Um jogo de Luz e Sombras – A inveja

Um jogo de Luz e Sombras – A inveja>> Não raro, me perguntam se a inveja poderia ser entendida como um aspecto de sombra.

Primeiramente, vale explicar que a sombra se caracteriza e se constitui por tudo aquilo que atua em mim. Aquilo que me pertence, mas que não reconheço como sendo meu.

Assim, a inveja inconsciente, a que eu não reconheço como sendo uma constituinte da minha personalidade, sem dúvida alguma, é um aspecto de sombra.

Entretanto, vale lembrar que a sombra não pode e não deve ser considerada em si, como algo ruim.

Outrossim, ela é repleta de potencial criativo; potencial esse disponível desde que reconhecido.

O ruim então, decerto, não é a sombra em si, mas a maneira como nos relacionamos com ela.

Um jogo de Luz e Sombras – A inveja

É bem possível que esteja se perguntando como a inveja pode ser encarada como algo positivo ou criativo.

Acima de tudo, vale definir o que é a inveja.

O dicionário Houais define a inveja como o sentimento em que se misturam o ódio e o desgosto provocados pela felicidade, prosperidade de outrem.

Desejo irrefreável de possuir ou gozar, em caráter exclusivo, o que é possuído ou gozado por outrem.

Só que na prática, podemos observar que nem sempre o que evoca tal sentimento em nós é a felicidade ou a prosperidade de outrem. Usualmente, é tão somente o outro, o objeto da inveja.

Para tanto, esse objeto funciona como um espelho em que nos refletimos e nos vemos de alguma maneira em desvantagem.

Seguramente, nem sempre o fato de nos vermos em desvantagem é capaz de evocar em nós o sentimento da inveja.

Ele pode evocar muito mais, como veremos adiante.

O certo é que falar da inveja é falar da comparação entre duas ou mais pessoas quando é gerado um estado de frustração.

O grande perigo desse estado é a destrutividade que potencialmente traz em seu bojo.

Um jogo de Luz e Sombras – a vida se assenta sobre pares de opostos

Devemos, por outro lado, entender que, a vida se assenta sobre pares de opostos.

Explicando: não existe luz sem sombra ou sombra sem luz. Assim, numa ponta desse sentimento encontramos sua face escura e sombria, e na outra, sua face luminosa.

Essas duas faces possuem uma raiz assemelhada.

Tanto uma como a outra, nascem da confrontação e da comparação com o outro, mas enquanto uma delas é destrutiva, a outra é construtiva.

Na face sombria o que existe de mais terrível é o fato da pessoa em questão, nutrir por si mesma um sentimento de estar sendo usurpada em coisas que na realidade não lhe pertencem, nem foram conquistadas por ela.

Portanto, por se considerar usurpada, sente-se diferente e inferior aos demais, como se tivesse sido preterida pelo mundo, em detrimento do outro, ou dos outros.

Inegavelmente, ela é a mais prejudicada nesse processo.

É ela mesma quem amarga o sentimento de impotência e frustração por anelar algo que não se sente capaz de conquistar ou adquirir pelo próprio esforço pessoal.

Um jogo de Luz e Sombras – por trás de um invejoso encontra-se um incapaz

A principal razão da inveja reside num sentimento de incapacidade quer de viver seus próprios sonhos, ou ainda, de alcançar suas metas, de realizar-se enfim.

A inveja consome o invejoso, porque ele acaba abandonando sua própria vida, preocupado com o valor do outro e não com o seu próprio valor.

Sobretudo, ele se transforma em fiscal da vida do outro, à espreita de uma falta, e deixa de viver sua própria vida.

Ou seja, em vez de se construir, perde o tempo destruindo, e nesse processo já nem sabe efetivamente o que almeja, ele não quer ser como o outro, mas quer desejar o desejo do outro, e conquistar a conquista do outro.

Não quero rosas, desde que haja rosas

Fernando Pessoa

Não quero rosas, desde que haja rosas.
Quero-as só quando não as possa haver.
Que hei-de fazer das coisas
Que qualquer mão pode colher?
Não quero a noite senão quando a aurora
A fez em ouro e azul se diluir.
O que a minha alma ignora
É isso que quero possuir.
Para quê?… Se o soubesse, não faria
Versos para dizer que inda o não sei.
Tenho a alma pobre e fria…
Ah, com que esmola a aquecerei?…

Certa feita, li não me lembro aonde que “O invejoso é inseguro e supersensível, irritadiço e desconfiado, observador minucioso e detetive da vida alheia até à exaustão, sempre armado e alerta contra tudo e contra todos”.

