulher.

8)Desde o início ela é homologada às forças do mal. Curiosa, desobediente, sedutora, dona dos sabores e do prazer, a mulher nos aterrorizou ao longo de nossa existência masculina,  obrigando-nos a desenvolver procedimentos jurídicos e religiosos para investigar o seu corpo, seus segredos, suas insinuações, seu cheiro, seu olhar…

9)Todo esse conjunto de incontroláveis sensações insondáveis foi entendido por nós, os poderosos homens, como habitação do Mal. E de um curioso tipo de mal que não poderíamos entender de outra forma a não ser como simultaneamente encantador e devastador pois que não conseguimos simplesmente virar as costas e deixar pra lá o mal que nos afligia. Voltamos para ver de perto o que de irresistível nos arrastava.

10)Até o momento ainda não encontrei seres mais pervertidos do que os jesuítas. Devo a eles a maior parte de minha formação pornográfica, se é que isto pode ser chamado de uma formação.

11)Os jesuítas podem nos contar melhor do que qualquer outro profissional da “ars erótica” histórias de enrubescer a alma mais mundana.

12)Foram eles que “inventaram” o “Malleus Maleficarum”, livro que praticante substituiu a Bíblia na obsessão de caça às bruxas disparado na idade média pela igreja católica.

13)Esse manual pornográfico escrito em 1487 pelos jesuítas Heinrich Kraemer e James Sprenger conhece uma tradução para o português resultado do bravo trabalho realizado pela minha saudosa amiga Rose Marie Muraro. Nas primeiras páginas deste livro medieval conhecemos uma esclarecedora apresentação do Dr. Carlos Byington, psiquiatra e analista junguiano com quem fiz análise e grande parte de meus estudos junguianos.

Mulheres e Demônios - o erotismo sombrio da mulher
Mulheres e Demônios – o erotismo sombrio da mulher

Mulheres e demônios – O conluio erótico com o demônio

14)Os famosos procedimentos de investigação para descobrir se a mulher vivia em conluio erótico com o demônio faz os nossos filmes mais pornográficos parecerem conto de fadas. Histórias para nos fazer dormir.

15)Numa inventividade que antecipa em quase mil anos a badalada performance sadomasoquista, aquele conjunto de homens castos reunidos em torno (da sombra) de Cristo foram capazes de imaginar e produzir objetos eróticos de torturas que os levavam justamente àquele lugar que pretendiam evitar através dos ritos de purificação inquisitorial: o inferno dos prazeres indizíveis.

16)Não fosse esses jesuítas e talvez até hoje estivéssemos na mais profunda ignorância sobre o quanto o “corpo endemoninhado” é antes de tudo um corpo repleto de prazeres não acessíveis a práticas mais educadas.

17)Um substrato “pagão” parece conter emanações de um tipo de desejos não sujeitas às disciplinas cristãs.

18)Mas nós não estamos gratos àqueles homens de batinas pretas por suas contribuições a uma erótica profunda potencialmente cheia de vida pois que foram cruéis e assassinos, uma vez que seus  procedimentos, que de religioso não tinha nada, não contavam com a concordância de suas  vítimas, levadas  a eles sob sequestro.

Mulheres e demônios – O Martelo das Feiticeiras

19)Lendo o Martelo das Feiticeiras Chama a nossa atenção um outro curioso fato. O demônio nunca era identificado rapidamente no corpo das bruxas,  tão logo elas fossem trazidas na presença dos inquisidores. A rapidez em promover a tortura não objetivava imediatamente a morte do corpo demoníaco.

20)Era preciso demorar. Interrogar para saber detalhes sobre as cópulas noturnas realizadas por elas com diversas demônios, sendo cada um deles detentor de uma especialidade em produzir prazer. Essas orgias eram realizadas nas florestas iluminadas por tochas de fogo e regida por música extasiante. A lua nova, a lua de Lilith,  era o anjo escuro a inspirar a festividade.

21)Posso imaginar o desespero dos inquisidores ouvindo confissões detalhadas de prazeres que lhe foram tirados por amor a Cristo. Posso imaginar como seu mundo interno divide-se em uma clivagem que faz com que o seu mundo racional acredite verdadeiramente na bondade de suas barbáries enquanto seu mundo emocional escondido sob a pureza da batina o acusa de ser um terrível pecador.

21)O prazer em fazer sofrer.

22) O prazer de tosquiar cuidadosamente cada intimidade do misterioso corpo da mulher. Quer-se buscar e encontrar provas  irrefutáveis de que aquele corpo nu, exposto aos olhares, amarrado sobre uma mesa empoeirada no fundo da igreja, era de fato um corpo entregue aos insondáveis prazeres oferecidos por Satã e suas hostes  às suas insaciáveis sacerdotisas.

Mulheres e demônios e a privação dos prazeres

23) O mundo árido daqueles castos  homens não podia suportar ver tanta beleza, tanta alegria e justo aquela beleza e a aquela alegria das quais estavam privados  de desfrutar.

24)Por isso posso imaginar o desespero dos inquisidores ouvindo confissões detalhadas de prazeres que lhe foram tirados por amor a Cristo.

25)Posso imaginar como seu mundo interno dividiu-se em uma clivagem dolorosa que fez com que a sua atitude racional acreditasse verdadeiramente na bondade de suas barbáries enquanto seu mundo emocional escondido sob a pureza da batina o acusa de ser um terrível pecador.




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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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