8 de março das mulheres negras?

8 de março das mulheres negras?

HOMENAGEM POR ESTE 08 DE MARÇO – dia internacional das mulheres. Esta mulher negra representando as tantas outras que fizeram e fazem história neste país faz parte da minha homenagem para que não esqueçamos jamais de nossas antepassadas e as que ainda estão de pé na luta abrindo caminho para um futuro, sem racismo, machismo, lésbofobia e intolerâncias.

Tereza de Benguela – Tereza de Benguela foi uma liderança quilombola que viveu no século XVIII. Mulher de José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, Mato Grosso. Quando seu marido morreu, Tereza assumiu o comando daquela comunidade quilombola, revelando-se uma líder ainda mais implacável e obstinada. Valente e guerreira ela comandou o Quilombo do Quariterê, este cresceu tanto sob seu comando que chegou a agregar índios bolivianos e brasileiros. Isso incomodou muito as autoridades das Coroas, espanhola e portuguesa. A Coroa Portuguesa, junto à elite local agiu rápido e enviou uma bandeira de alto poder de fogo para eliminar os quilombolas. Tereza de Benguela foi presa. Não se submetendo a situação de escravizada, suicidou-se.
Líder Benguela – Sua liderança se destacou com a criação de uma espécie de Parlamento e de um sistema de defesa. Ali, era cultivado o algodão, que servia posteriormente para a produção de tecidos. Havia também plantações de milho, feijão, mandioca, banana, entre outros. Após ser capturada em 1770, o documento afirma: “em poucos dias expirou de pasmo. Morta ela, se lhe cortou a cabeça e se pôs no meio da praça daquele quilombo, em um alto poste, onde ficou para memória e exemplo dos que a vissem”. Alguns quilombolas conseguiram fugir ao ataque e o reconstruíram – mesmo assim, em 1777 foi novamente atacado pelo exército, sendo finalmente extinto em 1795.
Injustiças centenárias
Números do IBGE apontam que ser mulher negra no Brasil significa sofrer com uma intensa desigualdade, como no campo profissional por exemplo. 71% das mulheres negras estão em ocupações precárias e informais, contra 54% das mulheres brancas e 48% dos homens brancos. O salário médio da trabalhadora negra continua sendo a metade do salário da trabalhadora branca. Mesmo quando sua escolaridade é similar à escolaridade de uma mulher branca, a diferença salarial gira em trono de 40% a mais para esta.
A história da “Rainha” foi relembrada em 1994 pela escola de samba Unidos da Viradouro no samba-enredo “Tereza de Benguela, uma rainha negra no Pantanal”.
Em diversas situações, a história dos heróis negros e heroínas negras estão imbricadas à luta geral da população negra em contraposição ao escravismo e/ou outras várias formas de racismo presentes na sociedade brasileira. Mas é importante salientar que muitas dessas personagens continuam anônimas na história brasileira.
Precisamos dar protagonismo às lutas históricas das mulheres negras que combatem, diariamente, o racismo, o sexismo, a lesbofobia e a transfobia, além de incluir na agenda discussões como a qualidade da saúde pública, os direitos reprodutivos e intolerância religiosa. Quando pensamos no simbólico 8 de março, Dia Internacional da Mulher, entendemos que não existe um feminismo possível sem a compreensão dessas perspectivas.

Um afro abraço.

Claudia Vitalino.
Pesquisadora-Historiadora-Comissão estadual da verdade da escravidão negra – CTSPN/UNEGRO/Coordenadora do grupo de pesquisa do Instituto Perola Negra

fonte: SANTOS, Ângela Maria dos & SILVA, João Bosco da(orgs.). História e Cultura Negra: Quilombos em Mato Grosso. Cuiabá: Gráfica Print Indústria e Editora ltda/SEDUC, 2009. pp. 32




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Claudia vitalino

UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro Comissão Estadual Pequena Africa. Email: claudiamzvittalino@hotmail.com / vitalinoclaudia59@gmail.com

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