Um jogo de Luz e Sombras – o invejoso é um mendicante

O invejoso é efetivamente um mendicante, porque o que deseja é algo usado, consumido pelo outro, uma cópia da conquista alheia

Ele não deseja o objeto original, único, que só a ele caberia.

A palavra inveja tem sua raiz em invídeo que significa ¨olhar mau¨.

É o olhar o outro não como um modelo a ser seguido, mas como alguém que acentua em mim as minhas próprias debilidades, como que reforçando a sensação interior de incapacidade – a raiz da inveja.

Um jogo de Luz e Sombras – a inveja de face sombria

A inveja da face sombria, é um sentimento autista que destrói muito mais rápido o que por ele é possuído do que o objeto ativador do sentimento.

Entretanto, o desejo maior do invejoso, é destruir o outro, diminuir seu potencial, até transforma-lo em algo menor do que ele mesmo, e assim, se elevar.

Um jogo de Luz e Sombras – a inveja de face luminosa

Ao contrário, a face luminosa do sentimento nos conduz para a conquista e para a concretização de metas.

Portanto, o outro deixa de ser alguém que deveria ser destruído, para transformar-se em alguém cujo exemplo deveria ser copiado.

Aqui, nesse exato momento, a sombra regredida ora assimilada, acatada, reconhecida, é capaz de se transformar em potencial criativo.

Nesse papel, ela me impulsiona para o crescimento e para a conquista de espaços que por direito podem ser meus.

A inveja agora transformada, é mais do que tudo um estímulo para que conquistemos novas virtudes, novos espaços, novas posturas.

Não as virtudes, posturas ou espaços do outro, mas tal qual o outro, as virtudes, espaços e posturas que são nossos.

Essa é a luminosa inveja daquele que aprendeu a viver bem e com qualidade interior.

Daquele que admirando o outro e lhe encarando como um exemplo, segue em busca do que poderá vir a ter a sua marca única e pessoal.

Esse será capaz de tornar-se alguém especial já que adquiriu a capacidade interna de viver bem, gostar do que é seu; embora, ainda assim, seja capaz de admirar o outro.

“O Tejo é mais belo que o rio que corre na minha aldeia, mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre na minha aldeia, porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia”
Fernando Pessoa

Escrito em 13/10/2001 para o site Meio do Céu Claudia Araujo
Crédito de imagem destacada : pixabay.com




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Claudia Araujo

Aquário com Gêmeos, sou muitas e uma só. Por amar criar com as mãos, sou designer de biojóias e mantenho o site terrabrasillis.com, assim como pinto aquarelas e outras ¨manualidades¨. Por não me entender sem a busca do mundo interno do outro, sou astróloga com 4 anos e meio de formação em psicologia analítica sob a supervisão de José Raimundo Gomes no CBPJ – ISER e já mantive por anos o site Meio do Céu. Nessa nova etapa mantenho o site grupomeiodoceu.com. Dou consultas astrológicas e promovo grupos de estudo de Jung e Astrologia, presenciais e online. São várias vidas vividas numa única existência, mas minha verdadeira história começa aos 36 anos, e o que vivi antes ou minha formação acadêmica anterior, já nem lembro, foi de outra Claudia que se encerrou em 1988. Só sei que uso cotidianamente aquilo em que me tornei, e busco sempre não passar de raspão pelo mapa astrológico do outro. Mergulhar é preciso, e ajudar o outro a se transformar, algo imprescindível. Só o verdadeiro autoconhecimento pode gerar transformação. Não existe mágica, e essa autotransformação não ocorre via profissional, mas apenas através do real interesse do cliente em buscar reconhecer como se manifesta em sua vida cotidiana e qual seu potencial para a transformação. Todos somos mais do que aquilo que vivenciamos. A busca deve passar sempre pelo reconhecimento daquele eu desconhecido que em nós mesmos habita. A Astrologia é um facilitador nessa busca porque nela estão contidos tanto nossos aspectos luz quanto sombra. Ela resolve nossos problemas? A resposta é não. Ela apenas orienta no sentido do reconhecimento de nossa totalidade. A busca é do cliente. A leitura é do astrólogo, mas só o cliente poderá encontrar o caminho de sua totalidade e crescimento responsável. websites : www.terrabrasillis.com e www.grupomeiodoceu.com Fale com Claudia direto no Whatsapp

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