Angela Yvonne Davis

Angela Yvonne Davis

I – Os anos de terror na infância:

Nascida em Birmingham quando esta ainda era uma cidade segregada. Angela cresceu em um bairro marcado pela monstruosa tradição de se explodir casas de famílias. E também igrejas nos bairros negros – preferencialmente com as famílias ainda dentro dos locais.

Quando ela nasceu, uma das mais populares organizações civis da época era a Ku Klux Klan. Sendo esta, todavia, simbolizada pelo hábito de perseguir, linchar e enforcar qualquer negro que lhe cruzasse o caminho.

Assim, quando fala sobre as forças racistas, os extremistas conservadores e as consequências do racismo. Ou ainda sobre machismo e desigualdade social, Angela Davis sabe o que diz.

II – O início de sua resistência:

Ainda adolescente ela organizou grupos de estudo inter-raciais, que acabaram perseguidos e proibidos pela polícia. Quando migrou para o norte dos EUA, Angela foi estudar filosofia na universidade de Brandeis, no estado de Massachussetts. Onde calhou de ter como professor ninguém menos que Herbert Marcuse, o pai da “nova esquerda” americana. Ele advogava justamente em favor dos direitos civis, do movimento gay e da desigualdade de gêneros, entre outras causas.

Em 1963, uma igreja foi explodida em um bairro negro de Birmingham. E as 4 jovens mortas no atentado eram amigas de Angela. Tal acontecimento funcionou como o estopim necessário para que Angela tivesse certeza que não poderia ser outra coisa que não uma ativista na luta por direitos iguais. Tanto pelas mulheres, quanto pelas mulheres negras, sobretudo as mulheres negras e pobres.

III – Integrante da lista dos mais procurados no país:

Em 18 de agosto de 1970, Angela Davis tornou-se a terceira mulher a integrar a Lista dos Dez Fugitivos Mais Procurados do FBI. Ao ser acusada de conspiração, sequestro e homicídio. E isto por causa de uma suposta ligação sua com uma tentativa de fuga do tribunal do Palácio de Justiça do Condado de Marin, em São Francisco.

Durante o verão daquele ano, Angela estava envolvida nos esforços dos Panteras Negras. A fim de conquistar o apoio da sociedade a três militantes presos, George Jackson, Fleeta Drumgo e John Clutchette. Sendo conhecidos como os “Irmãos Soledad”, por terem sido aprisionados na Prisão de Soledad, em Monterey.

No dia 7 de agosto, Jonathan Jackson, o irmão de 17 anos de George. Em companhia de dois outros rapazes, interrompeu de armas na mão um julgamento num tribunal. Na tentativa de ajudar na fuga do réu do caso que estava sendo julgado, o amigo James McClain. Sendo este acusado de ter esfaqueado um policial.

Jonathan e seus amigos se levantaram do meio da assistência na sala do júri e renderam todos no recinto. Conduzindo logo após o juiz, o promotor e vários jurados para uma van estacionada do lado de fora. Ao entrar na van, Jackson gritou que queria os “Irmãos Soledad soltos até o meio dia e meia em troca da vida dos reféns”.

Entretanto, no tiroteio que se seguiu com a perseguição policial ao grupo, Jonathan e um amigo foram mortos pela polícia. Não sem antes matarem o juiz Harold Haley, com um tiro na garganta. E o promotor raptado ficou paralítico em virtude de um tiro da polícia. As investigações que se seguiram identificaram a arma de Jonathan como registrada em nome de Angela Davis.

“Nós representamos as poderosas forças de mudança que estão determinadas a impedir que as moribundas culturas do racismo e do patriarcado heterossexual se ergam novamente” (Angela Davis)

Figura símbolo da causa negra na década de 1960 nos EUA, Angela voltou recentemente ao centro das atenções da mídia americana. Após seu contundente discurso na Marcha das Mulheres, em Washington, D.C., nos EUA – no dia seguinte à posse de Donald Trump. Sua história de resistência e luta, no entanto, é em muito a história da mulher negra americana do século XX. E volta muitos anos atrás.

Negra, ativista, marxista, feminista. E acima de tudo, lutadora, educadora e professora americana. Angela Davis certamente pertence ao segundo time – e não exatamente por escolha – de mulheres negras que quiseram um mundo mais justo. E que inegavelmente não tinham outra possibilidade que não o árduo caminho da luta.

Angela Davis candidatou-se a vice-presidente dos Estados Unidos em 1980 e 1984. Como companheira de chapa de Gus Hall, presidente do Partido Comunista Americano, tendo votação irrisória. Continuou sua carreira de ativista política e escreveu diversos livros, principalmente sobre as condições carcerárias no país.

Não se considera uma reformista prisional, mas uma abolicionista. Em suas palestras, refere-se sempre ao sistema carcerário dos Estados Unidos como a um complexo industrial de prisões. Advoga como solução para o problema a extinção do cumprimento de penas em presídios. Apontando a maioria de negros e latinos entre os presidiários do país. E, conquanto, atribui a causa disso a origem de classe e raça dos apenados.

Nos últimos anos, continua a proferir discursos e palestras, principalmente em ambientes universitários. E se mantém como uma figura proeminente na luta pela abolição da pena de morte na Califórnia. Outrossim, em 1977-1978 foi-lhe atribuído o Prêmio Lênin da Paz.

“A luta por liberdade do povo negro, que moldou a própria natureza da história desse país, não pode ser apagada com um gesto. Nós não podemos ser forçados a esquecer que a vida negra importa. Esse é um país ancorado na escravidão e no colonialismo, o que quer dizer, para o bem e para o mal, que a história dos EUA é uma história de imigração e escravidão. Espalhar xenofobia, atirar acusações de assassinatos e estupros e construir muros não vai apagar a história”.

Angela Davis era tudo que o status quo masculino e branco não tolerava. Uma mulher negra, inteligente, altiva, senhora de si, orgulhosa de suas origens e de seu lugar. Desafiando o sistema que oprimia e violentava seus pares. E isso sem jamais baixar a cabeça ou o volume de sua voz.




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Claudia vitalino

UNEGRO-União de Negras e Negros Pela Igualdade -Pesquisadora-historiadora CEVENB RJ- Comissão estadual da Verdade da Escravidão Negra do Estado do Rio de Janeiro Comissão Estadual Pequena Africa. Email: claudiamzvittalino@hotmail.com / vitalinoclaudia59@gmail.com

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