O Projeto Hindsight ou Retrospectiva IV

O Projeto Hindsight ou Retrospectiva IV

I – O objetivo do projeto:

Como vimos, o Projeto Hindsight ™ foi fundado em 1993 com o objetivo de traduzir os textos sobreviventes da tradição astrológica ocidental para o inglês. E disponibiliza-los para a comunidade astrológica.

Primeiramente, em seu início, o Projeto Hindsight era uma espécie de aposta. Não era de modo algum certo que encontrássemos algo de importância capital. E isto mesmo para os astrólogos se comprometendo a traduzir e estudar os textos originais da astrologia ocidental.

II – As expectativas renascentistas:

No entanto, tínhamos altas expectativas. Sabíamos que em todos os outros casos em que os escritos gregos dos períodos clássicos ou helenísticos foram inicialmente descartados como triviais (os diálogos de Xenofonte). Ou mesmo como evidência do declínio do pensamento clássico (a filosofia e a lógica dos estóicos). Mais, decerto, cuidadosos estudos subsequentemente reverteram esse veredicto prematuro.

Também sabíamos que, historicamente, episódios de intensa atividade de tradução estavam associados a períodos de renascimento em um determinado campo. Particularmente quando tal atividade havia sido sustentada pela crença de que alguma “pérola de grande valor” poderia ser encontrada nos textos antigos da “era de ouro”.

Outrossim, pareceu-nos que ainda era possível admitir tal noção na astrologia. E tomamos como modelo o grande programa do final da Renascença. Que procurou restaurar a arte perdida da álgebra antiga. E acabou por fundar a matemática moderna.

Chegamos a sentir um certo parentesco próximo com os arqueólogos matemáticos da época. Já que em seus dias a álgebra não tinha o semblante das universidades. A álgebra era considerada por alguns como uma das disciplinas ocultas. E ocasionalmente era até manchada pelo pincel da “arte negra”. Inegavelmente uma curiosa inversão de papéis.

III – O distanciamento necessário:

Finalmente, sabíamos por nossa própria experiência, bem como o exemplo dos restauradores matemáticos, que a imersão no pensamento passado era uma excelente maneira de ganhar alguma distância. E conquanto clareza sobre o pensamento moderno em uma dada disciplina. Da mesma forma que o estudo de uma língua estrangeira é reconhecido para melhorar a compreensão da própria língua nativa.

Por todas essas razões, pensamos então que nosso projeto valeria a pena.

IV – O plano frustrado:

Entretanto, quando o Projeto Hindsight entrou em cena pela primeira vez, os astrólogos modernos não tiveram acesso fácil à sua própria tradição. Apenas alguns escritos astrológicos antigos foram traduzidos para qualquer idioma moderno.

Contudo, essas traduções ainda foram feitas por classicistas ou historiadores da antiga astronomia. Que tinham decerto muito pouco interesse nos detalhes da prática astrológica. Eles também tinham sido feitos relativamente isolados uns dos outros. Durante um período de 50 anos ou mais, não havia nenhum esforço coordenado e sustentado para chegar às raízes da antiga astrologia.

V – Desmistificando a astrologia:

Foi útil para nós que a maioria dos textos gregos já tivessem sido criticamente editados. De modo que pelo menos não precisávamos trabalhar com manuscritos. Esses textos se estendiam diante de nós como um vasto e misterioso continente. Ao mesmo tempo sedutor e intimidador.

Particularmente intrigante foi o misterioso e volumoso Catalogus Codicum Astrologorum Graecorum. Ou CCAG abreviado. Constituindo em tratados astrológicos curtos ou fragmentários. Então recolhidos de bibliotecas européias. Que permaneceram praticamente não lidos e não estudados por centenas de anos.

Também tomamos a decisão deliberada de não nos aprofundarmos nas pesquisas anteriores sobre a história da astrologia. Muitas das quais, à primeira vista, eram de tom sarcástico e desconsideravam a astrologia como um absurdo supersticioso.

Tanto quanto possível, queríamos ter um novo encontro com esse material. E fazer nosso próprio julgamento quanto a seus méritos. Sabíamos que seria necessário mais do que uma mera suspensão da descrença sobre o caráter “pseudocientífico” da astrologia em geral para levar nossa investigação de forma responsável à conclusão.

VI – O início o trabalho de interpretação:

Isso exigiria uma disposição positiva para entrever a possibilidade de que alguma coisa de valor possa ser encontrada nesses textos. Aparentemente pouco promissores se lhes dedicássemos até mesmo uma parte da atenção que foi dada a autores mais “respeitáveis”. Dos períodos clássico e helenístico. E mesmo se os estudássemos com respeito, como a vida de homens inteligentes.

Nós sentimos que o estudo da erudição anterior não era propício para o cultivo dessa atitude. Agora, a tradução de escritos astrológicos – ou quaisquer escritos antigos, por sinal – está longe de ser uma tarefa rotineira ou mecânica. É um exemplo perfeito de uma operação de “bootstrapping”. Pois você não pode traduzir algo adequadamente sem entendê-lo. E você não pode entendê-lo até traduzi-lo. É por isso que a tarefa não pode ser executada com um programa de computador.

Embora o tradutor precise ter domínio da língua, isso está longe de ser um pré-requisito suficiente. Idealmente, a tradução deve ser feita por alguém que também tenha interesse genuíno no conteúdo real do texto. E respeite a inteligência de seu autor.

Caso contrário, ele não estará comprometido em seguir todas as pistas. Não permanecerá sensível a todas as sutilezas. Não será implacável em desmascarar o que outros autores, ou tomaram por certo ou tentaram esconder. Infelizmente, as traduções anteriores de escritos astrológicos não refletem esses padrões.

VII – Os desafios enfrentados:

No caso da astrologia helenística, nos deparamos com uma terminologia técnica tentadoramente sugestiva e multivalente. Não apenas isso, mas tivemos que lidar com textos que estavam freqüentemente corrompidos ou fragmentados.

E, posteriormente, epítomes do período bizantino que podem ter deixado muito da substância dos escritos originais para trás. Nenhum dos textos originais é escrito em um estilo “falador” ou informal. Seus estilos literários vão desde poemas didáticos educados, com base em um vocabulário arcaico. Até as complexidades arquitetônicas comuns na escrita expositiva da época.

Algumas das seções que contêm um extenso texto de delineamento de “livro de receitas”. Parecem empregar dispositivos composicionais desconhecidos. Servindo para minimizar a necessidade de repetição.

Segue no próximo artigo…

Esse não é um artigo autoral vide link http://www.projecthindsight.com/products/index.html

http://www.grupomeiodoceu.com/internas/2018/12/09/o-projeto-hindsight-ou-retrospectiva-i/

http://www.grupomeiodoceu.com/internas/2018/12/15/o-projeto-hindsight-ou-retrospectiva-ii/

http://www.grupomeiodoceu.com/internas/2019/01/05/o-projeto-hindsight-ou-retrospectiva-iii/

 




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