A realidade do mundo dos sonhos nos tempos antigos e hoje Parte II

 

A realidade do mundo dos sonhos nos tempos antigos e hoje

Parte II>>

Nosso ceticismo arbitrário não nos permite aceitar a existência daquilo que não conseguimos compreender através dos cinco sentidos.

Esses são os únicos instrumentos que sabemos usar em nossos processos de cognição.

Assim é que ignoramos que o problema está em nós e não no mundo onírico e que temos uma consciência adormecida e medíocre. Que nos impede de experimentar outras realidades.

Não colocamos atenção sincera na limitação dos nossos sentidos usuais. Não percebemos os sonhos diretamente pelos órgãos sensoriais externos e, por isso, pensamos que eles não existem.

Nos esquecendo de que a realidade possui níveis ou facetas usualmente não-sensoriais.

Portanto, em tais condições, tudo se passa, para nós, como se o usualmente não-sensorial fosse o nada.

Isto é, se isso fosse verdade, não haveria um espectro contendo sons inaudíveis. Nem feixes luminosos invisíveis ao olho nu, detectáveis apenas com o uso de equipamentos modernos.

A realidade do mundo dos sonhos nos tempos antigos e hoje – A igreja

Nem mesmo a religião conseguiu ampliar nossa consciência na direção de captar mais diretamente as realidades internas.

No entanto apesar de aparentemente se posicionar contra o arbitrário ceticismo reinante.

A igreja “já poderia nos ter resgatado dessa filosofia materialista, arrogante, se ela mesma não tivesse renegado suas próprias tradições.

E assim, como tudo o mais, sucumbido ao materialismo racionalista dos nossos dias.(…)

Ao enfatizar a vida da instituição mais do que a da alma, deixou de lado os sonhos.(…)

Foi o que minou a base da vida espiritual da igreja. Deste modo expondo-a ao mesmo materialismo e racionalismo que ela combatia e que se estendeu pelo mundo inteiro.

Sim, a igreja preferiu ignorar o fato de que a rejeição aos sonhos ia contra a visão contida na bíblia. Também contra o cristianismo primitivo.” (ibidem, p.14).

A realidade do mundo dos sonhos nos tempos antigos e hoje – Sonhos numinosos

O significado que o mundo dos sonhos possui para os religiosos de hoje seria completamente estranho às comunidades cristãs do séc I.

Ao rechaçá-lo, nossa igreja teve suas bases espirituais minadas. A vitalidade espiritual perdeu seu alicerce.

Certos sonhos que servem de fundamento às experiências religiosas possuem impressões de realidade tão impactantes.  Que chegam ao ponto de aterrorizar o sonhador (Sanford, 1988).

Eles parecem carregados, de modo especial, com energia psíquica. São os sonhos chamados ‘numinosos’.

A palavra vem do latim numen, que significa a divindade ou a força espiritual atuante.

Dizemos que experimentamos algo numinoso quando isso parece nos levar a participar da natureza de uma realidade espiritual diferente.

Consequentemente o que existe para além de nossa natureza pessoal. (…)

A realidade do mundo dos sonhos nos tempos antigos e hoje – Ser sendo criatura

A santidade de Deus é a própria numinosidade.

Assim, Rudolf Otto enfatiza que, diante do Deus de Israel, o homem sente temor, admiração, horror. Enfim, sente o ser próprio de criatura.

A numinosidade constitui a matéria-prima da experiência religiosa.” (pp. 33-34, grifo meu).

Experiências oníricas numinosas nos dão a sensação de participar de uma realidade trans-pessoal.

Conforme, sentimos estar em contato com algo verdadeiro que está além de nós mesmos e nos ultrapassa.

Obviamente, a experiência não provocaria terror se o seu conteúdo não fosse tomado como real.

Segundo a Bíblia, a realidade transcendente se revela ao homem durante as horas do sono, embora ele não perceba:

“(…)Deus fala de um modo, sim, de dois modos, mas o homem não atenta para isso.

A realidade do mundo dos sonhos nos tempos antigos e hoje – Deus fala através do sonho

Aliás, em sonho ou em visão de noite, quando cai o sono profundo sobre os homens. Portanto, quando adormecem na cama, então lhes abre os ouvidos e lhes sela a sua instrução.

Para apartar o homem do seu desígnio e livrá-lo da soberba; para guardar a sua alma da cova e a sua vida de passar pela espada.” (Jó 33. 14-18, grifo meu)

Deus instrui o homem dentro do mundo onírico e torna-o receptivo à Sua instrução. Sim, ele o protege e o ajuda a evitar a morte e a espada do inimigo. Isso não seria possível se o mundo dos sonhos fosse tomado como irreal.

Na autobiografia de um filósofo e teólogo persa do século XI, Al-Ghazzali (apud James, 1995).

Consequentemente, a realidade dos sonhos chegava a ser vista como a de um estado similar ao de Deus. Por fornecer o dom da profecia. Ele considerava que:

Posto que: “Deus aproximou o profetismo dos homens ao dar-lhes um estado análogo a Ele em seus caracteres principais. Esse estado é o sono. Se dissésseis a um homem sem nenhuma experiência com um fenômeno dessa natureza que existem pessoas capazes, em dados momentos, de desmaiar de modo que pareçam mortas e que [nos sonhos] ainda percebam coisas que estão ocultas, ele o negaria [e exporia suas razões para isso]. Não obstante, suas alegações seriam refutadas pela experiência real.” (p. 253)

Autor:  Cleber Monteiro Muniz




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