A luta de Tereza de Benguela e as mulheres da resistência
A luta de Tereza de Benguela e as mulheres da resistência
Patriarcado e racismo sustentam o capitalismo
Desde os primórdios da história, a humanidade foi sendo estruturada por outras relações de dominação, como racismo, o colonialismo e a opressão da sexualidade.
Na América Latina, nossa história é marcada pelo colonialismo, e pelo racismo, que produzem, estruturam o capitalismo, e aprofundaram o patriarcado
O patriarcado, origem da opressão sobre as mulheres, é um sistema fundamentado na divisão sexual do trabalho e na propriedade privada, e é muito anterior ao capitalismo.
No modo de produção capitalista, o patriarcado, assim como o racismo, torna-se base de sustentação da ordem do capital, se ampliando a partir da exploração do trabalho e da vida das mulheres.
O sistema capitalista, patriarcal e racista, atua em um sentido de totalidade, articulado no todo da realidade social.
Tereza de Benguela foi uma líder quilombola que viveu em lugar incerto, mas sabe-se que o quilombo estava às margens do rio Guaporé, no qual está localizado na cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade, no atual estado de Mato Grosso,[1] no Brasil, durante o século XVIII.
O Quilombo como espaço de acolhimento e, resistência e luta
Escrava fugida do capitão Timóteo Pereira Gomes, Tereza foi esposa de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho ou do Quariterêre, entre o rio Guaporé (a atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia) e a atual cidade de Cuiabá, na década de 1740.[1]
Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a rainha do quilombo no início dos anos 1750, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas, sobrevivendo até 1770, quando o quilombo foi destruído pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho e a população (79 negros e 30 índios), morta ou aprisionada. Os sobreviventes passaram por humilhação pública, e foram marcados em ferro com a letra F, de fujão, e devolvidos aos seus antigos donos.
Administração
– Para governar o quilombo, a rainha desenvolveu um sistema de parlamento, onde semanalmente se reuniam os deputados para decidirem sobre a administração do quilombo, sendo o de maior autoridade e tido por conselheiro, José Piolho, escravo da herança de Antônio Pacheco de Morais.
A rainha Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas.
Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumento de trabalho, visto que dominavam o uso da forja.
O Quilombo do Guariterê, além do parlamento e de um conselheiro para a rainha, desenvolvia agricultura de algodão e possuía teares onde se fabricavam tecidos que eram comercializados fora dos quilombos, como também os alimentos excedentes.
A Morte de Benguela
– Em 27 de junho de 1770 uma expedição saiu em direção ao quilombo, com a missão de destruí-lo. Chegaram ao local em 22 de julho, e abriram fogo nos quilombolas, porém a maioria conseguiu fugir. Houve resistência liderada por Tereza, que revidou com arma de fogo, além de flechas, mas não foi o suficiente.[2]
Tereza foi colocada numa cela, onde era tratada com palavras rudes na frente de seus antigos comandados.
Nessa situação, ela ficou muda, e morreu dias depois, em tristeza.
Após a morte, arrancaram-lhe a cabeça e colocaram-na no alto de um poste dentro do quilombo, para que todos pudessem vê-la.
Dia Nacional de Tereza de Benguela
– O dia de 25 de julho é instituído no Brasil pela Lei n° 12.987/2014 como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.
Carnaval
– A Unidos do Viradouro homenageou Tereza com o enredo “Tereza de Benguela, uma rainha negra no Pantanal”, ficando em 3º lugar no Carnaval do Rio de Janeiro em 1994.
A escola de samba de São Paulo Barroca Zona Sul, em seu samba enredo “Benguela… A Barroca Clama a Ti, Tereza”, homenageou Tereza da Benguela no Carnaval de São Paulo em 2020.
Benguela representa muitas outras, ecoam nas manifestações de movimentos feministas e de mulheres que são diversos, e que apontam caminhos em tempos de crise profunda do capital.
Precisamos nos mobilizar na ofensiva contra esse modelo.
O momento nos exige muita organização e a capacidade de nos articular para fazer lutas que possam alterar nossa vida cotidiana, para transformar a história.
Uma afro abraço.
Claudia Vitalino
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