Meu Encontro com Carlos Byington

Meu Encontro com Carlos Byington

“… ele (Jung) gostaria que as pessoas percebessem Deus presente nas coisas mais
simples da vida como manifestação da
sua grandeza absoluta e eterna”.
Carlos Byington no vídeo documentário
JUNG E O OCULTISMO. Entrevista aos psicólogos José Raimundo Gomes e Carlos Augusto Silva.

1) Conheci CARLOS BYIGNTON afundado numa crise existencial. Estava no 4º período do curso de psicologia e acabara de me deparar com um livrinho chamado FUNDAMENTOS DE PSICOLOGIA ANALÍTICA, de um autor completamente desconhecido para mim. Chamava-se CARL GUSTAV JUNG.

2) Naquela ocasião, minha vida era perambular pelo centro da cidade do Rio de Janeiro vasculhando sebos e livrarias em busca de algum conhecimento que inferisse sentido ao meu conturbado mundo interior.

3) Eu devorava toda sorte de literatura psicológica que atravessasse o meu caminho, mas ao me deparar com os “FUNDAMENTOS” tive a sensação de que estava diante de um homem que realmente falava com o coração.

3.A) Foi então que Eu quis ler tudo sobre aquele autor, mas naquela ocasião “FUNDAMENTOS” era o único livro disponível de CARL JUNG em língua portuguesa.

4) Eu não tinha a menor ideia de que existiam analistas junguianos espalhados pelo mundo até me deparar com um artigo de um certo CARLOS BYINGTON publicado numa revista chamada PSICOLOGIA ATUAL.

O artigo era uma análise junguiana do filme O ILUMINADO do cineasta americano STANLEY KUBRICK.

5) Fiquei muito impressionado com o artigo.

Naquela época eu exibia um comportamento estranho.

Quando gostava de um determinado livro procurava saber se o autor residia no Rio de Janeiro.

E se residisse, ia até um “orelhão”, telefonava para o indivíduo e perguntava se podia me receber para entrevista-lo sobre o tema abordado no livro.

Conheci muitas pessoas interessantes usando esse estranho método de aprendizagem.

6) Agi exatamente assim com CARLOS BYIGNTON. Descobri o telefone de seu consultório e marquei uma entrevista com sua secretária.

Mas neste caso, não se tratava de uma entrevista sobre o tema abordado na revista.

Eu precisava urgentemente de um “hierofante” que ajudasse a tornar minha vida angustiada em uma vida possível.

7) Tinha por volta de 23 anos naquela época.

Frente a frente com CARLOS BYIGNTON derramei minhas mágoas, elenquei um por um dos meus traumas infantis. Citei Freud, Adler, Klein e outras autores para finalmente dizer que um certo CARL JUNG, a quem acabara de conhecer no balcão da livraria Vozes, havia me tocado profundamente e eu senti que o meu coração ansiava por aquele alimento vital.

8) Mas o pior ainda estava por vir.

Dr. CARLOS BYIGNTON me escutava atentamente e mal se mexia em sua cadeira. Depois de derramar todas as minhas neuroses sobre o seu colo eu o encarei e respirando fundo busquei coragem nas minhas entranhas para dizer:

eu não tenho dinheiro para pagar a análise.

9) De súbito a sua fisionomia séria e atenta cedeu a uma gargalhada estrondosa. Fiquei paralisado pois não consegui compreender o que exatamente aquela ruidosa gargalhada poderia significar.

Lentamente seu rosto foi perdendo as marcas do sorriso, tornou-se sério e um profundo silêncio se fez no consultório.

Formou-se uma certa tensão no ar. Ouvia-se o zunido do silêncio e também as batidas do meu coração. Eu não teria outra chance…

10) Tinha feito duas ou três tentativas de análise antes de estar ali, mas abandonei todas elas imediatamente ao iniciar… careciam de vida.

Mas diante de CARLOS BYIGNTON, que eu nunca tinha ouvido falar e que só o conhecia do artigo que lera na revista que comprei numa banca de jornal, tive a certeza de que encontraria partes essenciais de minha alma, que se revelavam a mim sob a forma intolerável de dor psíquica.

11) Ele levantou os olhos e me fitou com uma certa violência, como se quisesse vasculhar meu inconsciente para em seguida dizer:

não sei porque, mas sinto que devo recebê-lo.

