Viva São Sebastião! Viva Rei Sabá!
Viva São Sebastião! Viva Rei Sabá!
Em janeiro, comemora-se o dia de São Sebastião, santo católico, protetor da humanidade contra a fome, a peste e a guerra. Na Amazônia também comemora-se São Sebastião, em algumas cidades. Mas nesse texto vou apenas falar da comemoração que acontece em São João de Pirabas, no estado do Pará.
A cidade litorânea de São João de Pirabas é conhecida pela geografia afro-brasileira como
uma das três moradas do encantado Rei Sebastião – comumente chamado pelas pessoas de Rei Sabá – na Amazônia, segundo o professor Raymundo Heraldo Maués
.
O encantado não é santo, mas uma pessoa que não morreu, apenas foi encantada. Essa crença provavelmente tem sua origem na cultura europeia nas histórias de príncipes e princesas encantados. Que até hoje perduram nos contos de fadas do mundo ocidental, também provavelmente foi influenciada na concepção indígena dos habitantes “no fundo” ou abaixo da superfície terrestre. Por fim também por concepção africana, dos orixás, que são seres que não se confundem com os mortos.
O que se sabe é que pelo menos há mais de 70 anos acontece uma peregrinação fluvial-marítima. A qual sai de Pirabas até a praia do Castelo.
Mães e pais de santo, junto com seus filhos, celebram e cultuam Rei Sabá em seu território
oferecendo-lhe bebidas, frutas e outras oferendas no dia 20 de janeiro.
Rei Sabá é uma pedra grande, situada na praia do Castelo, na ilha de Fortaleza. Essa pedra tem formato de um rei sentado no trono. O nome Sabá é um diminutivo de Sebastião, mas não é qualquer Sebastião. Essa pedra refere-se ao rei Dom Sebastião, último monarca da dinastia de Aviz, desaparecido na Batalha de Alcacer-Quibir em 1578 em Marrocos.
Essa morte prematura foi responsável pelo domínio espanhol no território luso, daí surgiu uma lenda, o sebastianismo. Na qual afirma que quando Dom Sebastião retornar, Portugal retomará seu ciclo de riqueza.
O Sebastianismo fincou suas raízes na Amazônia, possivelmente porque nesse território até o século XIX havia uma grande ligação com Portugal.
Há histórias de três moradas do rei Sabá, primeiro, na ilha de Maiandeua, a qual já escrevi em outro texto http://www.grupomeiodoceu.com/internas/2019/12/13/quando-a-princesa-manda/ . Lá mora a Princesa, filha do Rei Sabá, é um local encantado.
Segunda, nos Lençóis Maranhenses, onde há uma vila de albinos, que se dizem descendentes de Dom Sebastião. Por último, a ilha de Fortaleza, um local mítico, em São João de Pirabas, cuja pedra é o próprio Rei Sabá. Onde também se cultuam suas filhas as princesas encantadas Jarina e Mariana.
A pedra do Rei Sabá é objeto de culto de adeptos do catolicismo, da umbanda e da pajelança.
A pedra está sempre enfeitada de velas, de fitas do tipo que se enfeitam os santos, de oferendas de toda sorte, principalmente tabaco e cachaça.
Conta -se que a única forma de desencantar a Princesa seria se um homem muito corajoso. Movido por um grande amor a ela, tivesse a coragem de quebrar o encanto. Dessa forma teria de armar-se de uma faca virgem, e ao cair da noite, ficasse à espreita. O intuito era esperar a cobra grande sair da água, visto que o bicho era a Princesa encantada. Depois lutar com o animal, esfaqueá-la, para tirar um pedaço de couro, assim o encanto estaria desfeito. A cobra grande voltaria a ser a bela Princesa. O mundo subterrâneo emergiria e tomaria conta desse mundo que conhecemos. A Princesa reinaria sobre a Terra, o mundo enfim seria um lugar de paz.
Infelizmente até hoje nenhum homem teve coragem suficiente para enfrentar e vencer a cobra grande. Devido a isso a Princesa, também o Rei Sabá continuam encantados e nos encantando na distante Amazônia.
