O DIAGNÓSTICO AYURVÉDICO
O DIAGNÓSTICO AYURVÉDICO
Abordagem do Ser Humano como um todo
Até há pouco tempo, a pessoa que buscava um tratamento de saúde era chamada apenas de paciente.
Um nome bastante adequado tendo em vista a jornada que ele estava se propondo a enfrentar.
Ultimamente, muitos serviços de saúde passaram a adotar a denominação de cliente. Isso se dá, tendo em vista que este é um comprador do serviço prestado.
São os progressos do marketing de relacionamento.
Todavia, para o Ayurvedista, a pessoa humana é mais que um cliente ou um paciente.
Ele é considerado tanto um Ser semelhante, quanto um irmão, um companheiro de jornada.
Isto é assim porque o Ayurveda aborda essa pessoa como um todo. É olhado em seu complexo biológico, assim como psicológico, emocional, espiritual e social.
Portanto, dotado de sensibilidade e afetividade que merecem uma atenção especial e constante.
E mais além disso, o Ayurveda aborda a vida da pessoa como um todo. Tanto em seus aspectos sociais, quanto familiares, profissionais e ambientais.
Sabemos que é preciso compreender a dinâmica da vida da pessoa, seus hábitos, rotinas, crenças, convicções e atitudes.
Nesta abordagem, a doença é apenas um dos aspectos que fazem parte do contexto. Entretanto, a pessoa não se resume a ela e muito menos a sua vida é restrita a tal condição.
Para o Ayurveda, a vida da pessoa não pode girar em torno da doença.
A compreensão da profundidade do Ser Humano ultrapassa a pequena dimensão de um diagnóstico de enfermidade.
A pessoa humana, na visão do Ayurveda, jamais pode ser nominada como um doente e muito menos identificada pelo nome de uma enfermidade.
Uma pessoa jamais pode ser identificada por pertencer a um grupo de doentes, assim como não pode ser rotulada pelo nome de uma doença.
O Ayurvedista cuida da pessoa como um todo, em toda essa dimensão acima mencionada. Desta maneira holística, sistêmica, assim como humana e sensível.
Mas devemos ficar atentos, pois não se trata aqui de absorver um discurso para dourar a velha filosofia da biomedicina clássica. Tampouco, humanizar um atendimento mecanicista.
Não estamos falando do modelo que introduz princípios humanistas no trabalho com grupos de pacientes e ligas formadas por portadores de uma mesma patologia, tais como as ligas de hipertensão, de diabetes, etc.
Muito menos estamos mencionando as tentativas de humanizar os atendimentos nos convencionais sistemas ambulatoriais ou hospitalares.
A abordagem ayurvédica é sistêmica por sua própria natureza e origem conquanto ela é holística.
Tanto humana quanto sensível por princípio, em toda a sua dimensão filosóífica e prática.
O Ayurvedista deve cuidar da pessoa e da sua dinâmica de vida.
Por exemplo, dentro de uma perspectiva de fraternidade espiritual, a partir de uma orientação voltada para a promoção de saúde, bem estar e autonomia.
Por outro lado, de forma complementar ao trabalho do Ayurveda, a medicina ocidental moderna cuida da patologia e das abordagens diagnósticas e terapeutas alopáticas convencionais, igualmente importantes para a pessoa que vive na sociedade atual.
O Diagnóstico Ayurvédico é uma forma lógica e tradicional de compreender as condições do complexo bio-psico-energético da pessoa humana.
Isso de acordo com a filosofia e com a racionalidade do Ayurveda.
Ele refere-se apenas e exclusivamente aos aspectos de interesse à área de atuação do Ayurveda.
Portanto, área que é, como dissemos acima, tratar de temas relativos ao autoconhecimento.
Além do bem estar, ao desenvolvimento da saúde e da harmonia mente-corpo por meio de hábitos saudáveis. Se utilizando tanto de recursos naturais, quanto técnicas corporais, massagens, yoga e meditação.
o Ayurveda confere ao diagnóstico outra dimensão e conceito mais amplo.
Preconiza uma monitorização contínua das interações entre as forças do equilíbrio e desequilíbrio dentro do corpo.
Ao estabelecer uma íntima relação entre os sintomas dos desequilíbrios orgânicos e a perturbação da harmonia do sistema Tridosha , o Ayurveda eleva o diagnóstico ao nível da observação preventiva dos sintomas das doenças em seus estágios mais precoces.
Uma vez compreendida a natureza dos mais incipientes desequilíbrios da fisiologia, pode-se iniciar de imediato o trabalho de restabelecimento do estado de saúde, através de orientações e medicamentos naturais.
Com vistas neste diagnóstico preventivo, o Ayurveda ensina métodos muito precisos na compreensão do processo saúde-doença que se desenrola dentro do corpo.
Isso, antes mesmo da manifestação de sinais externos ou lesões orgânicas.
A detecção precoce dos desequilíbrios orgânicos e das suas reações fisiopatológicas permite a determinação da natureza das reações corporais futuras.
Em síntese, tendo em vista a Constituição Psico-Física, as tendências mórbidas, a situação dos Doshas. Qual seja, o meio-ambiente em que a pessoa vivência o seu ritmo cotidiano.