12) Ao ouvir essa declaração experimentei uma felicidade indizível pois tinha absoluta certeza de que aquele espaço sagrado era o lugar familiar que a minha alma procurava para revelar-se.

13) Não tive a impressão de que se tratava de um ato caridoso dele para comigo.

Acho que BYIGNTON sentiu que havia alma na minha vida. Não porque eu me tornaria um arauto da psicologia
analítica, ou porque me tornaria analista junguiano, doutor ou pós doutor.

Não me tornei nada disso! Não sinto que tenha me visto como uma promessa futura.

Acho que BYIGNTON simplesmente me aceitou porque viu que algo em mim queria que eu me tornasse quem eu sou e isso foi suficiente para que me aceitasse como seu paciente.

13.A) Ele era um homem completamente seduzido pelo Self e jamais viraria as costas para sua vocação de grande sacerdote da alma.

14) Durante 5 anos fui ao Leblon ser atendido por ele. Um homem extraordinário, de uma sensibilidade igualmente extraordinária.

Os balbucios do meu ser inconsciente ganharam locuções límpidas, serenas e conscientes através das interpretações de CARLOS BYIGNTON e o aprofundamento nos estudos da da psicologia de CARL JUNG.

15) Da juventude dos meus 23 anos até o início de minha velhice nos meus atuais 60 anos há um espaço de tempo importante.

Tantas coisas aconteceram, meu Deus! E eu me sinto tão bem, tão feliz com todas as minhas infelicidades que
constituem a eterna polaridade LUZ e SOMBRA que nos abraça por dentro.

16) Através da análise com BYIGNTON pude compreender que somos uma espécie de usina transformando em luz tudo que nos chega da escuridão do nosso ser profundo.

Somos um Self que flui, que chega, que nos convida a compreender, a sentir, a saber.

17) Olhando retrospectivamente esse encontro compreendo perfeitamente que CARLOS BYIGNTON não era para mim uma pessoa, se é que alguma vez o foi, e tornou-se um símbolo estruturante (ele adorava essa expressão!), um anjo bom ou, se preferimos usar uma linguagem mais rebuscada, um objeto mental introjetado com sucesso ou mesmo, como diria BION, uma FUNÇÃO PSÍQUICA da ARTE DE COMPREENDER os SÍMBOLOS.

18) Depois que CARLOS BYIGNTON foi para São Paulo praticamente não o encontrei mais excetuando-se quando lhe convidei para gravar um vídeo documentário que estava produzindo chamado JUNG E O OCULTISMO.

Ele aceitou o convite e gravamos esse trabalho aqui no Rio de Janeiro.

19) Por volta de uns 6 meses atrás pedi a uma amiga da SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA ANALÍTICA (SBPA) que me avisasse quando ele viria ao Rio. Senti vontade de vê-lo.

Meditei sobre esse desejo e tive certeza de que não mais o encontraria.

Não fiquei triste pois reconheci claramente que era essa a vontade do destino.

20) Soube da homenagem que seria prestado a ele na CASA QUINTAL no dia 13 de março, através de uma amiga que é bordadeira!

Não fosse ela me enviar o informativo do encontro eu não teria sabido desta homenagem.

21) Como bom junguiano que sou julguei que CARLOS BYIGNTON estivesse por trás da inusitada situação que envolveu a bordadeira e que quisesse a minha presença.

Desmarquei o consultório e fui “ao seu encontro”.

22) Por fim, devo dizer que estou muito contente do destino ter me dado essa oportunidade de conhecer esse homem que “salvou a minha” vida. Parece tolo falar assim dessa maneira, “salvou a minha vida”! mas não me incomoda
vez por outra me expressar como um tolo.

23) Ademais, CARLOS BYINGTON não foi o único a “me salvar”, mas inegavelmente tudo começou na RUA ALMIRANTE PEREIRA GUIMARÃES, quando um garoto pobre, angustiado e sozinho encontrou alguém que falava com o coração.

Que Deus o receba na sua plenitude

Esse depoimento pode ser encontrado na REVISTA JUNGUIANA da SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIA ANALÍTICA (SBPA), N° 37/1. 2019.



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José Raimundo Gomes

J. R.GOMES é psicólogo clínico no Rio de Janeiro. Tem consultório na Tijuca e na Barra. Contato: jrgomespsi@yahoo.com.br / WhatsApp: 21.98753.0356

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