As Fadas III

As Fadas III

José Carlos Leal

4. A Música das Fadas

As fadas são excelentes musicistas.

Sua música possui especial magia e muitas canções, hoje conhecidas no mundo dos homens, têm sua origem no mundo das fadas.

Esses espíritos são fascinados por música. Portanto, os músicos humanos de grande habilidade correm o risco de serem raptados por esses seres.

Posteriormente são levados ao seu reino para que seu talento seja apreciado por uma corte de fadas e outros seres espirituais.

As melodias das fadas são marcadas por um som plangente mas selvagem que, a um tempo, tanto encanta quanto seduz.

A pessoa que tiver o infortúnio de escutar esses sons mágicos, sentirá, inicialmente, uma grande sensação de paz. Posteriormente, adormece para não mais despertar.

Seus instrumentos principais são:

– quer a flauta, quer a gaita, ou o violino, e ainda outros instrumentos fantásticos desconhecidos dos seres humanos.

5. A Justiça das Fadas

As fadas, muitas vezes, usam seus poderes para premiar os bons, entretanto, também para castigar os maus.

Há uma velha lenda irlandesa que é um bom exemplo da justiça das fadas.

O relato nos fala de Lusmore, um infeliz corcunda que morava em uma aldeia junto ao monte Gloomy galtes.

Lusmore, por ser muito feio, era objeto da hostilidade geral.

As pessoas maldosas inventavam histórias terríveis sobre ele mas, em verdade, Lusmore era um homem sensível e de bom coração.

Passava os dias, solitários, tecendo palha e junco para fazer ora belos chapéus, ora cestos. Seu preço era sempre o mais barato do mercado.

Uma tarde quando Lusmore voltava para casa, vindo da aldeia de Chair, parou um pouco para descansar.

Assim sendo, sentou-se na grama verde e ficou admirando, lá só longe, o céu que se unia com as montanhas azuis.

Nisto ouviu-se uma bela música, acompanhada de cantos maviosos. A melodia era tão cativante que Lusmore ouvia atentamente com a alma elevada.

Depois de ouvir a canção por alguns momentos, Lusmore levantou-se e caminhou na direção de onde vinham os sons.

Não demorou muito, viu, em uma espécie de depressão o povo das fadas cantando e dançando.

A letra da canção era repetida, embora monótona.

Lusmore, que era muito sensível à música, entrou portanto no grupo das fadas, acrescentando versos novos à velha canção.

As fadas ficaram muito bem impressionadas com a variação feita por Lusmore. Elogiaram o seu talento e igualmente, sua habilidade poética.

O líder do grupo aproximou-se, então, do corcunda e, passando-lhe a mão pelas costas, curou-lhe a deformidade, dizendo:

de agora em diante, Lusmore não precisa mais carregar nas costas esta horrenda corcunda.

Imediatamente, Lusmore sentiu uma desacostumada leveza nos ombros.

Olhou em torno e notou maravilhado que, pela primeira vez, podia mexer com a cabeça em todas as direções.

Admirado, notou que era um outro homem. De repente, sentiu um peso nos olhos e inesperadamente, caiu em sono profundo.

Quando acordou – maravilha das maravilhas – estava vestido com magnífica roupa, toda branca que, por certo, era presente das fadas.

Não mais a corcunda nem a feiúra que o tornavam tão infeliz. Lusmore era, agora, um homem belo e garboso.

Não muito tempo depois, quando a história de Lusmore já era bem conhecida, uma velha procurou-o. Sobretudo, pedindo detalhes de sua cura maravilhosa porque um amigo seu, que era corcunda, estava interessado em tentar o mesmo tratamento.

Lusmore, que tinha um bom coração, descreveu com detalhes o que lhe havia acontecido.

A mulher agradeceu e foi para casa. No outro dia, ela contou ao seu amigo a história de Lusmore e os dois foram juntos ao local onde Lusmore havia assistido a dança das fadas.

Jack Maden, este era o nome do corcunda amigo da velha. Era no entanto, um camarada astucioso, maldoso e extremamente rabugento.

Assim que chegaram ao lugar onde Lusmore ouvira a música, notaram que as fadas estavam lá cantando e dançando.

Tão apressado estava Jack Maden de ficar livre de sua corcunda que nem pensou se aquele era o momento adequado para cantar a sua variante e irrompeu em meio às fadas, cantando com voz esganiçada.

Jack Maden pensava que, se a primeira variante havia sido tão bem recebido, a segunda seria acolhida melhor ainda. Além disso, se Lusmore ganhara uma roupa nova, por certo ele ganharia duas.

As fadas, entretanto, ficaram muito zangadas com aquela intromissão e, atirando o intruso ao chão, cercaram-nos com gritos clamorosos e estridentes.

Por fim, um dos membros da comunidade disse: Jack Maden ficamos tão mal impressionados com a sua canção que você sairá daqui com duas corcundas.

Imediatamente as fadas, pagaram a corcova de Lusmore e a colocaram nas costas de Jack Maden onde ficou tão firme como se houvesse nascido ali.

Deste modo, no dia seguinte, o pobre Jack Maden foi encontrado com as duas corcundas e muito mal tratado. Jack Maden não demorou muito morreu sob o peso das duas corcovas.

