O I Ching e as sequências de Fu Xi e do Rei Wen

O I Ching e as sequências de Fu Xi e do Rei Wen

Certamente o estudo do I Ching tornou-se mais conhecido no ocidente com a tradução do livro O Tratado das Mutações de autoria do teólogo alemão Richard Wilhelm na década de 30 do século passado.

Os quatro autores do I Ching – O Tratado das Mutações

O Tratado das Mutações é um livro elaborado pouco a pouco, entre 5577 e 479 a. C. e é fruto basicamente do trabalho de 4 autores: Fu Xi, Rei Wen, Duque de Zhou e Confúcio.

Fu Xi e a criação do I Ching

Fu Xi foi o criador do princípio que rege o I Ching. Portanto, tendo por base o Ho Tu (Mapa do Rio) ele desenvolveu as Linhas Yin e Yang, os 8 Trigramas e os 64 Hexagramas.

Rei Wen foi o primeiro comentarista

Mais tarde, o Rei Wen dedicou-se ao estudo do conhecimento deixado por Fu Xi, escrevendo os primeiros comentários que originaram o Tratado das Mutações.

Ele é o autor dos Versos sobre os hexagramas conhecido como Julgamento. Decerto, seu trabalho veio facilitar e ampliar o entendimento do I Ching.

Duque de Zhou continuou a tradição do Rei Wen

Posteriormente, o Duque de Zhou, herdeiro da tradição do Rei Wen, prosseguiu na elaboração do texto do I Ching.

Escreveu o texto Versos sobre as Linhas, conhecido como Linhas, que determinam com mais detalhes o significado de cada Linha no contexto do Hexagrama.

Confúcio foi o grande comentarista do I Ching

Por fim, o comentarista que mais se dedicou a compreender o I Ching foi Confúcio.

Escreveu vários textos que aprofundaram os estudos anteriores permitindo uma melhor compreensão do I Ching.

Dizem que ele dedicou cinquenta anos da sua vida ao estudo do I Ching.

O conhecimento sobre o I Ching e o simbolismo do pássaro

Os estudiosos do I Ching costumam associar o conhecimento produzido pelos quatro autores  ao simbolismo do pássaro.

Dessa maneira, as criações de Fu Xi seriam a cabeça, os Julgamentos do Rei Wen seriam o corpo; as Linhas do Duque de Zhou seriam a cauda e, por último, os textos de Confúcio seriam as asas.

Das duas sequências mais conhecidas de organização dos Hexagramas

Quanto à apresentação da sequência dos Hexagramas, temos duas versões que chegaram até os nossos dias: a sequência do Céu Anterior e a sequência do Céu Posterior.

Ambas usam os mesmos símbolos, nomes e significados dos Hexagramas, diferenciando apenas nas organizações das sequências.

A Sequência do Céu Anterior tem origem  em Fu Xi  e é atribuída ao I Ching Ancestral ao passo que  a Sequência do Céu Posterior foi definida pelo  Rei Wen e ficou conhecida como o I Ching da Dinastia Zhou.

Em poucas palavras, na concepção chinesa, Céu Anterior refere-se àquilo que não ainda não foi manifestado, é o potencial de algo ainda em estado latente. Por sua vez, Céu Posterior relaciona-se a tudo que está no nível do manifestado.

Sequência do Céu Anterior e o I Ching da tradição de Fu Xi

Assim, na sequência do Céu Anterior busca-se a orientação do I Ching para algo que está obscuro, inconsciente, através do meio retroativo.

Tal como diz Confúcio: “ Contar os acontecimentos do passado é um movimento progressivo. No entanto, descobrir os acontecimentos do futuro é um movimento retroativo”.

A sequência inicia no Hexagrama Abrangência e termina no Criativo.

No estudo do I Ching feito por Fu Xi prevalece a sequência retroativa que parte do Hexagrama Terra (Kun) e termina no Hexagrama Céu (Qián).

Nessa visão, parte-se do Zero (Hexagrama Kun) até chegar ao 63 (Hexagrama Qián).

Ademais, é  um estudo que tem por base o processo matemático de números binários. Em virtude disso, Fu Xi atribuiu à Linha Yin o número 0 e à Linha Yang o número 1

Desse modo, o I Ching do Céu anterior baseia-se fundamentalmente no conceito de circularidade dos 64 Hexagramas.

Sobretudo é uma sequência infinita, sem começo nem fim, onde qualquer ponto  poderia ser o começo ou o fim.

Essa é a sequência que utilizo de acordo com o ensinamento que recebi do meu mestre.

Sequência do Céu Posterior e o I Ching na visão do Rei Wen

O estudo Rei Wen, que viveu durante a Dinastia Zhou, ficou conhecido como o I Ching clássico.

O I Ching  do Rei Wen pode ser dividido em duas partes ou dois livros

Desse modo, o  I Ching clássico é dividido  em duas partes.

A primeira parte, que começa com o Hexagrama Céu seguido pelo Hexagrama Terra, trata do Ciclo da Natureza e do seu desenvolvimento.

Esta primeira parte é composta de 30 Hexagramas e é conhecida como Livro I.

A segunda parte começa no Hexagrama Comunhão e é composta de 34 Hexagramas. Conhecida como Livro II.

Assim, essa etapa começa pela atração e o afeto que existe entre homem e mulher e a partir daí surge o princípio da família e da sociedade humana. Trata do Ciclo da Sociedade e do seu desenvolvimento.

Antes de mais nada, na visão estabelecida pelo Rei Wen,  a sequência de 64 Hexagramas é composta de 32 duplas antagônicas e invertidas, regidas pela ordem social.

Essa é a sequência que iremos encontrar na tradução de Richard Wilhelm, por exemplo. O Mestre Alfred Huang também a utiliza em seu livro sobre os Hexagramas.

Concluindo, o I Ching é uma fonte preciosa de conhecimento que pode ser estudado  a partir de vários pontos de vista em qualquer momento.

O que é fundamental destacar é que todas as abordagens estabelecidas ao longo dos tempos buscam atingir o mesmo objetivo: que o I Ching conecte nos ao Tao colaborando no nosso autoconhecimento.

Decerto,  temos um longo caminho a percorrer.



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Telma Bonniau

Sou taoísta, consultora de I Ching, Zi Wei Dou Shu, BaZi, Feng Shui, estudo acupuntura, pratico Caligrafia Chinesa, Tai Chi, Qi Gong e Ikebana. Gosto de viver a vida, na companhia dos meus amigos e dos meus livros e curtir a energia da natureza. tbonniau@yahoo.com.br Publico meus artigos aqui e também na minha página no Facebook, Conhecendo o Zi Wei Dou Shu e as artes taoístas https://www.facebook.com/ConhecendoOZiWeiDouShu/. WhatsApp: 21-998950391

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