O Bebê, Protagonista do (In)consciente Parental

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Bebês vêm ao mundo entre sorrisos e lágrimas, expectativas e ansiedades, quando afortunadamente confirmam a união amorosa de seus genitores.

Outros não, poranto, vêm ao mundo em condições adversas, tanto de de rejeição, como de desunião, quiçá por descuido ou distração.

Por que engravidam os pais de seus filhos?

Todos os bebês trazem histórias ao nascer em seus psiquismos individuais, inscrições das representações primevas, ancestrais (e) da sua singularidade.

Os genitores os recebem já os tendo incluído em seus psiquismos nas fantasias conscientes e inconscientes do período gestacional – “o filho imaginário”.

No palco do berço, o bebê protagonizará o roteiro do romance dramático de seus pais

O cenário psíquico compartilhado pelos genitores será a referência para o recém-chegado em seu processo de desenvolvimento extra-uterino.

O seio, o materno e o familiar, lhe oferecerão a oportunidade de vivenciar ( ou não) sua “continuidade de ser”.

Ao chegar o novo “ente”, os genitores assumirão a função de pais, e os demais familiares, de “par entes”, do recém-nato, agora filho.

O Bebê, Protagonista do (In)consciente Parental

O nascimento de um filho conduz os pais a uma dramática ruptura no que diz respeito às suas realidades internas assim como externas.

No psiquismo parental são reativados conflitos transgeracionais que são projetados no recém-chegado, dando diferentes significações a este filho ao exercerem suas funções paternas e maternas

– desta interação emergirão os conflitos, as angústias e as dificuldades a serem atravessadas na jornada dos primeiros meses de vida, que pavimentarão os passos de toda a caminhada pela nova vida.

“Um bebê sozinho não existe”(Winnicott).

Será sobre esta “conflitiva parental”, e não nas individualidades de pai ou mãe que recairá o interesse e a intervenção psicoterápica, quando necessária.

No setting da psicoterapia mãe/bebê, o terapeuta observa as trocas comunicacionais e “escuta” a conflitiva com atenção flutuante, captando os elementos manifestos e latentes dos discursos verbais, pré-verbais e não verbais.

Sua atitude terapêutica será a de articular esses campos subjetivos.

Bertrand Cramer e Palasio Espassa consideram a etiopatogênese de muitos distúrbios infantis como a patologização dos conflitos dos pais.

Enfatizam que estes, nas comunicações inconscientes, patológicas ou não, serão sempre colocados em ato pela criança; e afirmam que “serão as regressões partilhadas pelos genitores, que favorecerão a emergência de identificações pela criança.

A terapia da tríade – pai/mãe/bebê, quando possível, objetiva reduzir essas projeções.

No psiquismo dos pais estão em jogo conflitos relacionados a sensações de vida e de morte na medida em que filhos têm vários significados na vida dos pais – Vida na medida em que filho significa situações de perpetuação, renascimento, encontro, movimento, aprendizado, energia, aventura e sentimentos de beleza, poesia, esperança, coragem, prazer, confiança, alegria, ousadia, transcendência, amor e Morte na medida em que filho representa situações de perda de liberdade, comodidade, posição infantil, irresponsabilidade e sentimentos de ambivalência, insegurança, dúvida, medo, frustração, ódio.

O Bebê, Protagonista do (In)consciente Parental

A criança será sintoma do ambiente psíquico parental e suas projeções.

Essa terapêutica será efetiva em crianças que de algum modo receberam cuidados primários de qualidade suficientemente boa e apresentam distúrbios funcionais, cuja origem pode ser encontrada (1) na transmissão de uma mensagem transgeracional; (2) na projeção de aspectos do self da mãe dissociados ou reprimidos no bebê; (3) no confronto do bebê real x bebê imaginário; (4) nas situações traumáticas para o bebê; (5) na impossiblidade dos pais de exercerem a função parental.

Cólicas, refluxo, choro inconsolável, irritabilidade, distúrbios alimentares e do sono, retardo na aquisição de habilidades – os bebês reagem com o corpo, devido a falta de um aparelho psíquico capaz de reagir em outro nível e dar uma significação simbólica a fatos e/ou situações traumáticas.

A intervenção conjunta genitores-bebês assinala rapidez nas modificações das interações na vivência da maternagem.

Esse olhar atento e escuta implicada, denotando atitude de respeito e acolhimento ao sofrimento desses genitores-bebês-pacientes, dando expressão aos dramas íntimos dos novos entes, tem efeito surpreendente.

Faz-nos pensar na magia de estar presente, empaticamente, na formação de um novo laço, mais saudável, felizmente.

Denise Espiúca Monteiro – Máe, Médica homeopata, pediatra e neonatologista, Mestre em Saúde Coletiva. Autora dos livros “Primeiros Laços – Maternidade, Maternagem e Homeopatia”, e “O que você vai ser quando crescer? Abordagem Homeopática da Infância”, pela Editora H.P. Comunicação.




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Denise Espiuca

Denise Espiúca Monteiro Médica Homeopata, Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina Social/UERJ. Diretora do Ambulatório Escola do IHB, A Casa da Homeopatia Brasileira. Escritora, ocupa a cadeira 25 da ABRAMES, Academia Brasileira de Médicos Escritores. Email: despiuca@dh.com.br

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