6. O Anel das Fadas

As fadas, às vezes, costumam dançar em circulo sobre a grama verde, embaixo de velhos carvalhos ou em vales floridos. Esta dança é chamada de o anel das fadas.

A visão desse espetáculo é muito perigosa para o ser humano. O suave encantamento da música das fadas, seduz e arrasta o espectador para dentro do anel.

Ali comem ou bebem o alimento mágico, tornando-se, assim, para sempre escravos desses seres sobrenaturais.

A dança das fadas é um saltitar selvagem que lembra um pouco o ditirambo do culto de Dionisio. A dança parece durar apenas uma ou duas horas, mas o tempo real de duração é de sete anos.

7. O Caráter das Fadas

As fadas se parecem muito com os seres humanos e tanto podem ser más como boas.

As más são frívolas, perversas, comprazendo-se em trazer perturbações para o homem. Entretanto, as boas mostram-se gentis, amigas e dispostas a colaborar com as pessoas com quem simpatizam.

Em tempos imemoriais, porém, as fadas eram consideradas extremamente perigosas.

Muitas mortes de animais, perda de colheitas, chuvas de granizo, morte de pessoas, epidemias e até mesmo o sarampo e outras doenças menores eram atribuídos às fadas.

A turbeculose, doença avassaladora entre os povos antigos tinha por causa, segundo a imaginação popular, visitas noturnas que o doente fazia à colina das fadas onde tinha as suas energias sugadas.

A paralisia infantil, as deformidades com ser corcunda ou coxo, eram também entendidas como males trazidos por fadas.

E não era só isso: o desaparecimento de objetos, irritações do dia a dia, insônia ou pesadelos eram tidos como produtos das estripulias das fadas.

Naturalmente, os seres humanos deveriam ter alguns recursos para impedir a ação nefasta desses seres que lhe poderiam causar tanto e tão variados aborrecimentos.

Esses recursos, obviamente, eram também mágicos.

Conta-se entre esses elementos apotropaicos por exemplo:

Tanto a faca de ferro colocada no vão da porta, quanto a tesoura aberta sob o travesseiro. Igualmente, unha no bolso, sinos, a bíblia, água corrente, pão, crucifixo, cruz, sal grosso, ferraduras, hóstias, águas benta, pano de linho no assoalho, meia embaixo da cama, faca sob o travesseiro, cabeça de porco ou um pentagramas atrás da porta e erva de s. João.

8. A Fada no Conto Tradicional de Encantamento

Contudo, nos contos tradicionais que estamos acostumados a ouvir as fadas são diferentes de tudo o que vimos até aqui.

Na tradição não cristã, aplica-se o nome fada a todos os espíritos da natureza. Incluindo nesse rol, enorme variedade de seres dos mais variados tipos e aspectos.

Eles vão, desde pequeninos espíritos alados que vivem nos bosques até os espíritos perturbadores (poltersgeist) que assombram a casa dos homens.

Em nossos contos de fada, essas personagens, depuradas pelo cristianismo, aparecem com uma única e bem definida forma: são mulheres brancas, de feições finas, cabelos louros que caem em cascatas sobre seus ombros. Vestem vestidos belíssimos bordados de ouro e de prata. Na cabeça usam chapéus em forma de cone, muito semelhantes aos da bruxa o que acentua, naturalmente o parentesco entre elas.

Nas mãos trazem uma pequena vara (varinha de condão) com a qual executam as suas magias.

A presença da varinha de condão é outra analogia entre as fadas e as bruxas pois os feiticeiros também costumam usar certos tipos de varas, cajados etc.

As fadas possuem extrema habilidade nos trabalhos manuais; daí a expressão para designar uma mulher muito hábil em trabalhos femininos: fulana tem mãos de fada.

As fadas dos cantos de encantamento são, em geral, muito boas, prestimosas e amigas dos homens. Muitas vezes aceitam ser madrinhas das crianças comuns.

As crianças madrinhadas pelas fadas crescem acompanhadas por elas que as auxiliam nos momentos difíceis de suas vidas.

É interessante notar que, se as fadas aceitam ser madrinhas de um criança, esse batizado não se faz nas igrejas.

Decerto porque a tradição cristã reconhece o caráter pagão desses seres, o que os torna incompatíveis com os cerimoniais da religião cristã.

Assim são fadas: seres da natureza, brincalhões ou malévolos, mulheres maravilhosas, idealizações do feminino positivo mas, antes de qualquer coisa, mitos.

É esta dimensão mitológica que as torna tão arraigadas na mente humana e persistentes nas tradições dos mais diversos povos.

Desse modo, não é de se estranhar, portanto, que os contos de fada, apesar de sua antiguidade, continuem a resistir e a se impor como um tipo de narrativo sempre contada.

No cinema, nas histórias em quadrinhos, os contos de fadas retornam com novas energias e novo vigor como uma fênix que renascesse das próprias cinzas.

Este fato se deve aos elementos arquetípicos presentes nos contos maravilhosos elementos esses fundamente entranhados no inconsciente coletivo, parte essencial da bagagem psíquica do homem em sua viagem pelo planeta terra.

As fadas, assim como os príncipes encantados, as bruxas, as terras maravilhosas, os reis, os gigantes são morfemas míticos. Básicos para a existência do homem, este animal criador antes de tudo, de símbolos, de sonhos, de mitos e de ilusões.




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