O Ayurveda estabelece que a observação cotidiana do Pulso, Língua, Face, Olhos, Unhas, Lábios, Fezes, Urina e Sintomas Subjetivos provêem dados fundamentais que indicam com grande precisão o estado do processo saúde-doença dentro do corpo, fornecendo valiosas informações sobre as tendências de desenvolvimentos patológicos, inclusive com possibilidade de determinar quais são os órgãos ameaçados e onde os Doshas e as toxinas estão acumulados.
De acordo com o Ayurveda, o estado de saúde é uma condição de ordem, enquanto que o estado de doença é uma condição de desordem orgânica.
Dentro do corpo, há uma constante interação entre a ordem e a desordem.
O Ayurveda ensina o homem sábio a estar completamente alerta à presença de desordem no seu corpo, e orienta como reestabelecer a ordem.
O meio interno do corpo está em constante reação com o meio ambiente (externo).
A desordem orgânica acontece quando esses dois meios estão em desequilíbrio.
Para mudar o meio interno, de modo que ele se equilibre com o meio externo, devemos entender como ocorre o processo da doença no Ser psico-somático.
No Ayurveda, o conceito de saúde é fundamental para se compreender o significado da doença.
Em primeiro lugar, o estado de saúde existe quando o fogo digestivo (agni) está em equilíbrio.
Em segundo lugar, quando os Princípios Vitais (doshas : Vata, Pitta e Kapha) estão em harmonia;
Em terceiro, quando os três excretas (malas : urina, fezes e suor) estão em quantitativa e qualitativamente equilibrados ;
Em quarto, quando os sentidos estão funcionando normalmente e o corpo, mente e consciência estão trabalhando harmonicamente como sendo um só.
Quando o equilíbrio de qualquer um desses sistemas sofre alterações, inicia-se o processo de doença.
O equilíbrio e harmonia desses elementos acima citados é o verdadeiro responsável pela resistência imunológica natural do corpo.
Portanto, mesmo uma doença contagiosa ou infecciosa não pode afetar uma pessoa que usufrui de plena saúde.
Ele estabelece que desequilíbrios do corpo, mente e meio ambiente são os responsáveis pelas dores e doenças físicas e psicológicas.
Os desequilíbrios do corpo são estes ligados aos fatores da fisiologia: doshas, agni, malas, srotas, etc.
Todos eles se relacionam diretamente com a alimentação, hábitos de vida e comportamento cotidiano.
Os desequilíbrios da mente são considerados aqueles causados “pela não satisfação dos desejos e o enfrentamento com o não-desejado” (Charaka).
Em síntese, a inabilidade para atuar de acordo com o momento e as circunstâncias, e de acordo com a Lei Natural.
O desequilíbrio mental origina-se do desenvolvimento dos doshas mentais: Rajas e Tamas (energias negativas e tendências destrutivas).
Esses, por sua vez, desequilibram os doshas físios : Vata , Pitta e Kapha.
Quanto aos desequilíbrios do meio ambiente , o Auyrveda inclui aqueles que são causados por fatores exógenos.
Tanto podem ser de natureza física, química, biológica ou traumática (fogo, poluição, lesões, microorganismos, etc…).
Se iniciam com sintomas locais e posteriormente culminam com o desequilíbrio dos doshas.
Todavia, a partir de uma visão mais profunda, o Ayurveda revela que o desequilíbrio causador de doenças pode originar-se mesmo na consciência, através de conteúdos psicológicos negativos, que se manifestam na mente.
É na mente que a semente da doença pode repousar nas profundezas do subconsciente sob a forma de medo, raiva ou apego.
Através da mente, tais emoções manifestam-se dentro do corpo.
Medos reprimidos provocam o desarranjo de Vata ; sentimentos de raiva, agrava Pitta; cobiça e apego aumentam Kapha.
Esses desequilíbrios dos Tridoshas afetam a resistência natural do corpo.
O sistema imunológico (muitas vezes comparado ao conceito de agni do Ayurveda ), e assim o corpo torna-se susceptível às doenças.
Algumas vezes, o desequilíbrio causador do processo patológico pode ocorrer primeiro no corpo e depois manifestar-se na mente e na consciência.
Alimentos, hábitos de vida e condições do meio-ambiente de natureza com atributos semelhantes aqueles dos doshas tornam-se geralmente antagonistas aos tecidos do corpo.
Eles podem criar um desequilíbrio que se manifesta primeiro no nível físico, e mais tarde afeta a mente através de um distúrbio no sistema Tridosha.
Por exemplo, distúrbios Vata podem gerar medos, depressão e nervosismo.
O excesso de Pitta no corpo pode causar a origem de raiva, ódio e ciúme.
A agravação de Kapha pode criar possessividade, cobiça e apego.
Por conseguinte, existe uma conexão direta entre dieta, hábitos de vida, meio ambiente e condição emocional.
É desta forma que o Ayurveda recomenda o diagnóstico preventivo.
Através da checagem cotidiana e sistemática dos indicadores do corpo.
Objetivando portanto, a detecção precoce dos sintomas patológicos assim como o estabelecimento de medidas terapêuticas também preventivas.
Ensinando que o corpo é um verdadeiro “livro vivo” que versa sobre a arte do auto-conhecimento e da vida em equilíbrio.
O Ayurveda recomenda que tal livro seja lido diariamente, pelo própria pessoa.
Dessa forma, ela pode corrigir com medidas mais simples as desarmonias em seu estado inicial.
